segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

POEMA ESCRITO NO CHÃO (ou soneto dos quinze anos)

UMA CANÇÃO PARA MATHËUS

UMA CANÇÃO PARA MATHËUS

Tu vens do amor divino que te espelha
num concerto de cânticos que acalma
meus inquietos crepúsculos de estrelas
que adormeceram na constelação
da alma...

Vens do anjo mensageiro que me avisa
– o senhor ancestral de meu segredo –
que teu ser múltiplo me traz na brisa
o sangue em que percorres meu amor
sem medo...

Sabes de mim como do mar o vento
como sabe os destinos o horizonte
do barqueiro... De meu contentamento
de ser ilha onde sonha o meu infante
marinheiro...

Tu vens do lado claro de meu ser
como um sonho remido de criança...
Quantas e quantas eras me restei
vivendo por viver no itinerário
da esperança...

Mas veio da canção que não se cala
na flauta o que não fala é o que me diz
e o que me diz é feito do mais terno
amor do jeito eterno do meu lado
mais feliz...

A. Estebanez

SER AMANTE...

SER AMANTE...

É esquecer o amor habitualmente aberto
a fim de que ela volte sempre que quiser
e tire essa impressão de coração deserto
que jaz inerte pelo amor de uma mulher.

Essa saudade que se dói ainda que perto
ou que por hábito se alegra quando quer
é essa euforia à toa num destino incerto
como a brisa que passa e volta se puder.

Ser amante é doar sem precisar de nada
como doa a manhã o abraço da alvorada
ao novo dia onde a esperança vai passar

tal como o vinho faz um cio permanente
para o prazer fluir dos vasos docemente
até que se prepare o amor para chegar.


A. Estebanez

MEU PLANETA HABITÁVEL



Pelo menos uma vez na vida
permito que meu coração avesso
seja o único planeta habitável
da via-láctea farta de mim...

Deixo encostado o portão do meu jardim
e entro em casa pelos fundos de minha alma
para não sujar o tapete da porta de entrada
preparado para quando chegar a primavera...

Todo amor começa com a espera...
E enquanto você não chega,
faço do instante mais eterno
o mais breve momento
de você chegar...

Não importa se demorar...
A certeza me é o bastante
e você me vem em pensamento
antes mesmo de você chegar...

Afonso Estebanez

DOCE ASFIXIA DE AMOR


Ah, se te houvesse padecer o quanto
do tanto que esse amor desesperado
padeceu-me de enfado e desencanto
como um beijo nos lábios sepultado.

Ah, se me houvesse redimir o pranto
do tanto que te amei sem ter amado
em padecendo em ti morrendo tanto
como o canto de um pássaro calado.

O amor que me asfixia de esperança
também se cala e em ti retine mudo
como sino a tanger sem ressonância.

Ah, não te fora o místico ‘contudo’...
Eu perdoaria o ‘mas’ da intolerância.
E meu amor, sem ‘mas’, seria tudo!

Afonso Estebanez
(Dedicado a Maria Magali de Oliveira
– fiel companheira de jornada)

CANÇÃO RITMADA


Não basta ser uma pétala,
é preciso ser a flor: a face
do lírio é a parte desperta
da face da aurora coberta
de partes da festa da flor.

Não basta o flerte da rosa
sem a volúpia da flor: ser
uma rosa é ser uma fome
desse amor que consome
e vive em nome do amor.

Não basta uma ideologia,
é urgente que haja amor:
o amor doido fado magia
profundo como uma rosa
e simples como uma flor.

Afonso Estebanez
(Dedicado a Rosa Matilde Rodrigues Mello
– minha doce “RosaMel”)

ALLEGRO MA NON TROPPO


Fica a paz de um canto triste
dos riachos que vão embora,
vem a tarde e o canto insiste
nos meus ouvidos de aurora.

Resta uma chama encostada
numa sombra sem memória,
fica a noite e um quase nada
do que fora a minha história.

Não sou mais aquela infância
debruçada em teus terraços.
Vais!... E deixas a Esperança
desmaiada nos meus braços.

O homem nasce e vira glória
quando é pedra e vira a flor:
Deus então mais comemora
quando é barro e vira amor.

Afonso Estebanez

ALLEGRO MA NON TROPPO

Fica a paz de um canto triste
dos riachos que vão embora,
vem a tarde e o canto insiste
nos meus ouvidos de aurora.

Resta uma chama encostada
numa sombra sem memória,
fica a noite e um quase nada
do que fora a minha história.

Não sou mais aquela infância
debruçada em teus terraços.
Vais!... E deixas a Esperança
desmaiada nos meus braços.

O homem nasce e vira glória
quando é pedra e vira a flor:
Deus então mais comemora
quando é barro e vira amor.

Afonso Estebanez

NOTURNO PARA MAYSA


NOTURNO PARA MAYSA

Esta ausência não te cala
somente migra a canção:
como a brisa adormecida
entre pétalas de mágoas
da nascente dos sorrisos
num paraíso de lágrimas.

Tua ausência não se cala
somente migra a paixão:
é a luz brilhando deitada
feito sombra despertada
aguardando a esperança
com saudade da canção.

Tua ausência não se cala
como as páginas viradas
das histórias esquecidas
tal meu coração me diz:
toda ausência só se cala
se o amor for mais feliz.

Afonso Estebanez

AMIZADE - FLOR DE ESPERANÇA


Sou louco que acredita em esperança.
Sou as sístoles e diástoles das ilusões.
Reflito luzes das auroras impossíveis
reabrindo janelas azuis nos corações...

Tu me entranhas de bênçãos e divino
bafejo de ternura suave e comovente...
Exorcizas meus sonhos de fantasmas
como anjo que me fala complacente.

E és como um luminar sem sombras
abrindo portas trancadas pelo tempo.
Ave o amor que tira dos escombros
meu pássaro cantor sem banimento...

Cúmplice do bem que trago n’alma
e testemunha transitiva da memória!
Podes vir! Tua mão é minha palma
nos escritos de minha vaga história...

A. Estebanez
(Poema dedicado a Kênia Bastos)

AMOR SAPIENS - (Cena I)

Sinto por ti
o instinto selvagem dos rios
que percorrem a orla dos campos
e se perdem nas densas florestas
como reflexos do sexo no corpo.

Por mais que tu insistas
em desvendar o curso de minhas águas
jamais saberás onde cantam as nascentes
nem onde arrulham os seixos das fontes
nem onde as vertentes
conversam com o vento...

Nunca saberás do meu concerto de flautas
nos bambuzais nem dos bailes nas ramagens
onde os pássaros inventam
a linguagem do amor...

Nem de onde vem nem para onde vai
a brisa que te afaga sem que te percebas
cativa de uma paixão pressentida...
Mas te resta a memória perdida
entre as cinzas de uma flor...

A. Estebanez

AMOR SAPIENS - (Cena II)

Por mais que tentes abrir as janelas
de minha vida, não verás senão fragmentos
de antigas auroras no crepúsculo de mim...
Ou de estrelas cadentes que se removeram
da via-láctea de meu destino desdobrado
em direção a horizonte nenhum...

Tudo o que sabes de mim
é o que pensas que sabes de mim.
Se me tiras o que te não dou, tiras somente
aquilo com que ficas. E o que tiras não é o amor
que permanece como o eco sufocado
na garganta da montanha...

Não podes tirar-me esse amor andarilho
que vaga noite e dia no meu vasto coração.
Não podes tomá-lo de meu peito!
Eu sou parte da comunhão dos pássaros
que tu apenas sabes de algum tempo
e nada mais...

Eu sou o reencontro
e sou o desencontro
e sou aonde vais...

A. Estebanez

AMOR SAPIENS - (Cena III)

Vejo as flores se abrindo para o sol
e as sombras que as acolhem, nada mais.
E falo com as reses à beira do caminho
e converso com as árvores e o vento
que me respondem quando passo
e os cumprimento...

É por ti, mas não de ti
esse pressentimento de estar em mim
um pastor de sonhos que se realizam
na canção de um regato entre folhagens
na pequenina flor cativa de um abismo
ou no múltiplo instante da germinação
das orquídeas que ornam meu jardim...

O que levas de mim não está naquilo
que tuas mãos alcançam!
E o que tuas mãos alcançam não está
na ânsia de alcançar...O que não levas
de mim é o que está consubstanciado
no incógnito perfume de uma sombra
ou no código não decifrado na memória
da arrebentação da brisa nos canaviais
ou dos sonhos que de manhã
já não te lembras mais...

A. Estebanez

AMOR SAPIENS - (Cena IV)

Não é verdade o que te dizem
as palavras que eu te não disse.
O travesseiro que à noite dividimos
não guarda vestígios de meus sonhos emigrados.
Por trás de cada porta devassada de meu sono
há sempre outra ainda não ultrapassada
como horizontes sucessivos das manhãs
que o sol deixa intocadas...

E tu me amas como tens amado
a todos os teus amores através de mim...
Então eu sou o cordeiro de tuas culpas,
remidas na ternura onde germinam as sementes
que meus impulsos desesperados derramam
nas veredas secretas de tuas pastagens
de amor comprometido...

Tu me acolhes em tuas entranhas
e eu me vejo renascer num pomar de romãs
onde o canteiro de teu sangue ameniza
com flores de antecipada primavera
o outono de meu sonho não cumprido...

A. Estebanez

AMOR SAPIENS - (Cena V)

... E no entanto, sei tudo de ti
como sei de teus segredos obscuros
revelados através da escura sombra
de teus amotinados pesadelos...
Com quem andas, com quem te perdes
com quem te encontras
para te desencontrar...

Sei tudo de ti...
Como a luz do sol o sabe de sua flor
oculta em cada canto do jardim...

O meu amor contudo
é como o gamo assustado
que sempre procura o abrigo
nos bosques de teu ventre...
Ô, alcova que me aquece!

Vencido o imenso vale da noite,
emigrará nos claros raios da aurora
deixando a relva quente e macia
como lembrança de um sonho
que o tempo adormece...

A. Estebanez