terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

A MAGIA DA EXPRESSÃO LITERÁRIA
OFICINA – MODULAÇÃO INTERATIVA - 05
*UM MERGULHO NA ALMA*


Sempre respondo a quem me pergunta: nada mais difícil de definir do que as obras de arte, que a Rainer Maria Rilke – um dos mais importantes poetas de língua alemã do século XX – pareciam ‘seres misteriosos cuja vida imperecível acompanha nossa vida efêmera’ (in Cartas a um Jovem Poeta). A propósito de algum aconselhamento em face de alguns textos, preferimos adotar a postura do Rilke quando instado – por um jovem poeta – a fazê-lo: ‘Ninguém – enfatiza o autor de ‘Duineser Elegien’ - pode dar-lhe conselhos nem ajudá-lo – ninguém! Só existe um caminho: penetre em si mesmo e procure a necessidade que o faz escrever. Observe se esta necessidade tem raízes nas profundezas do seu coração (...). Examine-se a fundo, até achar a mais profunda resposta (...). E se lhe vierem versos deste regresso a si próprio, deste mergulho no seu cosmo, não pensará em indagar se são bons ou não (...), porque desfrutará deles como de uma posse natural, como de uma de suas formas de vida e expressão. Uma obra de arte é boa quando nasce por necessidade. É a natureza de sua origem que a julga’. Então, este o conselho: ‘mergulhe em si próprio e sonde as profundidades de onde jorra a sua vida. Só desta maneira encontrará resposta à pergunta: “Devo criar?”. De tal resposta recolha o som, sem desvirtuar o sentido. Talvez chegue à conclusão de que a arte o chama. Neste caso, aceite o seu destino e siga-o, com o seu peso e a sua majestade, sem jamais exigir uma recompensa que possa vir de fora. (...) Que mais poderei acrescentar? Acredito ter abordado o essencial. No fundo, apenas fiz questão de aconselhar a quem me pergunta, a progredir segundo a sua lei, de modo grave e sereno. Não lhe seria possível perturbar mais violentamente a sua evolução do que dirigindo o seu olhar ‘para fora’, do que esperando ‘de fora’ as respostas que apenas o seu sentimento mais secreto, na hora mais silenciosa, poderá talvez proporcionar-lhe’.

Afonso Estebanez
DÉJÀ VU: MÉMOIRE D'AMOUR


Não vou contrariar o dogma da vida
se a vida afaga o desafio de morrer,
se a profecia imperecível prometida
faz renascer o amor eterno de viver.

Aquela cena amargamente repetida
no mesmo sonho se reflete para ver
da paixão que vivi agora ressentida
o despedir na solidão do entardecer.

É místico ao amor eternizar o tempo
desatendendo o fatalismo desatento
que desta vida pela morte me desfiz.

E minha amada me jaz vívida na luz,
se do lado da morte ainda me seduz
do outro lado da vida ela me faz feliz.

Afonso Estebanez