segunda-feira, 28 de novembro de 2016

A MAGIA DA EXPRESSÃO LITERÁRIA
OFICINA - MÓDULO 04
DA ARTE DE ESCREVER COM SIMPLICIDADE
*UM ATRIBUTO DA PERSONALIDADE HUMANA*



TEMOS AFIRMADO que, até os dias de hoje, NINGUÉM! – a despeito de infinitas tentativas produzidas ao longo da história da literatura – ninguém apresentou ao mundo conhecido uma definição de “POESIA” que fosse estética, filosófica ou cientificamente compatível com a universalidade da alma humana. Por nós outros, temos afirmado que ‘POESIA É UMA ATITUDE INEQUÍVOCA DA ALMA’. Para Rilke, parecia com ‘SERES MISTERIOSOS CUJA VIDA IMPERECÍVEL ACOMPANHA NOSSA VIDA EFÊMERA’. Dissemos também que o professor Pedro Lyra dimensionou, com notável singularidade, o conceito de ‘poesia’ para além de sua definição meramente abstrata, ao lecionar que ‘poesia’ seria “A TRANSITIVIDADE DO SER”. Atentos a tantas informações, amigos leitores nos informam que *Federico Garcia Lorca se questionava: "Mas o que vou dizer da Poesia? O que vou dizer destas nuvens, deste céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo, e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada da poesia. Isso fica para os críticos e professores. Mas nem tu, nem eu, nem poeta algum sabemos o que é a poesia". 

“FIAT LUX” – Faça-se a luz! E a luz se fez... Agora podemos dar continuidade aos nossos estudos, sabendo-se que uma de nossas iniciantes trouxe a lume oportuno depoimento a demonstrar que o ENTENDIMENTO de nossa proposta inicial foi alcançado, no sentido de que compor um poema (através de qualquer forma de expressão) é ‘REVELAR AO MUNDO EXTERIOR, SEM MEDO, UMA ATITUDE DA ALMA HUMANA, EQUIVALENTE À AÇÃO DE TRANSITIVIDADE DO SER, DO UNIVERSO ESPIRITUAL ATÉ O MUNDO EXTERIOR. Sem nenhum induzimento de ordem técnica, filosófica ou científica, as observações da poetisa estão a nos prestar valioso auxílio. É assim que pretendemos usar nossos próprios recursos, sem nos apegarmos demasiado às teorias acadêmicas já quase desaparecidas na neblina dos séculos precedentes, em que sempre prevaleceu o discurso dos teóricos. 

PALAVRAS da iniciante : “(...). ... O módulo (três) foi o de que mais gostei e o que falou muito ao meu coração. Eu poderia dizer que sua instrução tão magnífica pode ser usada não somente para nós iniciantes em literatura, mas pode ser usada em nossas vidas. O medo é um dos piores sentimentos, medo de errar, de criar, de não ser 'aceito' e de desagradar. Nossa alma não tem medo. Mas eu escrevia com receio, como disse no módulo. No meu caso, receio que eu me justificava por falta de cultura. Quando eu lia os perfis de escritores, geralmente mestres em literatura, batia um medo terrível da tal exclusão que o senhor explica bem. Mesmo assim eu escrevia porque eu sentia que perante meus amigos, eu era uma verdadeira escritora e com o tempo deixei a timidez de lado e tudo o que hoje escrevo é com minha alma. Tudo que faço na vida é com  o coração desde menina e era motivo de criticas . Convivi com isso a vida toda, ser diferente e aprendi que não me pertencia a opinião de pensadores, eu não penso, eu sinto e ajo. Hoje depois de ler este módulo estou vendo que sempre caminhei pela maneira certa e ler que tenho ternura foi meu maior presente". 

A escritora iniciante - tal como ocorreu em "Carta a um Jovem Poeta" de Rilke, enviou-nos um poema de sua autoria de autoria com o objetivo – EXCLUSIVO – de servir de auxílio ou parâmetro para a identificação dos elementos, materiais e imateriais, que justificam a composição da obra literária como expressão de uma ATITUDE DA ALMA HUMANA EM TRANSITIVIDADE, de acordo com as orientações repassadas através dos três módulos anteriores, nos quais deixamos claro que não somos simpatizantes da crítica alheia aos elementos psicodualistas da poesia como direito fundamental indisponível da alma humana. Por isso mesmo, na evolução de nossos trabalhos, procuraremos utilizar como exemplos práticos, o quanto possível, obras literárias de autores contemporâneos nacionais vivos, com o mínimo aconselhável de itações concretas, dos quais podemos extrair o seguinte:

PALAVRA – VOCÁBULO – VOCABULÁRIO – Por mais primitivo que seja o sistema linguístico de comunicação humana, dele jamais pode o homem se afastar. E o passo inicial para a realização de qualquer trabalho escrito (sem oralidade) é o CONHECIMENTO ‘SUPOSTAMENTE’ EXATO DO VOCABULÁRIO. ‘Supostamente’, porque temos por convicção – já o dissemos – que o mundo dualista da ‘poesia’ não se submete a nenhum princípio que tenha caráter de ‘definitividade’ literária. Nele, nada é ‘definitivo’, assim como acontece com os princípios da matemática avançada ou da física quântica. É vulgar o uso de fórmulas ou conceitos impostos pelas ciências exatas na área da linguística ou da metalinguística, estas em irrefreável evolução. 

NA ESTEIRA do que nos foi transmitido pelo Professor *José Oiticica (in ‘Manual de Estilo’, Livraria Francisco Alves, 1944, ‘Curso de Literatura’, Ed. Germinal, 1960, ’Apontamentos de Aula’), há dois critérios para o agrupamento do sistema da língua portuguesa: o MORFOLÓGICO e o SEMÂNTICO. O primeiro permite, inclusive, e especialmente aos poetas, CRIAR NOVOS VOCÁBULOS para a construção de ALEGORIAS ou METÁFORAS. Isso diz respeito – apesar de sua adequação ao sistema linguístico – a uma ‘dica’ de como criar novas palavras na seara da EXTENSÃO DO VOCABULÁRIO E DE SUAS LICENCIOSIDADES. E esse termo é considerado nas suas diversas acepções, em cada MOMENTO ou ÉPOCA, no TEMPO ou no ESPAÇO. Enfim, na área do fato cultural linguístico ou metalinguístico, palavra, vocábulo e vocabulário são legados que atravessaram milênios como INSTRUMENTOS DE COMUNICAÇÃO NO TRABALHO DO POETA: nas artes da escrita como nas artes plásticas, musicais, esculturais, imagísticas, visuais, virtuais, cinematográficas, marciais, psicográficas, ficcionistas, telepáticas, teatrais, ilusionistas, concretistas, abstracionistas ou de ficção... Não há como descartar essa condição da cultura humana. A despeito da criação tecnológica moderna na área da comunicação digital, ainda está para nascer da genialidade humana uma obra que tenha o condão de estabelecer a plenitude da Paz. 

AS PALAVRAS seduzem, incitam e encantam a alma humana. Do ponto de vista da inteligência, a palavras suscitam, geralmente, as imagens dos diversos aspectos da vida no mundo ao redor do poeta. Cada palavra tem o seu valor e/ou peso próprios, uma vez que cada aspecto é conhecido pelo seu característico e recebe um NOME no mundo real ou fictício. Tudo o que é feito pelo homem é identificado pelo nome. Através das ações e estímulos, o ser humano se manifesta. Há manifestações da vontade real ou meramente suposta. Há as ações puramente mentais, em que a manifestação da vontade está presente. Há os fenômenos atinentes exclusivamente ao homem, como parte integrante da natureza: fenômenos psíquicos, puramente instintivos ou anímicos e espirituais. Há os resultados e criações das atividades humanas. Há as concepções e percepções sensoriais ou extrassensoriais... 

Com toda justiça, cumpre-me destacar aqui a propriedade do texto que nos enviou a todos a autorizada companheira de escrita *Analuz Carvalho sobre ‘AS PALAVRAS ESCRITAS, AS PALAVRAS FALADAS’, mercê da sua beleza e oportunidade, um pequeno texto de profunda reflexão a despeito dos propósitos desta incursão autoral no campo ilimitado da ‘Magia da Expressão Literária’. Seja bem-vinda Analuz, minha mais recente interagente, que assim se expressa: “Afirma um ditado popular que “as palavras voam, os escritos permanecem”. Não creio que seja assim tão simples. Palavras quando são proferidas deixam ecos em nossas vidas. Penso assim. As palavras sempre ficam, sejam proferidas ou sejam escritas. Se me falares, mesmo que sussurrando, que me amas, eu acreditarei. Mas se me escreveres: Eu te “amo”, acreditarei ainda mais. Se me disseres da tua saudade eu a perceberei. Mas se me escreveres sobre ela, eu a sentirei tangível junto contigo. Se a tristeza vier a te exaurir, te ferindo como um espinho e me disseres, eu saberei que estás sofrendo. Mas se a descreveres no papel natural ou virtual, a sua importância será menor e ficarás amparado. Lembremos sempre o poder das palavras, pois já li que “quem escreve constrói um castelo, e quem lê passa a habitá-lo” (Analuz Carvalho).

ANTES de destacar no próximo módulo a questão da ‘Arte de Escrever com Estilo’ como um ‘Atributo da Individualidade Humana’, será de bom hábito que os iniciantes tomem conhecimento – o quanto antes – de um propósito cultural revelado no início do século passado, que se tivesse vingado, teria transformado a Semana da Arte Moderna de 1922 num dos maiores desastres da literatura brasileira. Trata-se do “MANIFESTO FUTURISTA” de *Osvald de Andrade, visto pelo prisma moderado do notável poeta mineiro *Ângelo d’Ávila, difundido, entre outros, como um dos adeptos do mencionado ‘movimento’ ainda não totalmente superado no Brasil. Ângelo descarta as feições anarquistas daquele propósito e propõe outra vertente denominada ‘neofuturismo’, como forma de resgate das particularidades literárias positivas do movimento. Justifica Ângelo d’Ávila: 

“Oswald de Andrade [1890-1954] pretendeu batizar com o nome de Futurismo o movimento da semana de 1922, influenciado por Filippo T. Marinetti, escritor italiano [1878-1944], que propunha a aniquilação definitiva das formas poéticas tradicionais, anunciando uma arte expressiva da era das máquinas e da velocidade, cujo objetivo seria:  

‘Destruir a sintaxe; usar o verbo no infinito; abolir o adjetivo e o advérbio; acompanhar cada substantivo de outro com função adjetiva; suprimir a pontuação; buscar gradações de analogia cada vez mais simples; abolir categorias de imagens; obter máxima desordem; abolir elementos psicológicos’.

Lançou o Manifesto Futurista publicado no jornal parisiense 'Le Figaro', em 1909. Contudo, prevaleceu o batismo do Modernismo proposto por Mário de Andrade [1893-1945]. Surgiram diretrizes rivais antagônicas, tais as indefinidas na revista Klaxon, seguidas pelo Manifesto Pau Brasil [1922/23], de Oswald de Andrade, e as tendências nacionalistas de Plínio Salgado [Anta e Verdeamarelismo] em 1925, culminando com a Antropofagia [1928] também de Oswald de Andrade. 

Daí sucedeu que a obra de Oswald de Andrade pendeu mais para o lado do futurismo, enquanto o modernismo, com a m℮ta de anular a futura geração de 45, descaracterizou-se nas tentativas do vanguardismo intitulado de concretismo, neoconcretismo, poesia-práxis, poema-processo, arte-correio, chegando ao pós-modernismo onde se estereotipou numa posição confusa do academicismo consagrado pela tradição secular lega pelos clássicos e suas vertentes. 

O modernismo anarquizou-se, não criou escola literária por falta de método, desapareceu nos países da língua espanhola com nome de ultraísmo, estilo de vanguarda adotado por Rubem Darío, Huidobro e outros, com método próprio”.

E propõe:

“Então chegou a hora de novas tentativas, razão que proponho reatar os liames deixados por Marinetti e Oswald de Andrade, para inovar, renovar e metodizar o movimento modernista de 1922 rebatizado de 'neofuturismo', já que o vanguardismo não conseguiu alcançar este desiderato. Neofuturismo não é poesia do futuro, senão presente nas correrias e violências atuais que precisam ser denunciadas na vida social de um povo”. 

Esta citação tem por objetivo despertar os iniciantes no ofício literária para a necessidade de estudos e análises complementares a respeito da História da Literatura Brasileira e suas correlações com o uso da PALAVRA como elemento nuclear do sistema linguístico nacional. Questiona-se: pode o sistema linguístico de um povo EVOLUIR repentinamente por força de movimentos, modismos, vertentes, novidades, histeria tribal, tendências regionais, concepções políticas ou por força de legislação local submetida à eficácia de convenções internacionais? 

O ‘Manifesto Futurista’ do anarquista Oswald de Andrade propunha ‘Destruir a sintaxe, usar o verbo no infinitivo, abolir o adjetivo e o advérbio, acompanhar cada substantivo de outro com função adjetiva, suprimir a pontuação, buscar gradações de analogia cada vez mais simples, abolir categorias de imagens, obter a máxima desordem e abolir elementos psicológicos’.

Não sabemos... A resposta pertence aos iniciantes na arte da literatura no país como no exterior, nunca radicalmente desobedientes aos princípios básicos delineados pelas culturas ocidentais ou orientais legadas pelos ancestrais mais primitivos da humanidade.  

*Federico Garcia Lorca, nasceu em Fuentevaqueros (Granada) em 5 de junho de 1898 e morreu assassinado em Viznar (Granada), uma das primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola, em 19 de agosto de 1936. Foi dotado de uma personalidade extraordinariamente voltada para a arte. Além de ser um grande poeta, teve também alguns pendores musicais, tendo feito, ainda, alguns desenhos. É Garcia Lorca, com certeza, o poeta espanhol mais conhecido universalmente, só perdendo para Cervantes no número de edições e traduções de suas obras.

*José Rodrigues Leite e Oiticica (Oliveira, 22 de julho de 1882 — Rio de Janeiro, 30 de junho de 1957) professor, poeta parnasiano, filólogo e notável anarquista brasileiro. Foi membro da Fraternitas Rosicruciana Antiqua, estudou Direito e Medicina, não tendo concluído nenhum dos dois cursos em favor do magistério e da pesquisa filológica. No plano político foi um dos grandes articuladores da Insurreição anarquista de 1918 que inspirada pela Revolução Russa pretendia derrubar o governo central na capital do país.

*Ângelo d’Ávila, é mineiro de Araxá, MG, onde nasceu em 1924. É membro da  Associação Nacional dos Escritores de Brasília (ANE), do Sindicato dos Escritores de Brasília, e das seguintes entidades: Titular da cadeira XXXVI da Academia de Letras de Brasília (DF),  membro correspondentes das academias:  Petropolitana de Poesia Raul de Leoni (RJ), Internacional de Letras “3 Fronteiras” e Uruguaiana de Letras (RS), Pirenopolina de Letras e Música (GO) e Araxaense de Letras (MG); sócio do Clube de Poesia da Associação Uruguaianense de Escritores e Editores e do Clube Internacional da Boa Leitura (RS) e outras agremiações ligadas à cultura e à astronomia. Tem dez volumes publicados, colabora em revistas literárias, jornais e antologias, premiado em concursos  de contos, romance e poesia. Estudou Farmácia e Bioquímica, Línguas Neolatinas e cursos de pós-graduação concernentes ao exercício profissional. Ex-professor, ex-diretor de colégio, servidor público aposentado, reside em Brasília.

*Analuz Carvalho, é carioca, nascida em 26 de março de 1962, trabalha em educação, é servidora pública do Estado do Rio de Janeiro, sempre residiu no Rio onde se formou em Ciências Sociais do ensino superior pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sua notoriedade veio se despertando pela forma literária com que se comunica em perfis nas redes sociais, onde se destacam seu estilo autoral, engajado, participativo, fluente e familiar, de conteúdo simbolista com intensa carga de propósito de autoajuda através de sua vocação expressa em seus textos evidentemente direcionados ao patamar da espiritualidade, do altruísmo, da solidariedade social, por vezes com nuances críticos e cívicos em políticas públicas e justiça social, numa feliz diversidade de conhecimentos humanos com os quais seduz a atenção dos leitores habituados com a boa linguagem agasalhada pela língua portuguesa bem escrita e bem falada. Estilo autoral, ou próprio e único, Analuz Carvalho deve ser considerada uma escritora resolvida entre nós.

Afonso Estebanez