domingo, 11 de dezembro de 2016

PASTOREIO I

Depois que aqui for deixado
e todos tiverem ido
vou ser vento libertado
pelas mãos dos desvalidos
espalhando flor e pólen
no solo fertilizado
com o pranto dos oprimidos.

Vou soltar as estribeiras
cavalgar nuvens em pêlo
e aboiar as corredeiras
de meus rios represados.
Vou montar a liberdade
fingida das carpideiras
na pena dos condenados.

Sob os lábios comprimidos
dente por dente calado
olho por olho cerrado
na masmorra dos sentidos.
Vou virar redemoinhos
e girar pelos caminhos
como pássaros banidos.

Meus sonhos pagens de ninfas
luzes sombras sobre os lagos
prado em flor de claras tintas
e mistérios desvendados.
Vou apascentar meus mortos
na paz de ovelhas famintas
entre lobos saciados.


Afonso Estebanez Stael

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