quinta-feira, 20 de março de 2014

BALADA PARA ZILDA ARNS

BALADA PARA ZILDA ARNS

Hoje eu poderia morrer por tua causa 
eu poderia até morrer de amor por ti.
Mas teu amor aflito me dá uma pausa 
para morrer de amor maior por Haiti.

Só uma dor profunda sente tanta dor
maior que todo sofrimento que senti:
é a solidão da morte de não ter amor
o new apocalypse que varreu o Haiti. 

Nós hoje poderíamos mudar o sonho
eu a dogmática verdade que aprendi
e tu a biografia obscura do medonho
apartaid racial que segregou o Haiti.

Hoje eu deveria viver por uma causa
que celebrasse a glória de viver aqui.
Porém a dor é tanta que parece rosa
sob os escombros ardilosos do Haiti.

Afonso Estebanez  

sábado, 8 de março de 2014

MARIANA

MARIANA

Do quarto de Mariana
(Mariana a empregada)
não levarei esta santa
na parede pendurada...

Nem aquela falecida
rancorosa do pecado
nem aquela pecadora
de desejo hipotecado...

Levarei o retrato 3x4 de Mariana,
a que foi mártir muito mais
do que todas essas santas
funcionárias da religião...

A que entregou a própria carne
ao martírio de todos os pecados
e sofreu a calúnia pelos que não cometeu...
Malgrado o tudo
o porém contudo
o nada sobretudo
do insensível eu...

Mariana também fez um milagre:
um homem amava Mariana...
(O nome dele era o meu!).

Afonso Estebanez

PELO AMOR DE UMA MULHER

PELO AMOR DE UMA MULHER

Tolice minha não acreditar que um dia
amar-te novamente não me fora dado
pois se do teu amor o meu amor vivia
nem a morte teria o meu amor levado.

Ainda tenho no rosto a plácida alegria
da luz do meu amor na face renovado
como num sonho retornado da magia
do amor eterno que julgavas acabado.

Agora estou aqui de cinzas renascido
refém da íntima tortura de estar vivo
cativo desse sim enquanto dizes não.

Mas inda jaz o amor no fio do sentido
de tudo que liberta inda me faz cativo
assim como inda vivo do teu coração!

Afonso Estebanez


CANTIGA PARA RITA MALUCA

CANTIGA PARA RITA MALUCA

Trazia uma flor na boca
um beijo amargo na mão
um anjo vesgo no corpo
no silêncio uma canção
como flauta ressurgida
da memória adormecida
nas masmorras da razão...

Calava, mas seus desejos
quando deuses rebelados
abriam seus lábios mudos
com segredos revelados
invadindo seus destinos
como barcos clandestinos
por mares não navegados...

Como escrava, era rainha.
Quando livre, era cativa...
De seu olhar despontava
a luz da aurora indecisa...
Sonho perdido nos passos
e nos braços sem abraços
uma esperança imprecisa....

E só amava em desvarios
sem prazer nem amargura
como quem amava além
da razão que há na loucura...
E vencia os seus mistérios
entregando seus impérios
por um resto de ternura!

Afonso Estebanez


CANTIGA PARA LUÍSA M. A.


CANTIGA PARA LUÍSA M. A.


Tu podes trazer saudades
das estrelas de onde vens
das rosas que só tu sabes
do universo de teus bens.

São rosas de nosso amor
desse amor que já o tens
e o perfume de uma flor
do berçário de teus bens.

Uma estrela mensageira
via-luz de onde provéns.
Uma aurora medianeira
como fonte de teus bens.

Fonte mística do ventre
cálido orvalho da brisa
e uma rosa para sempre
no amanhecer de Luísa.

Tu podes trazer saudade
da morada de onde vens
também toda a claridade
da alvorada de teus bens.

Afonso Estebanez


DA ALMA FEMININA

DA ALMA FEMININA

Deixa a alma espalhar-se pelo vento
deixa o tempo perder-te onde quiser
deixa a brisa seguir teu pensamento
e a menina encontrar-se na mulher.

Aos látegos do mar o sonho acalma
aos espinhos do só o bem-me-quer
se tu ficas no campo e pões a alma
naquela rosa em que te vês mulher.

Perder-me em ti o teu amor ensina
e tanto vou perder-me onde puder
o quanto houver tua alma feminina
de ser deusa com alma de mulher.

Afonso Estebanez