quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

FICTA CONFESSIO


Além de um véu diáfano de luz
jaz inerte minh’alma sepultada
num afeto que ainda me seduz
no êxtase da carne despertada.

Jaz o cio que ainda me conduz
à flora íntima de minha amada
que se despe do látego da cruz
e da veste da vida consumada.

Ela se louva de contentamento
e ritualiza no meu pensamento
este culto amoroso do degredo.

Os desejos estão adormecidos,
mas escuto da lira dos sentidos
soar o amor eterno do segredo.

Afonso Estebanez
EU SEI QUANDO TU VENS


Não preciso sondar os pensamentos
nem consultar meu vasto coração
para saber os dias e os momentos
em que me vens trazer consolação...

A mim me basta olhar pela janela
e abraçar a manhã no meu jardim
pois sei que a claridade que vem dela
é a luz do teu amor dentro de mim...

Deixo a brisa tocar a minha face
ouço as aves que vêm me visitar
e sei de cada rosa que renasce
o teu instante eterno de chegar...

Converso com o vento no telhado
onde o tempo costuma te esperar
de um futuro presente antecipado
por anjos que me vêm te anunciar...

No canteiro de beijos e jacintos
o odor suave de uma flor qualquer
inflama de desejos meus instintos
famintos de teu corpo de mulher...

Então eu sempre sei quando tu vens
sem que precises avisar-me quando...
O amor proclama quando tu me tens
e me prepara quando estás chegando.

Afonso Estebanez