terça-feira, 24 de janeiro de 2017

FIINDA DE AMOR À PAAY CHARINHO



Eu, senhor, d’amor coitado
por voss’alma fremosia
foi de tan enamorado
qu’eu chorand’assi dizia:

Suidade, suidade minha,
quando, quando vos veria?

Procurei-te pelos montes
pelas grutas santuários...
(dedos aflitos nas contas
profanas de meus rosários)
Ai, Deus! as águas das fontes
como as ninfas flutuantes
choravam nos estuários...

Quem viss’assi com’eu vi
com tal coita e tan velia,
ness’amor que padeci
de mi (n) tormenta diria:

Alma gêmea de mi (n)’alma,
quando, quando vos teria?

Mays estaveis na cidade
que dos campos não se via
no asfalto da puberdade
dos anjos da mais-valia...
Ai, Amanda de Saudade,
minha vasta claridade
aos poucos se apagaria...

Fremosura d’alvorada
mui louçana senhor mia
e tan muit’enamorada
que, partind’assi dizia:

Barqueiro do meu destino,
quando, quando vos veria?


Não enquanto morra tanta
a esperança conselheira
dos enforcados na ponta
do pau-brasil da bandeira...
Ai, cruzado em terra santa
o Amadis não se alevanta
de chorar a companheira!

Senhor mia, fin rosetta,
non me metta em romaria,
tanto amor em Leonoreta
de suidad’eu morreria...

Que baixinho perguntava:
quando, quando vos veria?

O remate da cantiga
foi à fonte e logo vem,
que cantiga sem remate
já nenhuma graça tem...

Dess’amor de mim senhor,
tendes voss’essa meestria...
Mas a vós, senhor, d’amor!
quando, quand’eu vos teria?

Afonso Estebanez