domingo, 12 de março de 2017

MORRER PARA FICAR


Foi para pôr os fados no destino
que renasci para bordar poemas
com a alma marcada de menino
tão cedo já remindo suas penas.

Não sei se ainda tenho desatino
ofensas inocentes ou pequenas
que devam ser tiradas do divino
solar de onde lúcida me acenas.

Se for para viver um pouco mais
do que vivi dos velhos carnavais
eu vou morrer para jamais voltar.

E vou morrer se tanto for preciso
sabendo que tu estás no paraíso
à espera de eu morrer para ficar.

Afonso Estebanez
SONETO DA REVELAÇÃO


Andei na vida atrás de uma resposta
que aclarasse a pergunta que me fiz
se minha pobre infância hoje remota
inda é meu dom de envelhecer feliz.

Eu sempre sustentei a alma exposta
como a lâmpada acesa do aprendiz,
a ver se habita mesmo uma suposta
mágoa no amor que oculta a cicatriz.

À exaustão transpus mil cordilheiras
e os rústicos agrestes das fronteiras
onde houvesse uma rosa no jardim.

Embalde! Eu já aprendi com a idade
a despeito da ausência da saudade,
que tudo estava aqui dentro de mim!

Afonso Estebanez