segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

FELIZ ANO NOVO

Ano novo deve ser apenas um novo ano
daquele velho motivo que todos os anos
faz a gente pensar que este ano vai ser
feliz... Mas ainda é o velho tema...

Apenas sensação de permitir que sonhos
mortos enterrem os seus sonhos mortos,
enquanto a gente desperta antigas rosas
das que ainda permanecem adormecidas
nas páginas jamais abertas do jardim...

E nada de brincar de novos sofrimentos.
Ainda há muita amargura que necessita
de um funeral compatível com a liturgia
da cura pelos perdões não concedidos...

Então, depois de removida tanta pedra
desses túmulos todo ano reinventados,
a gente deseja apenas que o ano velho
acompanhe este ano novo no momento
de entrar pelas soleiras do coração...

Sementes de amor numa das mãos
e uma flor despojada dos espinhos
na outra mão...

A. Estebanez

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

FACES DA LIBERDADE

Perder a sensação de ver a luz.
O jeito certo de viver por mim.
Ou perder os lugares onde pus
o meu direito de pensar assim.

O mundo é isso aí: amor e cruz
e vaidades na torre de marfim!
Da liberdade apenas nos seduz
esse canto de rosas no jardim.

Perder momentos de felicidade
é não ouvir cantar a primavera
na brisa fria da razão sem voz.

E se dá por perdida a liberdade
se o medo de viver virar a fera
que se regala de viver por nós.

Afonso Estebanez
(Dedicado ao notável poeta e amigo
Manoel Virgílio Pimentel Côrtes)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

NESTE NATAL...

Não deixes de mandar-me rosas
só por causa dos seus espinhos!
Entre as que são mais dolorosas
há intervalos para os carinhos...

Sei que às vezes são espinhosas
as bromélias de meus caminhos!
Mas não me prives de tuas rosas
só por causa dos seus espinhos!

Hoje eu quero rosas vermelhas,
rosas rubras como as centelhas
das chamas da lareira em paz...

Ah, e eu também te envio rosas
dentre tantas as mais formosas
do bem que o teu amor me faz!

Afonso Estebanez
(Natal de 2009)

MEMÓRIA DE PAQUETÁ (Improviso)

Paquetá é como um sonho
que não quis mais acordar
das alfombras do rebanho
das ondas verdes do mar.

Se não for sonho, acredito
que um dia eu vivi por lá...
Ou então é o meu espírito
por quem sonha Paquetá.

As canções dos arvoredos
repousam no pensamento
como se fossem segredos
de amores daquele tempo.

Mesmo eu estando por lá
a saudade ainda me vem
como a sombra do baobá
no caminho de meu bem.

Me vens de alma iluminada
como as vestes de uma flor
não dependo de mais nada
senão do encanto do amor.

São praias das moreninhas
que nas marés do teu olhar
carregam saudades minhas
em que tu vens te banhar...

Afonso Estebanez
(Dedicado com carinho à doce
amiga Ana Luiza nesta viagem
à Paquetá - A Ilha da Poesia)

AUSÊNCIA DEFENSIVA

Estou sempre em qualquer lugar
onde eu penso sem pensamento
porque o tempo passa no tempo
sem que o sonho possa esperar.

Estou sempre em qualquer lugar
onde o pranto chora sem mágoa
murmuram os riachos sem água
navegam meus barcos sem mar.

Estou sempre em qualquer lugar
onde os jardins crescem abertos
sem sucumbir como os desertos
onde ninguém vai me encontrar.

Estou sempre em qualquer lugar
despertando as minhas ternuras
dentre as pedras das amarguras
que me lançam querendo amar.

Afonso Estebanez

O AMOR E O TALMUDE

Meu amor, ser feliz é quando olhamos
para o passado e não sentimos remorso
do que fomos.

Teremos vivido de amor – o pão e o vinho
com que celebramos a volta e o recomeço
dos percursos breves desta vida.

E ainda que te sintas vencida pelo cansaço
da distância percorrida entre a luxúria
e o arrependimento dos fracassos,
regressa outra vez à nossa casa
– ao menos até a metade do caminho
restaurado dos sonhos em pedaços...

A outra metade,
eu te carregarei entoando salmos
na carruagem de plumas
de meus braços...

Afonso Estebanez & Julis Calderón

PRÓLOGO & EPÍLOGO

Nascer não é ser a verdade.
Nascer é apenas a memória
do epílogo de nossa história
num prólogo de eternidade.

Viver não é não ter morrido.
Viver é apenas um profundo
e efêmero passar no mundo
sem precisar ser percebido.

Morrer não é não viver mais.
Morrer é a solidão da espera
num lugar onde a primavera
não nos acorda nunca mais.

Afonso Estebanez

MORRI...

Morri...
O sonho dormiu demais
e não viu as primaveras
passarem nos roseirais.

Morri...
Morri de amores banais
e de saudade de tantos
não vividos nunca mais.

Morri...
Sonhei os sonhos da lua
ou vivi entre as estrelas
das poças d’água da rua.

Morri...
Mas se a vida continua,
foste começo da minha
e eu fui começo da tua.

Afonso Estebanez

ELEGIA PARA MEU AMOR

A manhã me deu em brisa
a brisa me deu em quanto
deu-me a tu’alma indecisa
os sonhos do teu encanto.

O dia deu-me em ventoso
e a tarde deu-me chuvosa
a noite nos deu num gozo
como o pólen deu na rosa.

E a vida me deu em parte
tudo o que em parte ficou
pelo amor que me reparte
entre as partes que levou.

Tudo aqui dá em saudade
como a saudade do vento
que me excita a liberdade
de viver em pensamento.

Afonso Estebanez

DESPEDIDA

Se tu fores embora
amada,
não me digas nada
para que a saudade
tome o lugar
do susto
de te haver perdido.

Perder é o coração
ferido
saudade
é o coração
doído...

A. Estebanez

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

SORRISO DE MULHER


Há sorrisos que são
muralhas de palavras
represadas por um
tratado de mordaça
que inibe o amor com
as linguodentais da trava
da liberdade simples
de sorrir por graça...

Mas teu sorriso como
a luz das alvas conchas
abraçadas no suave
encontro das marés
é algo como um brilho
com que me encantas:
as pétalas de rosas brancas
entre os lábios da mulher...

Afonso Estebanez
(Dedicado a Sonia Regina de Souza Braulio
– Poeta *Soninha BB* no mundo literário)