domingo, 4 de maio de 2014

‘DOCEPOEMA’: UM TRIBUTO A CORA CORALINA

‘DOCEPOEMA’:
UM TRIBUTO A CORA CORALINA

Eu sou o amor fiel das coisas simples
das conversas da brisa com a aurora.
Os realces dos brilhos sem requintes
que há nos rubis dos brincos
das amoras...
E eu sou a flor servil daqueles pomos
que saciam os sonhos das quimeras,
os frutos de verão dos meus outonos
entre o último estio
e as primaveras...
Guardo no corpo de jardins agrestes
as linhas de um poema à flor da pele
escrito pelas mãos do amor silvestre
para que em mim o amor
mais se revele...
Fiz com saudade a ponte da subida
deixei rosas na encosta das colinas.
Com coisas simples confeitei a vida
na doce lida de ser
Cora Coralina...

Afonso Estebanez
(Dedicado à comunidade *Poemas à Flor
da Pele* - Ger. Poetisa Soninha Porto/BR)

DEUS GUARDA MINHA CANÇÃO

DEUS GUARDA MINHA CANÇÃO

Eu existo porque canto.
Nada sei, senão cantar...
Encanto por desencanto
ou canto para encantar.

Tenho a alma das violas
nas danças de desfastio
e beijos de castanholas
nas horas de meu estio...

É acalanto quando calo
como flauta sussurrada
no canto mudo do galo
que perdeu a alvorada...

É mudez do vasto espanto
de ver tanto amanhecer...
Não é mágoa nem é pranto
mas o encanto de nascer.

Eu trago memórias fartas
das almas dos bandolins
das guitarras e das harpas
dos corais dos querubins...

Não é magia nem fado
o louvor que me conduz
pelas veredas do prado
dos rebanhos de Jesus...

Afonso Estebanez

DESENCONTRO

DESENCONTRO

Foi do esperado
que o ter perdido
me fez ter sido
desesperado.

O ter perdido
foi de viver
do haver morrido...

O ter vivido
foi de morrer
de haver sonhado.

Foi do encontrado
que o ter vivido
me fez ter sido
desencontrado...

Afonso Estebanez

CONFISSÃO

CONFISSÃO

Feliz de mim quando tu vens
ao confessionário do meu coração
falar do amor que ainda me tens
onde perdestes tua própria alma
num labirinto de solidão...

Louvores ao amor que te absolve
e te devolve a paz e a luz e a calma
sempre que lhe dás a oportunidade
de reencontrar a tua alma...

Bem-aventuradas são as almas
que confessam seu amor perdido
do qual nunca se perderam...

É preciso viver para perder-se
o quanto é necessário perder-se
para se encontrar na solidão...

Bem-aventuradas as nossas almas
separadas... Eis porque juntas,
jamais se perderão...

Afonso Estebanez


COMO ENTRE GIRASSÓIS

COMO ENTRE GIRASSÓIS

Devo morrer de lágrima de encanto 
não quando toda dor tenha cessado
mas enquanto for pena todo pranto 
e o meu amor um canto inacabado.

A vida às vezes cruza o desencanto
com um sonho por vezes sepultado
mas deste luto é que se faz o canto
depois de tudo pronto e terminado.

Ninguém pode olvidar os pesadelos 
razões dos fios brancos dos cabelos 
ocultos entre as dobras dos lençóis. 

Eis neles vão os sonhos docemente
morrendo como morre o sol poente
no horizonte do olhar dos girassóis.

Afonso Estebanez