terça-feira, 20 de dezembro de 2016

NÃO DIGAM QUE SÓ FALEI DE FLORES


Nunca me envaideci da estranha ideologia
que me apraz da tortura lúdica sem dores
dos meus amores não desfeitos da magia.
E não venham dizer que só falei de flores!

Naqueles tempos nossa arma era a poesia
que persuadia o algoz a nos dever favores
mercê do vinho envenenado que eu servia
e não venham dizer que só falei de flores!

Não era permitido andar em pensamentos
sob suspeita de quaisquer ressentimentos
e não venham dizer que só falei de flores!

Disse de nós – a prostituta envergonhada
dos poetas proscritos na alma desarmada
e não venham dizer que só falei de flores!


Afonso Estebanez