terça-feira, 28 de março de 2017

HAIKAIS


Do seio materno
goteja o leite aquecido...
Nascente de amor.

Querias um homem,
mas fazes de mim um deus
na cruz de teus braços.

Saciada de beijos,
entregas-me, enfim, a taça
do teu melhor vinho!

Soutien no leito...
Onde o refúgio dos pássaros
distantes do ninho?

Afonso Estebanez
HAIKAIS


Milagre da vida.
O sêmen alcança o óvulo.
O embrião, a luz!

Ceia de Natal.
Na cabeceira da mesa,
o lugar vazio...

Ah, de beijo em beijo,
quero ver onde vai dar
teu mapa de sardas...

Dorme... Os seios nus...
Pulsa uma cruz nos calvários
da minha paixão...

Plantando em teu corpo,
lanço sementes de beijos
no alto das colinas...

Afonso Estebanez 
HAIKAIS


Maktube... Atração
pelo amor que não se sabe.
Mas se reconhece.

Aquela libélula
pousada na orquídea roxa.
A mulher ausente...

Refúgio de lágrimas,
meu velho salgueiro ensina-me
a chorar sozinho...

Decepado o tronco,
o carvalho renasceu
em forma de berço.

Afonso Estebanez
HAIKAIS


Para que as flores
se me feres com espinhos
quando te dou rosas?

Ah, nunca dei rosas
sem ferir com os espinhos...
Celerado amor!

Deixa-me tocar
com as mãos a tua boca...
Eu sei colher rosas!

Pétala cor púrpura
no linho branco do leito...
O primeiro amor.

Afonso Estebanez
HAIKAIS


E a lua reflete
nas águas calmas do lago
um cisne de prata...

Deus pôs as estrelas
no céu... E quem pôs a lua
no fundo das águas?

Inverno... E ainda colho
no tronco daquele corpo
dois pomos maduros.

Teu aniversário.
As rosas são sempre iguais...
Porém, nunca as mesmas.

Afonso Estebanez
HAIKAIS


O menino morto.
A mulher tece o quimono
com fios de lágrimas...

Numa casa em Kioto.
A dor discreta... Na esteira,
o menino morto.

Sol nascente... As mãos
do dia vão desdobrando
a luz da alvorada...

Sol poente... As mãos
da noite vão redobrando
a luz do crepúsculo...

Afonso Estebanez
JUDAS


Os que venderam a fórmula
da bomba e da talidomida
mataram mais do que Judas
com o beijo da traição.

O Mestre expiou-se na forca,
mas os discípulos, não!

Os mercadores de armas
os caçadores de índios...
Todos renegam a forca.
Os sadânicos satãs
os fratricidas armados
os algozes travestidos
de juízes da multidão...

Todos mataram mais cristos
do que o mestre vendilhão...
Mas se passam naturalmente
por Judas – o bom ladrão!

Afonso Estebanez
(Poema dedicado à poetisa de Poetas Del Mundo
– MEG KLOPPER)