segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

FELIZ ANO NOVO

Ano novo deve ser apenas um novo ano
daquele velho motivo que todos os anos
faz a gente pensar que este ano vai ser
feliz... Mas ainda é o velho tema...

Apenas sensação de permitir que sonhos
mortos enterrem os seus sonhos mortos,
enquanto a gente desperta antigas rosas
das que ainda permanecem adormecidas
nas páginas jamais abertas do jardim...

E nada de brincar de novos sofrimentos.
Ainda há muita amargura que necessita
de um funeral compatível com a liturgia
da cura pelos perdões não concedidos...

Então, depois de removida tanta pedra
desses túmulos todo ano reinventados,
a gente deseja apenas que o ano velho
acompanhe este ano novo no momento
de entrar pelas soleiras do coração...

Sementes de amor numa das mãos
e uma flor despojada dos espinhos
na outra mão...

A. Estebanez

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

FACES DA LIBERDADE

Perder a sensação de ver a luz.
O jeito certo de viver por mim.
Ou perder os lugares onde pus
o meu direito de pensar assim.

O mundo é isso aí: amor e cruz
e vaidades na torre de marfim!
Da liberdade apenas nos seduz
esse canto de rosas no jardim.

Perder momentos de felicidade
é não ouvir cantar a primavera
na brisa fria da razão sem voz.

E se dá por perdida a liberdade
se o medo de viver virar a fera
que se regala de viver por nós.

Afonso Estebanez
(Dedicado ao notável poeta e amigo
Manoel Virgílio Pimentel Côrtes)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

NESTE NATAL...

Não deixes de mandar-me rosas
só por causa dos seus espinhos!
Entre as que são mais dolorosas
há intervalos para os carinhos...

Sei que às vezes são espinhosas
as bromélias de meus caminhos!
Mas não me prives de tuas rosas
só por causa dos seus espinhos!

Hoje eu quero rosas vermelhas,
rosas rubras como as centelhas
das chamas da lareira em paz...

Ah, e eu também te envio rosas
dentre tantas as mais formosas
do bem que o teu amor me faz!

Afonso Estebanez
(Natal de 2009)

MEMÓRIA DE PAQUETÁ (Improviso)

Paquetá é como um sonho
que não quis mais acordar
das alfombras do rebanho
das ondas verdes do mar.

Se não for sonho, acredito
que um dia eu vivi por lá...
Ou então é o meu espírito
por quem sonha Paquetá.

As canções dos arvoredos
repousam no pensamento
como se fossem segredos
de amores daquele tempo.

Mesmo eu estando por lá
a saudade ainda me vem
como a sombra do baobá
no caminho de meu bem.

Me vens de alma iluminada
como as vestes de uma flor
não dependo de mais nada
senão do encanto do amor.

São praias das moreninhas
que nas marés do teu olhar
carregam saudades minhas
em que tu vens te banhar...

Afonso Estebanez
(Dedicado com carinho à doce
amiga Ana Luiza nesta viagem
à Paquetá - A Ilha da Poesia)

AUSÊNCIA DEFENSIVA

Estou sempre em qualquer lugar
onde eu penso sem pensamento
porque o tempo passa no tempo
sem que o sonho possa esperar.

Estou sempre em qualquer lugar
onde o pranto chora sem mágoa
murmuram os riachos sem água
navegam meus barcos sem mar.

Estou sempre em qualquer lugar
onde os jardins crescem abertos
sem sucumbir como os desertos
onde ninguém vai me encontrar.

Estou sempre em qualquer lugar
despertando as minhas ternuras
dentre as pedras das amarguras
que me lançam querendo amar.

Afonso Estebanez

O AMOR E O TALMUDE

Meu amor, ser feliz é quando olhamos
para o passado e não sentimos remorso
do que fomos.

Teremos vivido de amor – o pão e o vinho
com que celebramos a volta e o recomeço
dos percursos breves desta vida.

E ainda que te sintas vencida pelo cansaço
da distância percorrida entre a luxúria
e o arrependimento dos fracassos,
regressa outra vez à nossa casa
– ao menos até a metade do caminho
restaurado dos sonhos em pedaços...

A outra metade,
eu te carregarei entoando salmos
na carruagem de plumas
de meus braços...

Afonso Estebanez & Julis Calderón

PRÓLOGO & EPÍLOGO

Nascer não é ser a verdade.
Nascer é apenas a memória
do epílogo de nossa história
num prólogo de eternidade.

Viver não é não ter morrido.
Viver é apenas um profundo
e efêmero passar no mundo
sem precisar ser percebido.

Morrer não é não viver mais.
Morrer é a solidão da espera
num lugar onde a primavera
não nos acorda nunca mais.

Afonso Estebanez

MORRI...

Morri...
O sonho dormiu demais
e não viu as primaveras
passarem nos roseirais.

Morri...
Morri de amores banais
e de saudade de tantos
não vividos nunca mais.

Morri...
Sonhei os sonhos da lua
ou vivi entre as estrelas
das poças d’água da rua.

Morri...
Mas se a vida continua,
foste começo da minha
e eu fui começo da tua.

Afonso Estebanez

ELEGIA PARA MEU AMOR

A manhã me deu em brisa
a brisa me deu em quanto
deu-me a tu’alma indecisa
os sonhos do teu encanto.

O dia deu-me em ventoso
e a tarde deu-me chuvosa
a noite nos deu num gozo
como o pólen deu na rosa.

E a vida me deu em parte
tudo o que em parte ficou
pelo amor que me reparte
entre as partes que levou.

Tudo aqui dá em saudade
como a saudade do vento
que me excita a liberdade
de viver em pensamento.

Afonso Estebanez

DESPEDIDA

Se tu fores embora
amada,
não me digas nada
para que a saudade
tome o lugar
do susto
de te haver perdido.

Perder é o coração
ferido
saudade
é o coração
doído...

A. Estebanez

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

SORRISO DE MULHER


Há sorrisos que são
muralhas de palavras
represadas por um
tratado de mordaça
que inibe o amor com
as linguodentais da trava
da liberdade simples
de sorrir por graça...

Mas teu sorriso como
a luz das alvas conchas
abraçadas no suave
encontro das marés
é algo como um brilho
com que me encantas:
as pétalas de rosas brancas
entre os lábios da mulher...

Afonso Estebanez
(Dedicado a Sonia Regina de Souza Braulio
– Poeta *Soninha BB* no mundo literário)

domingo, 22 de novembro de 2009

TERCEIRA ROSA DO ORIENTE

TERCEIRA ROSA DO ORIENTE

Ô, insensatez humana convencer as rosas
de que das rosas todo o tema se esgotou!
Quantos mistérios há nas faces luminosas
das rosas da manhã que ainda não raiou...

As rosas são dotadas de almas poderosas
que o escultor das primaveras reinventou
num paradoxo de impressões prodigiosas
tal retocar a flor que Deus não terminou.

Eu canto as rosas que replanto no jardim
as desfolhadas pelas frias mãos do vento
que feneceram de ser uma flor qualquer.

Eu canto a rosa do último poeta em mim
a que folheia o livro do meu pensamento
e sangra por amor no ventre da mulher!

Afonso Estebanez

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

SEGUNDA ROSA DO ORIENTE

Não vejo o dia de chegar o tempo
em que de rosas seja toda espera
como nos dias em que fico atento
e invento rosas para a primavera.

Não há deleites a não ser o alento
de ver o tempo regressar com ela
da doce esfera do contentamento
ao venturoso amor que regenera.

O amor da rosa que virá semente
do meu jardim secreto do oriente
para os canteiros rústicos do mar.

Talvez a vida seja o mar de rosas
que a despeito das vias arenosas
não se ferem nas pedras do luar.

Afonso Estebanez

SEGUNDA ROSA DO ORIENTE

PRIMEIRA ROSA DO ORIENTE

Há milênios construo entre ternuras
uma estrada de rosas que inauguras
em cada amanhecer de minha vida...

Assim, então, jamais sequei deserto
eis do teu sonho nunca me desperto
a não te ver ausente e adormecida...

Do Oriente ao Ocidente teu perfume
foi sempre a via etérea afeita e afim:
ao teu destino de ser meu queixume
em meus destinos de ser teu jardim.

Jardim da aurora que me fez a lume
lume da rosa de teu ventre em mim:
Rosa do Oriente que o amor resume
no amor das rosas com amor assim!

Afonso Estebanez

PRIMEIRA ROSA DO ORIENTE

sábado, 14 de novembro de 2009

RANCORAMOROSAMENTE

Se tiveres que passar
pela porta de minha vida,
não o faças indiferentemente.
Faze-o rancoramorosamente
e deixa-me algo que pareça paz
ou coisa menos ou mais eterna
do que a aurora de um sorriso.
Se for uma hora de despedida
que seja vestida com a ternura
do arco-iris de purpurina
do colo de uma flor.

Deixa-me alguma coisa
como lembrança de partida.
Se possível, deixa-me o amor
martirizado pelo espinho
da extrema felicidade
com que (não mintas)
sempre sonhei.

Pelo tamanho da minha dor
talvez tu sintas o tamanho
do amor com que te amei...

Afonso Estebanez

MEU SER EM CONSTRUÇÃO

Os meus sonhos de criança
(andorinhas das campinas)
eu deixei na minha infância
entre as pedras das colinas
mas ficou o contentamento
de lembrar da voz do vento
nos bailados das cortinas...

De mim mesmo o lavrador
fui como o cabo da enxada
cujo horizonte era o chão.
Fui meu próprio professor,
e aprendi que toda escada
tem os passos da alvorada
para o ser em construção.

Aprendi a escrever versos
e a espalhar o azul no céu
feliz dos sonhos dispersos
entre as nuvens de papel.
Deus então fica com pena
e me sopra algum poema
com gosto de flor de mel.

Afonso Estebanez
(Para Julis Calderón d’Estéfan
*a minha mais feliz contradição humana*)

CORPO A CORPO

Na escalada de teu corpo
bem no cume das colinas
me descanso no conforto
com que tu me desatinas
num abismo de cavernas
com orifícios em chamas
nas profundezas eternas
onde sei que tu me amas
e que escalas minha vida
como flores transalpinas
como quem espera a lida
nas janelas das neblinas.

Afonso Estebanez

Canto Só

Canto Só
Chorei tanto
desencanto
que o canto
só por pena
se espantou
e do pranto
pelo quanto
por encanto
toda a pena
me levou...

Afonso Estebanez

CANÇÃO RITMADA

Não basta ser uma pétala,
é preciso ser a flor: a face
do lírio é a parte desperta
da face da aurora coberta
de partes da festa da flor.

Não basta o flerte da rosa
sem a volúpia da flor: ser
uma rosa é ser uma fome
desse amor que consome
e vive em nome do amor.

Não basta uma ideologia,
é urgente que haja amor:
o amor doido fado magia
profundo como uma rosa
e simples como uma flor.

Afonso Estebanez

ALLEGRO MA NON TROPPO

Fica a paz de um canto triste
dos riachos que vão embora,
vem a tarde e o canto insiste
nos meus ouvidos de aurora.

Resta uma chama encostada
numa sombra sem memória,
fica a noite e um quase nada
do que fora a minha história.

Não sou mais aquela infância
debruçada em teus terraços...
Vais!... E deixas a Esperança
desmaiada nos meus braços.

O homem nasce e vira glória
quando é pedra e vira a flor:
Deus então mais comemora
quando é barro e vira amor.

Afonso Estebanez

A CANÇÃO DE BÁRBARA

Vou percorrer os corações
até onde suporta a espera
essa busca de explicações
para o estio da primavera.

Espero que não seja culpa
o que de ti me leva ao céu
restando da vida tão curta
só um barquinho de papel.

A ti privaram dos sentidos
a mim da doação humana,
do juízo os casos perdidos
e da luz o brilho na lama...

Eis ainda há lírios e rosas
o campo verde de alecrim
há a ternura das mimosas
do perdão dentro de mim.

Afonso Estebanez

DESPEDIDA

Se tu fores embora
amada,
não me digas nada
para que a saudade
tome o lugar
do susto
de te haver perdido.

Perder é o coração
ferido
saudade
é o coração
doído...

A. Estebanez

JARDINEIRO

JARDINEIRO

Aqui estou eu de plantão
no canteiro da tua mão
como um cravo no jardim...

E espero que teu desejo
Espete o espinho de um beijo
no jardineiro de mim...

Afonso Estebanez

ANIVERSÁRIO

Hoje eu quero de presente
as perdas que nós tivemos
daquele encontro marcado
a que não comparecemos.

As marcas dos nossos pés
naquela estrada impedida,
os rumos daqueles passos
que jamais demos na vida.

O sonho que nem tivemos
e o que temos sem querer
ao acordarmos de sonhos
que sonhamos sem saber.

Ternuras para o consumo
das nossas almas abertas
ao instinto mais profundo
de nossas vidas desertas.

Ô! rosa que não me deste
esta flor ausente em mim
ô! o crepúsculo apagando
tão cedo no meu jardim...

Afonso Estebanez

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

ALLEGRO MA NON TROPPO

ALLEGRO MA NON TROPPO

Fica a paz de um canto triste
dos riachos que vão embora,
vem a tarde e o canto insiste
nos meus ouvidos de aurora.

Resta uma chama encostada
numa sombra sem memória,
fica a noite e um quase nada
do que fora a minha história.

Não sou mais aquela infância
debruçada em teus terraços...
Vais!... E deixas a Esperança
desmaiada nos meus braços.

O homem nasce e vira glória
quando é pedra e vira a flor:
Deus então mais comemora
quando é barro e vira amor.

Afonso Estebanez

RANCORAMOROSAMENTE

Se tiveres que passar
pela porta de minha vida,
não o faças indiferentemente.
Faze-o rancoramorosamente
e deixa-me algo que pareça paz
ou coisa menos ou mais eterna
do que a aurora de um sorriso.
Se for uma hora de despedida
que seja vestida com a ternura
do arco-iris de purpurina
do colo de uma flor.

Deixa-me alguma coisa
como lembrança de partida.
Se possível, deixa-me o amor
martirizado pelo espinho
da extrema felicidade
com que (não mintas)
sempre sonhei.

Pelo tamanho da minha dor
talvez tu sintas o tamanho
do amor com que te amei...

Afonso Estebanez

ABRIR OS BRAÇOS NÃO BASTA

Não adianta só abrir os braços
para o mundo e uivar ao vento
como lobo num cio sem razão.

Isso é somente abrir os braços
para o mundo e uivar ao vento
como lobo num cio sem razão.

É necessário fechar os braços
ao redor dos próprios abraços
numa oferta própria da razão.

Abrir os braços para o mundo
e fechar com o amor profundo
do abraço no próprio coração.

Afonso Estebanez

CORPO A CORPO

CORPO A CORPO

Na escalada de teu corpo
bem no cume das colinas
me descanso no conforto
com que tu me desatinas
num abismo de cavernas
com orifícios em chamas
nas profundezas eternas
onde sei que tu me amas
e que escalas minha vida
como flores transalpinas
como quem espera a lida
nas janelas das neblinas.

Afonso Estebanez

Canto Só

Canto Só

Chorei tanto
desencanto
que o canto
só por pena
se espantou
e do pranto
pelo quanto
por encanto
toda a pena
me levou...

Afonso Estebanez

CANÇÃO RITMADA

CANÇÃO RITMADA

Não basta ser uma pétala,
é preciso ser a flor: a face
do lírio é a parte desperta
da face da aurora coberta
de partes da festa da flor.

Não basta o flerte da rosa
sem a volúpia da flor: ser
uma rosa é ser uma fome
desse amor que consome
e vive em nome do amor.

Não basta uma ideologia,
é urgente que haja amor:
o amor doido fado magia
profundo como uma rosa
e simples como uma flor.

Afonso Estebanez

A CANÇÃO DE BÁRBARA

A CANÇÃO DE BÁRBARA

Vou percorrer os corações
até onde suporta a espera
essa busca de explicações
para o estio da primavera.

Espero que não seja culpa
o que de ti me leva ao céu
restando da vida tão curta
só um barquinho de papel.

A ti privaram dos sentidos
a mim da doação humana,
do juízo os casos perdidos
e da luz o brilho na lama...

Eis ainda há lírios e rosas
o campo verde de alecrim
há a ternura das mimosas
do perdão dentro de mim.

Afonso Estebanez

ANIVERSÁRIO

ANIVERSÁRIO

Hoje eu quero de presente
as perdas que nós tivemos
daquele encontro marcado
a que não comparecemos.

As marcas dos nossos pés
naquela estrada impedida,
os rumos daqueles passos
que jamais demos na vida.

O sonho que nem tivemos
e o que temos sem querer
ao acordarmos de sonhos
que sonhamos sem saber.

Ternuras para o consumo
das nossas almas abertas
ao instinto mais profundo
de nossas vidas desertas.

Ô! rosa que não me deste
esta flor ausente em mim
ô! o crepúsculo apagando
tão cedo no meu jardim...

Afonso Estebanez

MEU SER EM CONSTRUÇÃO

MEU SER EM CONSTRUÇÃO

Os meus sonhos de criança
(andorinhas das campinas)
eu deixei na minha infância
entre as pedras das colinas
mas ficou o contentamento
de lembrar da voz do vento
nos bailados das cortinas...

De mim mesmo o lavrador
fui como o cabo da enxada
cujo horizonte era o chão.
Fui meu próprio professor,
e aprendi que toda escada
tem os passos da alvorada
para o ser em construção.

Aprendi a escrever versos
e a espalhar o azul no céu
feliz dos sonhos dispersos
entre as nuvens de papel.
Deus então fica com pena
e me sopra algum poema
com gosto de flor de mel.

Afonso Estebanez
(Para Julis Calderón d’Estéfan
*a minha mais feliz contradição humana*)

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

CORPO A CORPO

CORPO A CORPO

Na escalada de teu corpo
bem no cume das colinas
me descanso no conforto
com que tu me desatinas
num abismo de cavernas
com orifícios em chamas
nas profundezas eternas
onde sei que tu me amas
e que escalas minha vida
como flores transalpinas
como quem espera a lida
nas janelas das neblinas.

Afonso Estebanez

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

PRIMEIRA ROSA DO ORIENTE

Há milênios construo entre ternuras
uma estrada de rosas que inauguras
em cada amanhecer de minha vida...

Assim, então, jamais sequei deserto
eis do teu sonho nunca me desperto
a não te ver ausente e adormecida...

Do Oriente ao Ocidente teu perfume
foi sempre a via etérea afeita e afim:
ao teu destino de ser meu queixume
em meus destinos de ser teu jardim.

Jardim da aurora que me fez a lume
lume da rosa de teu ventre em mim:
Rosa do Oriente que o amor resume
no amor das rosas com amor assim!

Afonso Estebanez

PRIMEIRA ROSA DO ORIENTE

quarta-feira, 29 de julho de 2009

(AS)AMOR(AS)

Bom é aprender a não colher amoras
além dos muros frágeis dos pomares
pois entre as aves moram as auroras
que vivem das amoras dos pomares.

Se Deus pode prover nossas desoras
com primícias do agora sem pesares,
proveja Deus, então, que tuas horas
sejam desoras para os teus pesares.

Se Deus quer operar algo espantoso
como o êxtase dos corpos estelares,
pode o amor de nós dois virar razão.

Se o amor vier do instinto generoso
será como as amoras e os pomares
onde esse amor pode virar paixão...

Afonso Estebanez
(Soneto dedicado a Jane Vasconcelos Reis,
pelo seu aniversário, homenagem especial
à exímia formatadora das Rosas de Sarom)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

SER AMANTE...

SER AMANTE...

SER AMANTE...

É esquecer o amor habitualmente aberto
a fim de que ela volte sempre que quiser
e tire essa impressão de coração deserto
que jaz inerte pelo amor de uma mulher.

Essa saudade que se dói ainda que perto
ou que por hábito se alegra quando quer
é essa euforia à toa num destino incerto
como a brisa que passa e volta se puder.

Ser amante é doar sem precisar de nada
como doa a manhã o abraço da alvorada
ao novo dia onde a esperança vai passar

tal como o vinho faz um cio permanente
para o prazer fluir dos vasos docemente
até que se prepare o amor para chegar.

Afonso Estebanez

sexta-feira, 15 de maio de 2009

FANTASMAS DO AMOR

FANTASMAS DO AMOR

Se perceberes que há alguns fantasmas
no véu do quarto escuro de teu coração
não grita e não acende a luz nem chora.

Sustenta essa frieza que é da tua calma
porque os vultos são teus pensamentos
procurando no escuro pela minha alma.

E se sentires de manhã os passarinhos
em larga evolução de cânticos de amor
no ouvido das anêmonas de teu jardim,

não os espantes e não perde tua calma
eis pois sou eu cantando para tua alma
que a saudade deixou dentro de mim...

Afonso Estebanez
(Dedicado carinhosamente à amiga
Irlene Chagas *A Poetisa do Amor*)

terça-feira, 12 de maio de 2009

segunda-feira, 11 de maio de 2009

ÚLTIMA ROSA DE SAROM

ÚLTIMA ROSA DE SAROM

ÚLTIMA ROSA DE SAROM

Além dos muros do meu coração aberto
os cantares das rosas que plantei no pó
são sensações da primavera no deserto
aquém dos muros dos jardins de Jericó.

E sou a Rosa de Sarom em teu desperto
coração tão infenso ao estar morto e só
em que se cumprirá o antigo manifesto
das rosas castas dos jardins de Jericó...

Bendito quem deixou as trevas pela luz
por ter plantado rosas no lugar da cruz
entre os canteiros dos jardins de Jericó

de onde a última Rosa de Sarom voltou
para ascender ao Pai a rosa que restou
além dos muros dos jardins de Jericó...

Afonso Estebanez

domingo, 10 de maio de 2009

MÃE É GRAÇA ETERNA...

MÃE É GRAÇA ETERNA...

MÃE É GRAÇA ETERNA...

Nasci de parto sem trauma:
minha mãe fechou os olhos
para que eu pudesse ver a luz
do mundo com a luz da alma
que brilhava dentro dela...

Sei que mamãe só foi embora
porque aprendi a enxergar por ela
a luz dos anjos que me assistem
com a abundância da primavera...

Ela deixou-me a ternura das rosas
e a brandura delas como herança
que só as mães podem deixar
como legado de esperança...

Então eu não vou desistir do amor
nem das rosas nem de mim
nem dos sonhos nem da paz
do meu jardim...

(Afonso Estebanez)

sábado, 9 de maio de 2009

NOSTALGIA

NOSTALGIA

NOSTALGIA

Jamais alimentei ressentimentos
porque tu me privaste da metade
do favo da felicidade que eu teria

se tu vivesses só de sentimentos
dos mesmos que maior felicidade
vieram-te dos tempos de alegria.

A parte que ficou é de momentos
de amor então cativo da saudade
do que se foi na dor da nostalgia.

A vida indaga, a vida te responde
que até existo só não sabes onde
como a noite que nunca vê o dia.


Afonso Estebanez

LÁGRIMAS DE MÃE...

LÁGRIMAS DE MÃE...

LÁGRIMAS DE MÃE...

nem tudo o que é doce
é mel
nem tudo o que amarga
é fel
seca o leite materno
e as crianças se alimentam
das lágrimas que escorrem
em abundância
dos olhos da mãe

Afonso Estebanez

MÃE... MÃE... MÃE...MÃE... MÃE... MÃE... MÃE...

MÃE... MÃE... MÃE...MÃE... MÃE... MÃE... MÃE...

MÃE... MÃE... MÃE...MÃE... MÃE... MÃE... MÃE...

MÃE – quintessência indecifrável para o enigma
MÃE – luz que nem a treva em transe obscurece
MÃE – quântico perfume íntimo sem paradigma
MÃE – istmo de amor que à noite me amanhece

MÃE – espelho sem face e quebrantado estigma
MÃE – sem medo do frio que o amor me aquece
MÃE – carta náutica da minha história fidedigna
MÃE – onde o desamor em lágrima desacontece

MÃE – esse doce ouvir quando o silêncio o fala
MÃE – esse doce me dizer quando falar me cala
MÃE – esse alfa et’ômega legado à humanidade

MÃE – ô, repórter de evangelhos não prescritos
MÃE – esse amor do exílio breve dos proscritos
MÃE – o amor breve o quanto dura a eternidade...

Afonso Estebanez

terça-feira, 5 de maio de 2009

DÉCIMA ROSA DE SAROM

DÉCIMA ROSA DE SAROM

DÉCIMA ROSA DE SAROM

No princípio era a Rosa concebida
pelo Verbo da luz que está na flor
e era a rosa uma luz além da vida
no princípio da luz além do amor.

Toda Rosa é de origem conhecida
da vida onde não mais o desamor
e onde jamais a flor incandescida
dos roseirais onde floresce a dor.

Como sinto a saudade antecipada
do perfume das rosas em jornada
para a futura esfera de meu ser...

Eu tenho da verdade esta certeza
como tenho da rosa sobre a mesa
o encanto do condão de renascer.

Afonso Estebanez

domingo, 3 de maio de 2009

AMOR DE CARNAVAL

AMOR DE CARNAVAL

AMOR DE CARNAVAL

Se de fato tu queres me encontrar
apesar de me teres transformado
na tua multidão, tu deves procurar
no alvoroço do baile triunfal
de teu tumultuado coração...

Eu sou aquele que tu vês se levantando
daquela sombra que virou teu chão.
Repara como eu engoli meu sim
para não ter que devolver teu não...

Se de fato tu queres me encontrar,
eu sou aquele que já foi embora
com uma flor na mão...

Afonso Estebanez

DOMINGO NA PRAÇA

DOMINGO NA PRAÇA

DOMINGO NA PRAÇA

É quase patológica a minha vocação
para ficar sentado no banco da praça
vendo a banda passar...
bumbo
bomba
trompa
bunda
coreto
confete
trombeta
trompete
– Sabe qual é a diferença
entre a banda e a bunda?
O traseiro de Laura carrega o sentimento do mundo...
O coração de Ivone transporta a fome jantada...
A cabeça de Graça é uma entrada de motel...
o bumbo
é banbo
e tromba
a bunda
O padre está dormindo com uma beneditina
que reza com ele debaixo da batina.
– Affe Maria
que vida cretina!

Afonso Estebanez

terça-feira, 28 de abril de 2009

DE ALMA NO VENTO...

DE ALMA NO VENTO...

DE ALMA NO VENTO...

Ainda que seja só em pensamento
não me procurem onde não estou.
Eu não fiquei no cântico do vento,
pois a canção do tempo me levou.

Talvez meu coração tão desatento
não tenha percebido o que passou.
Ainda que seja só em pensamento
não me procurem onde não estou.

Eu não estou num doce desalento
por amor tão sonhado que passou.
E nem estou num agridoce alento
de sonhar o que o sonho recusou.

Não me procurem onde não estou
ainda que seja só em pensamento.
Morre o corpo num resto que ficou
de minha alma levada pelo vento.

Afonso Estebanez – 28.04.2009
(Dedicado a Maria Madalena Cigarán Schuck
– pelo seu aniversário – pleito de gratidão pela
divulgação de minha poesia no sul do país)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O VERDE VALE DA MINHA CIDADE

O VERDE VALE DA MINHA CIDADE

O VERDE VALE DA MINHA CIDADE

....................................................

É o ribeirão exausto procurando
no remansoso coração da tarde
silenciar-se de chegar cantando
ao verde vale da minha cidade...

Pernoita a lua atenta no telhado
das casas onde tênue claridade
revela o amor em pelo revelado
no verde vale da minha cidade...

A saudade se dói de andar à toa
no lado vago de minha saudade
de ver o trem sumindo na garoa
do verde vale da minha cidade...

Ha canteiros de rosas e jacintos
no caminho da vaga eternidade
da orla dos ribeiros não extintos
no verde vale da minha cidade...

A paz daqui é como eterno bem
para quem vive com a liberdade
de já não precisar de nada além
do verde vale da minha cidade...

Afonso Estebanez
(Dedicado à eminente professora cantagalense
Anabelle Loivos Considera C. Sangenis/UFRJ)

sexta-feira, 24 de abril de 2009