quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

CANÇÃO DE KÉDMA


A Kédma chegou-me aqui
do lado esquerdo do peito
e deixou-me uma canção.
Foi tão suave o que ouvi:
o canto do amor-perfeito
entre o peito e o coração.

Nem precisei entendê-la!
Era a voz do cancioneiro
que há nas harpas do luar.
Foi o dom de conhecê-la
e a canção do jardineiro
que escuta a rosa cantar.

E ela é tão doce e louçã
como a fada concebida
no perfume do jasmim.
Kédma acorda de manhã
como quem entra na vida 
pela porta de um jardim.

Docemente me convida
pra viver dentro de mim.

Afonso Estebanez
O JULGAMENTO

Submetido ao látego do julgamento 
aquele homem prestava depoimento 
sobre tudo o que sabia sobre a vida.
Falou de fé e esperança e caridade,
falou de fraternidade e de felicidade 
e dos ideais de solidariedade humana.
E não havendo mais do que falar,
calou-se como ave que cai do céu...

E recebeu então a cruel indiferença 
como sentença irrecorrível dos mortos.
De repente aquele homem tão simples
pôs-se a falar a falar a falar e a falar
COISAS DE AMOR como quem cria 
na remota possibilidade dos milagres.

E aquele tribunal acabou acreditando
nele porque falou do que nem sabia. 
E aquela foi a única vez em sua vida
que aquele homem falou de amor
com infinita sabedoria...

Julis Calderon d'Estéfan
(Heterônimo de Afonso Estebanez)