sábado, 21 de janeiro de 2017

MEESTRIA A LEONORA DE PROENÇA
(Cantiga de Amigo)



Um dia brisa no campo
um dia a asa no vento
enviei meu pensamento
ferido de desencanto...

Leonora, Leonora,
ess’amor assi non fora
qu’outro bem me fora tanto?

Uma vez brisa soprada
uma vez asa partida
minha ilusão tam velida
voará desencontrada...

Leonora, min tormenta!
Non torn’ess’amor qu’eu senta
em coita tam desamada...

Leonora, eu cuidaria
desse amor com tal desvelo
qu’outro bem pra merecê-lo
de ser mor que o meu teria.

Mays se vós visseis, Senhor,
com tal coita mia dor,
dess’amor vos morreria...

Quanto mais a dor doesse
mais esse amor veveria...

Afonso Estebanez
(Do livro Antologia Poética do
Grupo Salina de Niterói – 1969)
ONDE VIVEM AS CANTIGAS



Preciso de que me fales
onde guardas o silêncio
o mistério guarda onde 
os segredos do relento
e na brisa destes vales
preciso de que me fales
das horas de desalento

e que luz veio do olhar
onde vive o teu silêncio
no segredo da alvorada
da brisa solta no vento
é preciso que me digas
onde vivem as cantigas
já perdidas pelo tempo

será no choro dos rios
nas flautas anoitecidas
nas ameias das garoas 
na saudade da partida
é preciso que aconteça
e o amor ainda mereça
retornar à minha vida.

Afonso Estebanez
(Poema dedicado à poetisa 
Clau Assi )