domingo, 4 de dezembro de 2016


A MAGIA DA EXPRESSÃO LITERÁRIA
OFICINA – MÓDULO 05
DA ARTE DE ESCREVER SEM MEDO 
*UMA VOLTA AOS MÓDULOS ANTERIORES*



NO ÚLTIMO módulo deixamos uma pequena abertura para lembrar que o “Manifesto Futurista” proposto por Oswald de Andrade durante a Semana de Arte Moderna de 1922, transformou-se num movimento visto depois com restrições pelas gerações denominadas ‘pós-modernistas’, já que o ‘futurismo’ do autor de ‘Poesia Pau Brasil’ implicava em injustificável desordem ortográfica no sistema linguístico nacional. Citamos, então, o notável poeta mineiro *Ângelo d’Ávila, tido como um dos adeptos do mencionado ‘movimento’ ainda não totalmente superado no Brasil, visto que Ângelo tem descartado as feições anarquistas daquele propósito, propondo outra vertente denominada ‘neofuturismo’, como forma de resgate das particularidades literárias aparentemente não descartáveis daquele ‘movimento’. 

DADA a repercussão positiva da lembrança, é imperioso voltar nossas atenções novamente para os módulos anteriores, ao propósito de que fiquem bem acentuados os fundamentos da ARTE DE ESCREVER SEM MEDO, a partir de uma ATITUDE DA ALMA HUMANA a completar-se o ciclo da TRANSITIVIDADE DO SER À MATERIALIDADE DO POEMA, seja através de uma atitude meramente artística, mística, filosófica, crítica ou científica. Todo ato humano é cometido com base num PROPÓSITO que o realiza. Viver é um propósito humano. Viver em estado de felicidade é o propósito ideal da humanidade.

“DEVE ser necessário um poderoso bloqueio mental para chegar alguém ao termo de uma vida mais ou menos longa sem ter aprendido algo de próprio da ciência e da arte de viver, e é de se imaginar quantos grãos de sabedoria da vida hão de se ter perdido, inaproveitáveis para a maioria, aproveitados exclusivamente por algumas criaturas às quais não terá sido dada ocasião em que pudessem fazer do que sabiam um legado útil a seus semelhantes. Quantas vezes nos ocorre, a este ou àquele PROPÓSITO, uma FRASE ou ATITUDE que guardamos de um nosso tio ou avô, como sinal de singular sabedoria em certas circunstâncias? – Ora, os filósofos e os poetas (um bom  filósofo não ser também poeta é tão difícil quanto um bom poeta não ser também filósofo) são como que bem avisados tios e avós de todos nós, felizmente dotados de uma sensibilidade e de uma inteligência mais apuradas, exercitadas além de tudo” (*Geir Campos, in prefácio de ‘Cartas a Um Jovem Poeta’, Rainer Maria Rilke, Tecnoprint Gráfica, Rio de Janeiro,1967).

“ATITUDE” é dinâmica do potencial de capacidade de lidar com a realidade dos mundos interior e exterior, diante dos FATOS, SITUAÇÕES, CIRCUNSTÂNCIAS, SERES e GENTE. É um procedimento humano que a um só tempo influencia e sofre influências de fatores internos e externos, alteração das bases emocionais, psicológicas e cognitivas, alcançando um estado de alma que, no caso da arte, concebe-lhe, cria-lhe e promove-lhe existência.

QUESTÕES fundamentais sobre a atitude humana e seu universo de variantes estão no lançamento da Editora LGE: Atitude - O QUE NINGUÉM PODE FAZER POR MIM, de Mônica Zarat Pedrosa Campetti e Geraldo Campetti Sobrinho. ‘A obra responde a dúvidas sobre temas instigantes do cotidiano: escolhas e suas conseqüências, gerenciamento do tempo, autoconhecimento, comportamento, motivação, desenvolvimento pessoal, capacitação profissional, autoaceitação, revisão de paradigmas, medos, relacionamento interpessoal, ansiedade’.

ATITUDE seria, em suma, o que ninguém pode fazer por nós, num processo gradativo de autoconquista, tornando conscientes HABILIDADES, POTENCIAIS, VIRTUDES e HÁBITOS. Quem quiser penetrar no mundo da arte de escrever sem medo, deve estar convidado por si mesmo a empreender essa jornada interior, desde que há sempre algo de novo para descobrir e aprender, tal como diz a famosa afirmação de Sócrates: ”Só sei que nada sei”. Esta é a fundamental verdade filosófica onde todos se devem apoiar. Mas um dos principais atributos da ATITUDE DA ALMA HUMANA é ser interrogante sobre FATOS, IDEIAS, COMETIMENTOS, SITUAÇÕES e COMPORTAMENTOS, principalmente os que dizem respeito a nós mesmos como produtos de nossos propósitos mais secretos. Nosso notável poeta e amigo *Jaak Bosmans nos lembra – com muita propriedade – o ensinamento de Immanuel Kant: "Avalia-se a inteligência de um indivíduo pela quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar".

A “ATITUDE MÍSTICA” DA ALMA HUMANA, segundo o poeta, filósofo e pensador *Carlos Bernardo González Pecotche: “Sendo a essência de um sentir espiritual, a mística manifesta-se livre e espontaneamente no íntimo de cada ser. O temperamento místico é inato na alma humana, e adquire seu sentido ideal quando expressa a aspiração de identificar-se com a alma universal. No próprio instante em que toma contato com a vida, ao nascer, o ser pronuncia sua primeira exclamação mística: é o grito incontido do primeiro triunfo sobre sua natureza. Repete-a pela última vez” (...) no momento da morte.

PECOTCHE explica que a atitude mística se desenvolve no homem segundo seus sentimentos. Quanto maior for a evolução, tanto mais íntima, delicada e sublime será a pureza de EXPRESSÃO NA ATITUDE CULTA. Ao SUBMERGIR-SE NAS PROFUNDIDADES DE SEU SER, para perscrutar os desígnios de sua vida, e emergir depois na superfície da consciência resplandecente de júbilo, o homem não pode se sentir nada menos do que maravilhado diante do supremo pensamento que animou sua existência.

“ESSA mesma sensação – elucida Pecotche – de encantamento e esplendor, ele a experimenta diante de tudo o que comove sua inteligência; do que transcende o vulgar e fácil; diante da inefável pureza do belo, do heróico e do grande, seja em gestos, em fatos ou façanhas, e, enfim, diante de tudo o que, de uma ou de outra maneira, o incline a RENDER UM CULTO E UMA ESTIMA QUE NÃO SE SENTE INSPIRADO A TRIBUTAR SENÃO AO QUE PROMOVE O PRONUNCIAMENTO DE SEU ESPÍRITO”.

ISSO não é outra coisa senão aquilo que deriva da mística em sua essência mais pura. NA ARTE DE ESCREVER, o soneto, o sonetilho, o rondó, o rondel, a balada, o canto real, o vilancete, a vilanela, a sextina, o pantum, a sextilha, o epigrama, o poemeto, a trova, o poemínimo, o haicai, a quadra popular, a poesia-síntese, o verso livre, o verso branco, o épico, o satírico, o sinfônico, o lírico, o dramático, o poema em prosa, o verso intermediário, o poemagético, o visual, o repente, o cordel, o lógico, o ficcional, enfim, seja o que for que tenha base no PROPÓSITO ARTÍSTICO CAPAZ DE MATERIALIZAR UMA ATITUDE DA ALMA, de natureza linguística ou metalinguística, são reações naturais da sensibilidade do espírito diante do que exalte a consideração humana, maravilhe a razão ou estimule fortemente a consciência, merecendo o conceito de ATITUDE MÍSTICA DA ALMA, simplesmente porque essas ATITUDES revelam a presença, no homem, de sentimentos e instintos que expressam ou tornam manifesto o mais puro e sublime de sua natureza. E do ponto de vista literário, pode-se afirmar que tais ATITUDES ASCENDEM AO DIVINO, UMA VEZ QUE ULTRAPASSAM O PLANO DAS MANIFESTAÇÕES HABITUAIS (Trechos absorvidos do livro ‘O Mecanismo da Vida Consciente’, p.111).

UM TEXTO do poeta e pensador Jaak Bosmans, proporcional aos elementos orientadores deste Módulo:
"SEM POEMAS SEM POESIAS"

Como é bom receber poemas e poesias!
Como seria bom!
Como seria bom se cada uma delas fossem reais!
Reais como sentimentos ocultos de quem nos envia.
Com o rosto descoberto, um sorriso aberto.
Talvez nem fosse necessário tanto poema e tanta poesia!
Apenas nos dizer palavras simples, sem simbologias gráficas ou sonoras.
Nos mostrar que valemos a pena, por ser mais que um simples amigo. 
Que somos a própria poesia e o próprio poema, um para o outro!
Jaak Bosmans” 

*José Oswald de Sousa de Andrade (São Paulo, 11 de janeiro de 1890 - São Paulo, 22 de outubro de 1954) foi um escritor, ensaísta e dramaturgo brasileiro. Era filho único de José Oswald Nogueira de Andrade e de Inês Henriqueta Inglês de Sousa Andrade. Seu nome pronuncia-se com acento na letra a (Oswáld). Foi um dos promotores da Semana de Arte Moderna que ocorreu 1922 em São Paulo, tornando-se um dos grandes nomes do modernismo literário brasileiro. Foi considerado pela crítica como o elemento mais rebelde do grupo.

*Ângelo d’Ávila, é mineiro de Araxá, MG, onde nasceu em 1924. É membro da  Associação Nacional dos Escritores de Brasília (ANE), do Sindicato dos Escritores de Brasília, e das seguintes entidades: Titular da cadeira XXXVI da Academia de Letras de Brasília (DF),  membro correspondentes das academias:  Petropolitana de Poesia Raul de Leoni (RJ), Internacional de Letras “3 Fronteiras” e Uruguaiana de Letras (RS), Pirenopolina de Letras e Música (GO) e Araxaense de Letras (MG); sócio do Clube de Poesia da Associação Uruguaianense de Escritores e Editores e do Clube Internacional da Boa Leitura (RS) e outras agremiações ligadas à cultura. 

*Geir Nuffer Campos, poeta, jornalista e ativista cultural de grande presença e influência na literatura brasileira. Nasceu em São José do Calçado (ES) em 1924. Foi piloto da marinha mercante e ex-combatente civil na Segunda Guerra Mundial. Formado em Direção Teatral (FEFIERJ-MEC, Rio), mestre e doutor em Comunicação Social pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com Thiago de Mello fundou a editora Hipocampo, marco nas artes gráficas do livro brasileiro. Obra extensa e de valor imorredouro.

*Arthur Jaak Wilfrid Bosmans (Jaak Bosmans). Nascido em Belo Horizonte, curso de cinema na Bélgica, Publicitário com várias premiações, cursou Belas Artes na Guignard, sete anos de estudo de música clássica [piano], escreve desde 1972, com um intervalo de mais de 30 anos parado, retornando em 2005. Ex-professor de cinema e literatura na Universidade e criador em 2002 do Poemagem, criador do curso de Cinema e literatura na sala de aula no curso de especialização com a Drª em literatura, Kenia de Almeida.

*Carlos Bernardo González Pecotche nasceu em Buenos Aires, Argentina, em 11 de Agosto de 1901. Baseado na hierarquia e herança de seu próprio espírito, González Pecotche reagiu muito cedo contra a rotina dos conhecimentos correntes e sistemas usados para formação do ser humano. Criou e desenvolveu a Logosofia, uma nova linha de conhecimentos transcendentes e essenciais para a vida dos seres humanos. Sua original concepção de vida humana, de Deus, do Universo e suas leis, o coloca à frente dos grandes precursores da humanidade. Em 1930, instituiu Fundação Logosófica com o objetivo de difundir a nova ciência que havia criado, hoje expandida a vários países através de centros culturais onde se estuda e pratica esta nova linha de conhecimentos. O pensamento do criador da Logosofia é absolutamente original, isto é, González Pecotche não bebeu em fonte alguma. 

Afonso Estebanez

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