segunda-feira, 31 de outubro de 2016

ROSAS DO SUL



Repousei minhas rosas andarilhas
numa ilha de agaves sem encanto
um deserto enfeitado de gravilhas
em vias de morrer de desencanto.



Com amor infinito a flor-do-campo 
abraçou minhas rosas como filhas
do pólen que gerou o terno canto 
do pranto ritmado em redondilhas.



Enquanto havia pausa obrigatória,
julgava que estivesse na memória
esse destino de seguir em frente.



Não só! Eu sou o espírito da rosa
que exalta essa paixão misteriosa
que por amor revive para sempre!



Afonso Estebanez – 03.11.2014
(Dedicado a Maria Madalena Cigarán – a Dama das Rosas
tintas de vinho e sangue da extrema liberdade concebida!).
CICATRIZES
Perdi de há muito a última quimera.
Jaz no relógio o outono que passou,
nem mais sinto sinais de primavera
nos desertos do inverno que restou.
A esperança não é nenhuma espera,
o horizonte é distante de onde estou
como a morte que não se desespera
insepulta a esperar por quem ficou.
Das cicatrizes ficam-me as ternuras
das paixões suavemente ressentidas
de pecados de amor não cometidos.
Só Deus sabe de quantas amarguras
hei me restar sangrando sem feridas
dos funerais de sonhos não vividos.
Afonso Estebanez – 20-06-2016
NUMEROSO AMOR


Ah, numeroso amor de que padeço
que me conta mistérios sobre mim...
Ô, enigma! princípio sem começo
destino que termina e não tem fim...

Amor que apraz e dói! amor avesso
que assim se exaure e se refaz assim
morrendo de viver por quem mereço
na volúpia de crer que é amor afim...

Flor de lótus de deuses consagrados
nos desígnios dos bem-aventurados
de alma pronta na vida já completa.

É deusa quem me dá o dom divino
de confirmar nas cartas do destino
o carisma do amor que me liberta...

Afonso Estebanez
(Soneto dedicado a Maria Madalena

Cigarán Schuck)
LA CUISINE EN FLEUR




Pega as rosas do ciúme
e os espinhos do jardim
e os refoga no perfume
dos ramitos de alecrim...

Coração ao fogo brando
para a alma me aquecer
vai em breve refogando
meus desejos de viver...

Espera chegar ao ponto
em que a liga dê prazer
onde tudo seja encanto
pelo encanto de viver...

E de noite à luz da vela
em cada prato uma flor
eu tomo dos lábios dela
um sobrebeijo de amor...

Afonso Estebanez
(Poema dedicado à generosa
Conceição Bentes) – 20/04/08) 
BALADA PARA ZILDA ARNS





Hoje eu poderia morrer por tua causa 
eu poderia até morrer de amor por ti.
Mas teu amor aflito me dá uma pausa 
para morrer de amor maior por Haiti.

Só uma dor profunda sente tanta dor
maior que todo sofrimento que senti:
é a solidão da morte de não ter amor
o new apocalypse que varreu o Haiti. 

Nós hoje poderíamos mudar o sonho
eu a dogmática verdade que aprendi
e tu a biografia obscura do medonho
apartaid racial que segregou o Haiti.

Hoje eu deveria viver por uma causa
que celebrasse a glória de viver aqui.
Porém a dor é tanta que parece rosa
sob os escombros ardilosos do Haiti.

Afonso Estebanez
AMOR SEM CULPAS



Pensei já haver esquecido
ter sido eterno o momento
meu tempo de amor vivido
com o teu no pensamento.

Restou comigo um sentido
de ouvir a canção do vento
dizendo-me haver perdido
o amor na curva do tempo.

Mas tu fostes-me uma flor
e mesmo sem te dar nada
eu ganhei tuas desculpas.

Assim eu te amo sem dor:
de alma só, porém lavada
de todas aquelas culpas...

Afonso Estebanez
(Dedicado carinhosamente à amiga
Maria Augusta Maurício Cesar
– a nossa “Fada do Amor”)
HENDECASSILABITÁLICO



De amor meus crepúsculos tintos de vinho
Torrente de escombros de eu n’eles chorar
Que sofra eu de n’eles andar sem caminho
Ou moyr'eu, Senhor, por me d'eles deixar.

Meu canto noturno é de algum passarinho
Que a aurora me traz se a saudade chegar
Com rosas despidas de dor ou de espinho
Ou moyr'eu, Senhor, por vos n'elas amar.

Em nome do amor hei vencido meu vício
Purgado em esfera onde o meu sacrifício
Foi moyr'eu, Senhor, por me d'eles remir.

Não tenho um jazigo de sonhos passados
Só portas de entrada de amores deixados
Pois moyr'eu, Senhor, se me d'eles partir.

Afonso Estebanez Stael
(Em poema dedicado ao meu V:. Ir:. e notável
advogado gaúcho Pedro Danilo, de passagem
pela verdejante Porto Alegre/RS,
em memorável primavera de 2013)

E O VENTO NÃO LEVOU...


Minha primeira letra do alfabeto grego
o princípio do amor das aulas de latim
o beta do bendito beijo no aconchego
do primeiro capítulo do amor de mim. 

O ciúme que de ti eu tenho por tolice,
a ponto de me declarar em guerra fria
e pôr no dia da batalha uma meiguice
que faça a minha noite clarear teu dia. 

E o vento não levou a lucidez da pena
que pago como por dever de gratidão 
pelo fato de não ter sido tão pequena
tua herança terrena havida do perdão

que o vento não levou e nunca levaria
da memória da vida agora despertada
do destino capaz de ouvir da ventania
a paz da sinfonia eterna da alvorada...

Afonso Estebanez
(Poema dedicado à poetisa brasileira
Genaura Tormin – com meu carinho)




ANIVERSÁRIO


Hoje eu quero de presente
as perdas que nós tivemos
daquele encontro marcado
a que não comparecemos.

As marcas dos nossos pés
naquela estrada impedida,
os rumos daqueles passos
que jamais demos na vida.

O sonho que nem tivemos
e o que temos sem querer
ao acordarmos de sonhos
que sonhamos sem saber.

Ternuras para o consumo
das nossas almas abertas
ao instinto mais profundo 
de nossas vidas desertas.

Ô! rosa que não me deste
esta flor ausente em mim
ô! o crepúsculo apagando
tão cedo no meu jardim...

Afonso Estebanez