sábado, 28 de janeiro de 2017

DEPOIS DA FESTA



É preciso, pelo menos uma vez na vida, 
ser o último a deixar a festa... 
Dispensar os convidados antes de chegar a aurora. 
Exorcizar os aposentos com galhinhos de arruda. 
Desligar o som, fechar janelas e cortinas, 
desenlaçar os reposteiros, 
varrer da memória a algazarra das crianças 
na calçada... 
Dissipar o perfume das adolescentes. 
Dispensar as frivolidades dos últimos abraços. 
Recolocar no jarro aquela rosa 
que esqueceram sobre a mesa. 
E, finalmente, quando a noite 
trouxer de volta o silêncio numeroso, 
apagar definitivamente a luz... 
Depois dormir... 
Sonhar... 
Despertar... 
Viver... Viver...
Depois dormir... 
E morrer... Como quem morre
definitivamente... 
Para não incomodar 
ninguém...

Afonso Estebanez

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