quinta-feira, 31 de agosto de 2017


A MAGIA DA EXPRESSÃO LITERÁRIA
OFICINA LITERÁRIA - MÓDULO 10
“O UNIVERSO DA LINGUAGEM”
(Metáforas)




O UNIVERSO DA LINGUAGEM
*Joaquim Moncks
“Amigo e Mestre: tenho acompanhado, com encantamento, as tuas postagens. Questiono qual o papel do poeta na atualidade? E se nós estamos conseguindo ser lidos, interpretados e mais do que isso, se a nossa mensagem central e, portanto, existencial, tem sido minimamente absorvida? Mudar a direção? Parece paradoxal... Deveríamos ser poetas de uma simplicidade franciscana abolindo o uso de metáforas, a exemplo do nosso Mário? Não sei. Dúvidas persistem. Talvez muitos leitores não estejam dispostos a um exercício de reflexão a um nível tão profundamente abstrato. O problema situa-se na decodificação. Um saudoso abraço” 

(Cassiano Gilberto Santos Cabral, poeta, via Facebook, em 30Ago2017).

Salve poetamigo Cassiano! Todas as tuas perguntas são de difícil resposta, porque para chegar a uma boa conclusão pessoal para cada uma delas, em regra teríamos, no mínimo, que contar com pesquisas de opinião, de modo a que se pudesse adentrar a uma veracidade responsável, possivelmente utilizando dados reais com tabulações estatísticas. Este seria um caminho, apenas. Por certo haverá outros.

Quanto ao problema da "decodificação" que o poeta-leitor terá de fazer, também é um fato veraz e o teu questionamento geral contém o exercício da sabedoria. Abolir o uso das figuras de linguagem, em especial a utilização da metaforização, chega-me como impossível, porque tenho que sem a metáfora profunda (porque existe a rasa ou superficial) não se consegue chegar à poesia, no máximo à prosa poética. Ter-se-á, portanto, sem a metáfora, uma composição poética sem o comparecimento da Poesia como gênero literário. Vale dizer: apenas um derramamento verbal provindo da intuição e do sentir, assentado no intimismo lírico, o qual, por ser a consolidação verbal momentânea do que o autor deixa fluir sobre tal ou qual assunto, não chega à utilização da palavra no sentido CONOTATIVO e, sim, enclausura-se e se basta com a utilização do sentido DENOTATIVO. (São versos, somente versos, sem que a Poesia compareça esteticamente, e isso é muito comum de ocorrer em nosso meio, porque o ingênuo autor não sabe, tecnicamente, em que gênero ou espécie literária está a se comunicar).

Os dois tipos de metáforas, a de palavra e a de imagem têm este condão: dar ao conjunto de palavras do poema, através da subversão do sentido original dos vocábulos utilizados, criando conotações que levam ao patamar estético do Novo (daí o estranhamento) em ideias e em linguagem. Quanto ao Mário Quintana, muito cuidado, não há nenhuma "simplicidade franciscana" em sua poética. As peças poéticas referentes à sua maturidade em Poesia (a partir dos seus 70 anos, em 1976) não são, a meu ver, assim tão simples, e comparecem em seu espírito como resultado da utilização da ironia como pedra-de-toque utilizando certa singeleza verbal que constrói, repentinamente, uma metáfora de imagem utilizando vocábulos sem a pretensão de complicar a cuca do poeta-leitor. no entanto, concordo que tanto Manuel Bandeira quanto Quintana não foram ‘rebuscados’ (quanto à utilização de vocábulos de difícil entendimento) como parece ser o caso de João Cabral, Drummond ou Murilo Mendes; de Fernando Pessoa (que cria o poema pensando a partir dos conceituais léxico-morfológicos do idioma de Shakespeare, mesmo quando transpõe essas ideias e temáticas para o idioma português) ou Ezra Pound, Elliot e Blake, na poesia de língua inglesa.

Por último: cada autor escolhe o perfil de seu leitor, se culto, mediano ou primário. Há público para cada composição poética. A Poesia nasce em decorrência de como o autor do poema observa os fatos da realidade e o traveste como proposta verbal, porque cada qual vê o mundo segundo o vê ou o concebe individualmente. Ao demais, não é o autor quem dá vida ao poema, e sim o poeta-leitor, quando se apossa do poema e o traz ao mundo dos fatos como se fora verdade plena. E todos nós sabemos que o "poeta é um fingidor" que se locupleta do inconsciente coletivo e trabalha – para forjar o poema – utilizando-se da farsa, da fantasia e do sonho presentes no seu estro criador. Tudo depende de sua capacidade inventiva. Enfim, todo poema é abstração pejada de inverdades, pois não pertence aos territórios do mundo real, mas o leitor dará a este o sentido que a ele aprouver, segundo o seu patamar de conhecimentos e de leitura do mundo, fazendo dele a sua verdade salvadora. Se bem que não é o autor que escolhe o seu público, e sim o leitor quem escolhe o seu poeta, por entender que ele fala a sua linguagem.

Portanto, o importante mesmo é escrever e publicar. O porvir dirá quem agradou a quem e o que por eles foi absorvido para possíveis aplicações no universo individual da sensibilidade e da consciência. Escreve sem medo. Parece-me ser esta a única escolha consciente que pertine ao escriba. Quem sabe fosse útil trazer ao plano da realidade pensamental o aforismo de William Blake: “Quem nunca altera a sua opinião é como a água parada e começa a criar répteis no espírito.”.

– Do livro inédito OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02; 2015/17. 

*Joaquim Moncks, escritor e poeta, Acadêmico Titular da Cadeira 19, patronímica de Cezimbra Jacques da Academia Rio-Grandense de Letras (ARL) e Titular Acadêmico da Academia Sul-Brasileira de Letras, Oficial da Polícia Militar da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, Mora em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Dados biográficos de 16 de agosto de 2017.

COMENTÁRIOS SOBRE O AUTOR:

Afonso Estebanez Stael: Maravilhoso texto, exuberantemente elucidativo e eficaz dos pontos de vista literário, educacional e pedagógico. Encantado, vamos divulgar esta pérola literária que nos traz à luz, neste momento de desmonte, pela mídia, da língua portuguesa falada e escrita, o nome venturoso de Joaquim Monks a quem agradeço, aplaudo e reverencio pela amizade e pelo seu "O UNIVERSO DA LINGUAGEM".

Ligia Lacerda: “Este texto é esplêndido! Muito bem elaborado, embasado e de fácil compreensão. Leitura útil e prazerosa”

Sandra L. Stabile: “Muito bom o texto amigo , estava precisando de ler esse texto para responder a algumas questões que me fizeram”.

Antonio Luis Alves: “Para ler uma vez, continuar lendo e sempre encontrando alguma coisa nova. Este texto tem essa maravilha de encantando sempre”.

Elias Borges: “Certa vez Millôr, explicando a necessidade da metáfora, proferiu: ‘O fogo da paixão, como qualquer outro fogo, não vive sem oxigênio’. Parabéns pela clareza, amigo Joaquim Moncks. Hoje observo que você já se permite dizer que há poetas e poetas”.

Cassiano Gilberto Santos Cabral: “Moncks: agradeço a aula magistral notabilizando conhecimento e inspiração sublimada. És mestre de todos nós e é muito bom saber que nos apontas a direção dos ventos. Com certeza, a decodificação pertence ao público que ė o nosso interprete. Concordo que o não uso da metafora reduz o alcance mágico da poesia. És profundo e notável, amigo, e eu me sinto honrado com a tua amizade e deferência”.

Oscar Brisolara Parabéns: “Meu amigo e confrade Joaquim Moncks, agradeço pela lucidez do teu texto. Ouço no teu texto o clamor de uma voz que provém dos recônditos do universo, mas que apela ao meu espírito com a doçura da poesia. Meu irmão, este espaço está sempre à tua disposição. Mais uma vez, cumprimentos pela luminosidade de tuas palavras”.

Maricler De Campos Ruwer: “Texto Maravilhoso, para ser trabalhado pelos Professores de todas as Línguas e todas as áreas de Ensino.  A Mágica das Entrelinhas na Linguagem escrita! ‘O UNIVERSO DA LINGUAGEM’ - Joaquim Moncks". Paz e Luz... Mestre e o Sempre Carinho, da Cler Ruvver.