segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

INICIAÇÃO NOS CAMPOS DE GULAG (Segundo sentimento)



INICIAÇÃO NOS CAMPOS DE GULAG
(Segundo sentimento)

 Façam-se vales e desfiladeiros
no roteiro dos rios congelados
para fecundação da terra
pelo sangue de Auschwitz.
Que os mares abram seus cursos
nas muralhas de Guantánamo
na salga dos caminhos do que nasce
contra o ventre da primavera
e as águas venham dilúvios,
não pragas de profecias.
Caia pedra sobre pedra
dos muros de nossos dias...

Julis Calderon d'Estéfan
(Heterônimo de Afonso Estebanez)




INICIAÇÃO NOS CAMPOS DE GULAG (Primeiro sentimento)


INICIAÇÃO NOS CAMPOS DE GULAG
(Primeiro sentimento)

Amanhã de manhã
é tempo de  ressurreição da aurora
malgrado deluzentes crepúsculos
de tanto sangue deflagrado...
Mas púnicos setenta séculos
de florações de pedras
não põem flores no archote
da estátua da liberdade
nem sabem nossas bocas
a fruto sazonado
de contentamento.

Contudo, pedras são flores
nos descaminhos do tempo...

Julis Calderon d'Estéfan
(Heterônimo de Afonso Estebanez)


DAS PROMESSAS DO SERMÃO


DAS PROMESSAS DO SERMÃO

Bem-aventurados os arrogantes
de espírito, porque a eles foi estendido
o direito de se curvarem aos humildes
para os efeitos do indulto do perdão.

Bem-aventurados os que escarnecem
da desventura do irmão, pois entre eles
foi difundida a esperança de consolo
em nome da graça do perdão.

Bem-aventurados os que não têm fome
nem sede de justiça, porque já são fartos
e só dependem do advento do perdão.

Bem-aventurados os impiedosos, infiéis,
tiranos, incrédulos, impuros de coração,
porque poderão alcançar a misericórdia
prometida como primícias do perdão.

Mas se não houver Amor no coração,
haverá o efeito da perda da esperança
a despeito das promessas de perdão.


Julis Calderon d'Estéfan
(Heterônimo de Afonso Estebanez)



NADA ALÉM DO MEU JARDIM




NADA ALÉM DO MEU JARDIM

Eu sempre empreendi grandes viagens
para não muito mais além do meu jardim...
Jamais pretendi chegar ao final de qualquer rua,
se o final das ruas sempre chegaram até mim.

Então eu nunca precisei tomar um trem
com uma mala velha abarrotada de saudade.
Até hoje convivo com a paz de minhas rosas,
companheiras de viagem para a liberdade.

Andar pelo jardim é como dar a volta ao mundo
onde vivo replantando beijos nos canteiros
dos parques das cidades que há no fundo
do lago da memória de minha infância...

E eu não posso correr o risco de deixar
de ser criança, como um velho travesseiro
que se rasga com o tempo e o vento
espalhando pela vida tantas penas
e sonhos e segredos e lembranças
adormecidos neste quarto antigo
onde jazem as minhas esperanças...

Julis Calderon d'Estéfan
(Heterônimo de Afonso Estebanez)