sexta-feira, 18 de novembro de 2016

AMOR SAPIENS
(Cena III)



Vejo as flores se abrindo para o sol
e as sombras que as acolhem, nada mais.
E falo com as reses à beira do caminho
e converso com as árvores e o vento
que me respondem quando passo 
e os cumprimento... 

É por ti, mas não de ti
esse pressentimento de estar em mim
um pastor de sonhos que se realizam
na canção de um regato entre folhagens
na pequenina flor cativa de um abismo
ou no múltiplo instante da germinação
das orquídeas que ornam meu jardim...

O que levas de mim não está naquilo 
que tuas mãos alcançam!
E o que tuas mãos alcançam não está
na ânsia de alcançar...O que não levas 
de mim é o que está consubstanciado 
no incógnito perfume de uma sombra
ou no código não decifrado na memória 
da arrebentação da brisa nos canaviais
ou dos sonhos que de manhã 
já não te lembras mais... 

Afonso Estebanez 

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