domingo, 2 de novembro de 2008

“SEM-RAZÕES”


“SEM-RAZÕES”

Para dizer que te amo, eu te amo e pronto!
Não te encantam as “sem-razões” do amor
nem vou negar que em mim és reencontro
dos desencontros entre o espinho e a flor...

Nem me arrimo em razões de desencontro
de quem se ama aos padrões do desamor.
Sou um poeta e a razão de ser o encontro
entre um canto esquecido e o meu cantor.

Eu te amo, e pronto! E sou o juiz de mim.
O amor não cumpre tudo o que prometo,
mas cumpre o tanto que eu nem prometi.

E termino onde o amor não tem mais fim:
em mortalhas mais simples de um soneto
meus versos e as razões por quem morri!

Afonso Estebanez

HAIKAIS


Deixa-me tocar
com as mãos a tua boca...
Eu sei colher rosas!


Pétala cor púrpura
no linho branco do leito...
O primeiro amor.


Maktube... Atração
pelo amor que não se sabe.
Mas se reconhece.


Aquela libélula
pousada na orquídea roxa.
A mulher ausente...


Refúgio de lágrimas,
meu velho salgueiro ensina-me
a chorar sozinho...


Afonso Estebanez

HAIKAIS


Deus pôs as estrelas
no céu... E quem pôs a lua
no fundo das águas?


Inverno... E ainda colho
no tronco daquele corpo
dois pomos maduros.


Teu aniversário.
As rosas são sempre iguais...
Porém, nunca as mesmas.


Para que as flores
se me feres com espinhos
quando te dou rosas?


Ah, nunca dei rosas
sem ferir com os espinhos...
Celerado amor!


Afonso Estebanez

HAIKAIS


O menino morto.
A mulher tece o quimono
com fios de lágrimas...


Numa casa em Kioto.
A dor discreta... Na esteira,
o menino morto.


Sol nascente... As mãos
do dia vão desdobrando
a luz da alvorada...


Sol poente... As mãos
da noite vão redobrando
a luz do crepúsculo...


E a lua reflete
nas águas calmas do lago
um cisne de prata...


Afonso Estebanez