domingo, 22 de dezembro de 2013

SONETO NATALINO

SONETO NATALINO

Se se tem que ser hoje aquilo tudo
que em vida não se foi, podendo ser,
seja esse sonho mudo ainda mais mudo
enquanto for eterno até morrer.

Se se tem que pedir, que sobretudo
seja a doce ilusão de merecer
ao menos a esperança como escudo
de quem sonha algum dia receber.

Peça-se amor que mais amor reclame,
prazer de desejar só dor menor
em sofrer o prazer que se viveu.

Senão com grande amor, não se desame
ou se ame com amor ainda maior
essa dor que tão grande se doeu!

Afonso Estebanez


NESTE NATAL...

NESTE NATAL...

Não deixes de mandar-me rosas
só por causa dos seus espinhos!
Entre as que são mais dolorosas
há intervalos para os carinhos...

Sei que às vezes são espinhosas
as bromélias de meus caminhos!
Mas não me prives de tuas rosas
só por causa dos seus espinhos!

Hoje eu quero rosas vermelhas,
rosas rubras como as centelhas
das chamas da lareira em paz...

Ah, e eu também te envio rosas
dentre tantas as mais formosas
do bem que o teu amor me faz!

Afonso Estebanez

NESTA NOITE DE NATAL

NESTA NOITE DE NATAL

Não me dês tua noite interminável
se teu sonho de amor não for real.
Não quero teu amor imponderável
como um conto de fadas de Natal.

A mim me basta a luz inesgotável
de tua estrela efêmera ou imortal.
E nada mais que o êxtase inefável
intocável por mim que sou mortal.

Envia-me a tua a rosa do deserto.
E beija-me distante mesmo perto,
pois que amanhã a noite é sideral.

Uma alvorada é tudo que te peço.
Uma noite de meu amor confesso
seria o teu presente de Natal.
                                                                                 

Afonso Estebanez

REFLEXÃO SOBRE O NATAL

REFLEXÃO SOBRE O NATAL

Algo entre nós não quer ser a caça do medo
nem a eterna esperança que o medo desfaz.
Algo entre nós que não é feito de brinquedo
mas da quebra dos pactos de vida sem paz.

Algo entre nós como a ressurreição da rosa
num renascer gentil de auroras encantadas
como algo que retorna à infância venturosa
para tecer os novos sonhos de mãos dadas.

Algo entre nós que nos divide e multiplica,
que nos semeia e colhe com o dom da flor.
Algo em silêncio que não fala, mas explica
a razão da regra sem a exceção do amor!

Afonso Estebanez

SAPATINHOS NA JANELA

SAPATINHOS NA JANELA

Meus velhos sapatinhos foram só o começo
de uma jornada de promessa não cumprida
e mesmo exaustos eles levam sem tropeço
as saudades que eu trago das ruas da vida.

Mas eu ainda acredito em paz e recomeço.
E no milagre de um adeus sem despedida.
Se ainda hoje alguém partir é o alto preço
que alguém paga pelo regresso da partida.

Papai Noel existe porque um sonho existe
além do senso de esperança que consiste
nos poderes divinos mais além dos meus.

São verdades de estrelas repicar os sinos
repondo o sonho dos sapatos pequeninos
deixados nas janelas sob o olhar de Deus.

Afonso Estebanez