A MAGIA DA EXPRESSÃO LITERÁRIA
OFICINA LITERÁRIA - MÓDULO 10
“O UNIVERSO DA LINGUAGEM”
(Metáforas)
O UNIVERSO DA LINGUAGEM
*Joaquim Moncks
“Amigo e Mestre: tenho acompanhado, com encantamento, as
tuas postagens. Questiono qual o papel do poeta na atualidade? E se nós estamos
conseguindo ser lidos, interpretados e mais do que isso, se a nossa mensagem
central e, portanto, existencial, tem sido minimamente absorvida? Mudar a
direção? Parece paradoxal... Deveríamos ser poetas de uma simplicidade
franciscana abolindo o uso de metáforas, a exemplo do nosso Mário? Não sei.
Dúvidas persistem. Talvez muitos leitores não estejam dispostos a um exercício
de reflexão a um nível tão profundamente abstrato. O problema situa-se na
decodificação. Um saudoso abraço”
(Cassiano Gilberto Santos Cabral, poeta, via Facebook, em 30Ago2017).
Salve poetamigo Cassiano! Todas as tuas perguntas são de
difícil resposta, porque para chegar a uma boa conclusão pessoal para cada uma
delas, em regra teríamos, no mínimo, que contar com pesquisas de opinião, de
modo a que se pudesse adentrar a uma veracidade responsável, possivelmente
utilizando dados reais com tabulações estatísticas. Este seria um caminho,
apenas. Por certo haverá outros.
Quanto ao problema da "decodificação" que o
poeta-leitor terá de fazer, também é um fato veraz e o teu questionamento geral
contém o exercício da sabedoria. Abolir o uso das figuras de linguagem, em
especial a utilização da metaforização, chega-me como impossível, porque tenho
que sem a metáfora profunda (porque existe a rasa ou superficial) não se
consegue chegar à poesia, no máximo à prosa poética. Ter-se-á, portanto, sem a
metáfora, uma composição poética sem o comparecimento da Poesia como gênero
literário. Vale dizer: apenas um derramamento verbal provindo da intuição e do
sentir, assentado no intimismo lírico, o qual, por ser a consolidação verbal
momentânea do que o autor deixa fluir sobre tal ou qual assunto, não chega à
utilização da palavra no sentido CONOTATIVO e, sim, enclausura-se e se basta
com a utilização do sentido DENOTATIVO. (São versos, somente versos, sem que a
Poesia compareça esteticamente, e isso é muito comum de ocorrer em nosso meio,
porque o ingênuo autor não sabe, tecnicamente, em que gênero ou espécie
literária está a se comunicar).
Os dois tipos de metáforas, a de palavra e a de imagem têm
este condão: dar ao conjunto de palavras do poema, através da subversão do
sentido original dos vocábulos utilizados, criando conotações que levam ao
patamar estético do Novo (daí o estranhamento) em ideias e em linguagem. Quanto
ao Mário Quintana, muito cuidado, não há nenhuma "simplicidade
franciscana" em sua poética. As peças poéticas referentes à sua maturidade
em Poesia (a partir dos seus 70 anos, em 1976) não são, a meu ver, assim tão
simples, e comparecem em seu espírito como resultado da utilização da ironia
como pedra-de-toque utilizando certa singeleza verbal que constrói,
repentinamente, uma metáfora de imagem utilizando vocábulos sem a pretensão de
complicar a cuca do poeta-leitor. no entanto, concordo que tanto Manuel
Bandeira quanto Quintana não foram ‘rebuscados’ (quanto à utilização de
vocábulos de difícil entendimento) como parece ser o caso de João Cabral,
Drummond ou Murilo Mendes; de Fernando Pessoa (que cria o poema pensando a
partir dos conceituais léxico-morfológicos do idioma de Shakespeare, mesmo quando
transpõe essas ideias e temáticas para o idioma português) ou Ezra Pound,
Elliot e Blake, na poesia de língua inglesa.
Por último: cada autor escolhe o perfil de seu leitor, se
culto, mediano ou primário. Há público para cada composição poética. A Poesia
nasce em decorrência de como o autor do poema observa os fatos da realidade e o
traveste como proposta verbal, porque cada qual vê o mundo segundo o vê ou o
concebe individualmente. Ao demais, não é o autor quem dá vida ao poema, e sim
o poeta-leitor, quando se apossa do poema e o traz ao mundo dos fatos como se
fora verdade plena. E todos nós sabemos que o "poeta é um fingidor"
que se locupleta do inconsciente coletivo e trabalha – para forjar o poema –
utilizando-se da farsa, da fantasia e do sonho presentes no seu estro criador.
Tudo depende de sua capacidade inventiva. Enfim, todo poema é abstração pejada
de inverdades, pois não pertence aos territórios do mundo real, mas o leitor
dará a este o sentido que a ele aprouver, segundo o seu patamar de conhecimentos
e de leitura do mundo, fazendo dele a sua verdade salvadora. Se bem que não é o
autor que escolhe o seu público, e sim o leitor quem escolhe o seu poeta, por
entender que ele fala a sua linguagem.
Portanto, o importante mesmo é escrever e publicar. O porvir
dirá quem agradou a quem e o que por eles foi absorvido para possíveis
aplicações no universo individual da sensibilidade e da consciência. Escreve
sem medo. Parece-me ser esta a única escolha consciente que pertine ao escriba.
Quem sabe fosse útil trazer ao plano da realidade pensamental o aforismo de
William Blake: “Quem nunca altera a sua opinião é como a água parada e começa a
criar répteis no espírito.”.
– Do livro inédito OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir
Poético, vol. 02; 2015/17.
*Joaquim Moncks, escritor e poeta, Acadêmico Titular da
Cadeira 19, patronímica de Cezimbra Jacques da Academia Rio-Grandense de Letras
(ARL) e Titular Acadêmico da Academia Sul-Brasileira de Letras, Oficial da
Polícia Militar da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, Mora em Porto Alegre,
Rio Grande do Sul. Dados biográficos de 16 de agosto de 2017.
COMENTÁRIOS SOBRE O AUTOR:
Afonso Estebanez
Stael: Maravilhoso texto, exuberantemente elucidativo e eficaz
dos pontos de vista literário, educacional e pedagógico. Encantado, vamos
divulgar esta pérola literária que nos traz à luz, neste momento de desmonte,
pela mídia, da língua portuguesa falada e escrita, o nome venturoso de Joaquim
Monks a quem agradeço, aplaudo e reverencio pela amizade e pelo seu "O
UNIVERSO DA LINGUAGEM".
Ligia Lacerda: “Este texto é esplêndido! Muito bem
elaborado, embasado e de fácil compreensão. Leitura útil e prazerosa”
Sandra L. Stabile: “Muito bom o texto amigo , estava
precisando de ler esse texto para responder a algumas questões que me fizeram”.
Antonio Luis Alves: “Para ler uma vez, continuar lendo e
sempre encontrando alguma coisa nova. Este texto tem essa maravilha de
encantando sempre”.
Elias Borges: “Certa vez Millôr, explicando a necessidade
da metáfora, proferiu: ‘O fogo da paixão, como qualquer outro fogo, não vive
sem oxigênio’. Parabéns pela clareza, amigo Joaquim Moncks. Hoje observo que você já se permite dizer que
há poetas e poetas”.
Cassiano Gilberto Santos Cabral: “Moncks: agradeço a aula
magistral notabilizando conhecimento e inspiração sublimada. És mestre de todos
nós e é muito bom saber que nos apontas a direção dos ventos. Com certeza, a
decodificação pertence ao público que ė o nosso interprete. Concordo que o não
uso da metafora reduz o alcance mágico da poesia. És profundo e notável, amigo,
e eu me sinto honrado com a tua amizade e deferência”.
Oscar Brisolara Parabéns: “Meu amigo e confrade Joaquim Moncks, agradeço pela lucidez do teu texto. Ouço no
teu texto o clamor de uma voz que provém dos recônditos do universo, mas que apela
ao meu espírito com a doçura da poesia. Meu irmão, este espaço está sempre à
tua disposição. Mais uma vez, cumprimentos pela luminosidade de tuas palavras”.
Maricler
De Campos Ruwer: “Texto Maravilhoso, para ser trabalhado pelos
Professores de todas as Línguas e todas as áreas de Ensino. A Mágica das Entrelinhas na Linguagem
escrita! ‘O UNIVERSO DA LINGUAGEM’ - Joaquim Moncks". Paz e Luz... Mestre
e o Sempre Carinho, da Cler Ruvver.
Um comentário:
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