sábado, 25 de fevereiro de 2017

VOLÚPIA
Minha volúpia é pelo amor que desconheço
como o amor que perdi no cais do coração.
Aquele amor do qual eu hoje ainda padeço
de forma que a volúpia agora é compulsão.

De sempre procurar o amor sem endereço
eu me embrenhei numa torrente de ilusão,
do amor já não entendo nada se esclareço
que a volúpia inconfessa é caso de paixão.

Fico eu pensando agora como antigamente
passava acumulando amor no inconsciente
encostado no último esplendor da aurora...

Então agora eu reconheço que a demência
é uma forma de esconder na inconsciência
que o amor acabou mas nunca foi embora!

Afonso Estebanez
A MAGIA DA EXPRESSÃO LITERÁRIA
OFICINA – MODULAÇÃO INTERATIVA - 09
*DESCOMPLICAÇÃO DE MÉTODO*


Demos uma puxadinha no freio de mão da ansiedade. Mantenhamos-nos em ‘estado de graça’, tolerância e paciência. É tudo de que alguém precisa para fazer os primeiros contatos com a poesia. Se não encontrar a poesia, a poesia o encontrará. Poesia é uma verdade ínsita na alma humana. É um fato consumado a cada instante. E quando os dois se encontrarem – Poeta e Poema - haverá celebração. NÃO EXISTE METODOLOGIA DESCOMPLICADA OU CARTILHA ESPECÍFICA PARA O OFÍCIO DE POETA. Há, isto sim, um mínimo de preceitos básicos a serem observados, sem os quais não se pode alcançar o público leitor que lhe dará, ou não, reconhecimento e aprovação. É isto que estamos enfatizando, sem esquecer o inevitável mergulho do pensamento nas águas profundas do mundo interior. Há a necessidade imperiosa de passarmos pela experiência da solidão, em que ninguém pode – e nem tem o direito – de dar conselhos ao poeta, para quem só existe o caminho da penetração em si mesmo, à procura da necessidade de escrever e compor. Um poema, como peça de arte, só é bom quando nasce por necessidade. Para ser poeta, portanto, é preciso ter CIO PERMANENTE. Por outro lado, não seria sensato transformar a Oficina Literária numa sala de aula virtual, a menos que se preste ela a fornecer ‘dicas’ de poesia para diferentes graus de escolaridade. Não deve ser por aí. Cabe ao INTERAGENTE voltar o olhar para o seu “INTERIOR”, não para o ‘quê’ nem ‘como’ diz o professor. Façam isso com simplicidade, humildade, sinceridade, cumplicidade e calma. Sejam generosos com a própria alma...

Afonso Estebanez 
AMOR NÃO É SÓ INSTINTO


Há ‘sábios’ que pontificam 
que amor é só um instinto
para os crédulos como eu.
Mas os ‘tolos’ contradizem
pois que amor só é instinto
para quem nunca morreu.


O instinto é só um sentido
da matéria a que pertence
com si mesmo não condiz.
O instinto conforta a fome
e se farta ao que consome
mas o amor me faz feliz...


O instinto não vive eterno
nada lembra após a morte
para sempre não se apraz.
Mas amor é dom da graça,
permanente após a morte
enche a min’alma de paz...


Afonso Estebanez
A MAGIA DA EXPRESSÃO LITERÁRIA
OFICINA – MODULAÇÃO INTERATIVA - 08
*EM BUSCA DE ESTILO*


No âmbito das orientações a que nos propusemos passar, ainda não atingimos a parte relativa à ‘estilística’ ou ao ambicionado ‘estilo’, matéria que deverá ser abordada mais à frente. Estamos ainda no a-bê-cê de nossos estudos, seja numa breve e sucinta explanação sobre ‘conceitos’ (ou ‘definições’ como querem alguns equivocadamente) de ‘poesia’ e ‘poema’. Todavia, vamos tentar prestar algum esclarecimento face às suas indagações, de modo que a todos aproveite. A oficina já forneceu aos seus interessados três módulos iniciais, que devem ser estudados, analisados e submetidos a um consenso quanto ao seu aproveitamento com eficácia. Desde logo já se tem observado que nós usamos o pronome de tratamento no plural, eis porque, nestas circunstâncias, não apreciamos os ‘eumismos’ como regra de comunicação ‘erga omnes’ (entre todos). Ao assunto: referindo-se a uma ‘Obra em prosa em que há ficção e estilo poético’, uma interessada no tema indaga: “Onde se enquadra o que faço? Acho que isso define o que escrevo. Não sei quanto ao estilo, mas acho que é por ai, estou certa?”. E depois, diante da colocação que fizemos, seja ‘(..) confessando-nos face a face com um enigma que, a despeito de todas as ciências humanas, de todos os conhecimentos adquiridos pelo homem e das experiências vividas em todos os tempos pela humanidade, continua enigma!’, a estimada amiga volta a indagar: “O que continua um enigma, não entendi?”. E, por fim, quando nos referíamos à ‘Magia da Expressão Literária’ como produto de habilidade, talento, equilíbrio e harmonia, a amiga interagente indaga mais uma vez: “(...) acredito que tenho habilidade, até talento, o que fazer quanto sinto que falta equilíbrio e harmonia? Me fala? Se transforma em que, em tentativas disformes ou egocentrismo?”. Bem, respondemos com o uso de texto da própria interagente: “(...) pra que a sensibilidade flua em contradança com o amor, transcendendo o espaço, o tempo, a alma, como um jorro de luz, num surgir absoluto, sem medo, sem vergonha, liberto, apenas humano, apenas... Ser!”. Destacamos a figura de linguagem: “... pra que a sensibilidade flua em contradança com o amor” (...). No texto em destaque, a interagente, consciente ou inconscientemente, usou um recurso técnico de estilística conhecido como ‘impressionismo’ literário, o que ocorre quando as sensações invocadas são reveladas sem qualquer análise ou investigação quanto à autenticidade dos estímulos, se reais ou ilusórios. Este recurso é usado para causar efeito meramente estético, sem nenhuma preocupação analítica quanto à lógica da expressão. Nele, a noção do tempo é imprecisa, como num eterno fluir. Em geral as frases são curtas, sem preocupação com o nexo gramatical. A maioria dos textos da referida interagente, senão todos, mostra-se tendente a um encontro não muito distante com o estilo impressionista, a despeito da ausência de evidentes ‘propósitos poéticos’ em seus escritos, mais reveladores de traços da personalidade literária, do que da exclusivamente poética. Nada mais podemos revelar, por motivos éticos e de respeito à ‘busca’ empreendida pela interessada. Lembra-me o insigne poeta viajante Tchello d’Barros: “Buscai primeiro uma poética pessoal e todo o restante vos será acrescentado!” Quanto ao uso do termo ‘enigma’, foi para situar a ‘definição objetiva do fenômeno da poesia’ no patamar da transcendentalidade: o que se diz de onde se encontra tudo o que ultrapassa os limites da razão extraída da experiência humana. Quanto ao ‘equilíbrio’ e à ‘harmonia’que a poetisa interessada sugere faltar-lhe, respondemos que não é bem assim, desde que se tenha a arte de escrever ‘sem medo’como resultado do longo exercício da mente em busca da luz da sabedoria baseada na simplicidade, na paciência e na lealdade de propósitos. Já que o Aristóteles estaria sendo vencido pela velocidade do poder da tecnologia da comunicação humana, celebremos, cada um no todo, o amor que o imortal filósofo grego sustentou: ‘NOS AMAMUS QUIA VISUM PLACET’ – A arte do amor ao que é belo, estético e eterno... 

Afonso Estebanez 
POEMETO ELEVADO AO INFINITO

Esse olhar de deusa
grega é teu, mas todo
o horizonte dele, é meu. 
Eis que tu me chegas
com esse luar na fronte
cujo brilho é minha ponte
que de ti vai dar no céu


E sobre o mar da vida
aquela ponte de amor.
Mas do outro lado de ti,
espera meu coração
e a felicidade caçoando
da minha ridícula 
indecisão...


Afonso Estebanez

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

SONETO DA MEDITAÇÃOA MENSAGEM DO CAIS


A MENSAGEM DO CAIS


Era uma noite escura, nevoenta e fria.
Logo iria raiar cinzenta a madrugada.
O frêmito da água contra o cais gemia
e sibilava o vento na canção magoada.

E ali estivemos com a alma derrotada
enquanto nosso amor ali se despedia.
Se tu morrias de saudade antecipada,
eu de saudade antecipada morreria...

E foi assim que a terra santa me tirou
aquele amor nunca vivido e me levou
à peregrinação cruel sobre o inferno.

E sofri da notícia dita ao maltrapilho:
“Ela partiu!”. E eu virei um andarilho
 até reencontrar o meu amor eterno!

Afonso Estebanez

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

PASTOREIO DE PALAVRAS


Componho versos como quem conversa
com palavras conjuntas de um rebanho,
se uma ovelha mais simples se dispersa,
é no aprisco da mente que me entranho.


É sangrado de espinhos que acompanho
palavras com a compreensão submersa,
e em regressão de mim eu recomponho 
o rebanho ao contexto em que regressa.


Reescrevo histórias como quem retorna
do pastoreio agreste em que transforma
no amor do encontro a locução domada .


Deus pastoreia em mim os pensamentos,
enquanto escrevo aos látegos dos ventos
se ao meu pastor não faltará mais nada!


Afonso Estebanez

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

SONETO DA MEDITAÇÃO


Pode ser que amanhã eu amanheça
às margens da enseada de teu leito,
que meu amor de pronto reconheça
os carrilhões de sinos no meu peito.

Pode ser que já noite eu remanesça
da entranha de um estigma desfeito
tal que me seja dado que adormeça
ao lado de teu sonho onde me deito.

Então eu meditando sobre a estrada
que a nós uniu no fim da caminhada
eu cri que aquele enlace era destino.

Sofreste a dor do adeus naquele cais
e o que assomou das eras medievais
é a redenção do amor em desatino...

Afonso Estebanez

domingo, 19 de fevereiro de 2017

A MAGIA DA EXPRESSÃO LITERÁRIA
OFICINA – MODULAÇÃO INTERATIVA – 07
*OPÇÃO PELO CONCEITO DE POESIA*


Ao tratarmos do assunto ‘conceitos de poema e poesia’ no módulo pertinente, abrimos um horizonte necessariamente vasto à penetração do nosso próprio pensamento a respeito desse fato cultural, na expectativa de que, a qualquer momento ou em algum lugar da história da arte literária, devemos encontrar alguma similaridade entre os conceitos já firmados pelos estudiosos do assunto e o nosso conceito individual próprio a despeito do mesmo tema, até hoje tido como um ‘enigma’. Isto é proposital e tem finalidades didáticas ao estudo ‘simplificado’ e ‘sem medo’ da arte de escrever. Vimos que os dicionaristas/filólogos – principais responsáveis pela definição objetiva do fenômeno milenar da poesia – não deram conta de uma definição pacificadora do termo cantado e decantado pelos gregos. Vimos também que os estudiosos professos se arriscam a uma ‘explicação’ singular da poesia, mas lhe não conferem caráter de ‘definitividade’, como soe acontecer com os princípios da matemática e da física. Nossos estimados interessados definem: ‘A poesia, é uma arte de escrever em versos com emoção e muita sensibilidade, e somente pessoas divinamente agraciadas com esse dom são capazes de grandiosas obras literárias’. Eis a excelência de sua ‘atitude’. Podemos afirmar até que POESIA É UMA ATITUDE DA ALMA HUMANA. Mas já abordamos o assunto no módulo adequado, que já esteve em andamento nesta Oficina. Porém, não sem antes revelar antecipadamente aos estimados amigos escritores que sua definição pessoal de poesia é uma das que mais tem-se aproximado do conceito que desde então passamos a adotar, com pequenas restrições: “Forma de expressão linguística em que se revela uma particular visão do mundo, apelando mais para a emoção do que para a inteligência, através de uma seleção vocabular essencialmente metafória” (Antônio Houaiss, in ‘Pequeno Dicionário Enciclopédico Koogan Larousse’, Editora Larousse do Brasil, 1987, Rio de Janeiro). Até lá, estimados seguidores interessados.

Afonso Estebanez 
CHUVA DE ROSAS


A abóboda do templo era pintada
de céu azul com anjos bizantinos.
Da marcha nupcial já consumada
ouvia-se o tom triste dos violinos.

Mas um dilema trai a diva amada
no ato da união de seus destinos,
e o coração confesso em abalada
sorte, rompe os enigmas sibilinos.

Eis a outrem amava além da vida
e não ousava mais ser pertencida
a amor a quem devia dizer ‘não’.

De repente seus lábios cor de mel
sorriram para o que vinha do céu:
uma chuva de rosas vem ao chão!

Afonso Estebanez
ENTRE A FLOR E A LUZ 


Acredito que a maioria dos humanos adquiriu, por instinto ou cultura, desde o nascimento, o hábito de ver as coisas de fora para dentro, sem que consigam observar um terço do que se encontra no profundo delas. Como acontece com o cérebro condicionado. Preocupado com isso, desde a infância, eu procurava, em silêncio e conscientemente, enxergar as coisas ao meu redor de dentro para fora. Foi quando descobri a poesia que defino como a alma de dentro para fora. Acontecia de eu observar subjetivamente o que, segundo o imaginário, era objetivo. Olhava-me no espelho e observava se eu era mesmo aquela imagem que via ou se eu era apenas aquela imagem que eu pensava que via. Portanto, eu não falo nem vejo através de códigos. Eu 'penso' em códigos, na maioria das vezes poéticos. E dava uma olhadinha em Paulo, Coríntios 13, 1-13 para ‘pensar o amor’ como atitude da alma.


Nunca escrevo nada que possa parecer solução. Solução é dever de casa obrigatório, não servindo a ninguém que não medita sobre o resultado a serviço dou outro ser humano. A pergunta, sim, faz com que me questione a mim mesmo, como a relação mais importante do meu questionamento. Estou divulgando esta mensagem para meus semelhantes, já que o maior inimigo do espírito é o medo! Em minha busca, o encontro está em que devo me convencer de que o medo não faz parte de mim. Na imagem de uma rosa vermelha sob a luz das velas pode haver a ilustração desta descoberta. Não é a luz das velas que dá existência à rosa, é a rosa, com sua luz própria, que exalta a possibilidade de existência material da luz das velas. Então, a rosa é o sujeito mais importante da relação entre a flor e a luz, elucidando-me que “Poesia é a alma de dentro para fora”...



Afonso Estebanez