quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

COM O AMOR NA MEMÓRIA

COM O AMOR NA MEMÓRIA

COM O AMOR NA MEMÓRIA

Amar deve ser um perder da memória
dos muitos amores que nunca esqueci
pela vida levada à mar gem da história
da memória do amor que nunca perdi.

Deve ser da esperança
minha vaga lembrança
dessas vidas passadas
ao meu lado de ti...

Amar deve ser como a luz da centelha
no pólen das rosas num gozo sem fim
no início da vida da luz que te espelha
no amor da centelha na flor do jardim.

Deve ser da esperança
de tua vaga lembrança
dessas vidas passadas
ao teu lado de mim...

Afonso Estebanez
(Dedicado à doce e fiel amiga
Verluci Almeida)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

AMAR OU NADA MAIS...

AMAR OU NADA MAIS...

AMAR OU NADA MAIS...

Amar ou nada mais, o quanto importa
a falta que algum sonho ainda me faz.
Pensar-te nesta ausência me conforta
malgrado essa saudade que dói mais.

Louvado seja o amor que me suporta
como um barco sem âncora num cais
que vive de ir embora e sempre volta
para sonhar meus sonhos tão banais.

Amar ou nada mais, é o quanto basta
para que em ti a minha vida em festa
encontre o amor com tanta claridade,

que a intensidade dessa luz tão vasta
vá revestir de aurora o que nos resta
depois que anoitecer toda a saudade.

Afonso Estebanez

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

ROSA DA MANHÃ

ROSA DA MANHÃ

ROSA DA MANHÃ

Assim que pressenti que tua face
era a mesma que eu via refletida
na água pura da fonte do jardim,
eu pude perceber que nesta vida
a despeito de a fé ser presumida
não me haveria tanta paz assim:
como o infinito amor da tua face
refletida na paz dentro de mim...

Teus olhos pareciam esmeraldas
refletidas no fundo transparente
das águas límpidas do teu olhar.
Era a luz de tua face de repente
assim como alvorada no poente
anoitecendo meu amor no mar:
como anoitece a rosa da manhã
na aurora certa para me sonhar.

Afonso Estebanez

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

DE ALMA PARA ALMA

DE ALMA PARA ALMA

DE ALMA PARA ALMA

Deixa a alma debruçada na janela
quando tiveres que sair sem mim,
que é da alma colher a primavera
das janelas que dão para o jardim.

Tolera esse desígnio que carrego
de me esquecer da alma na saída
eis que a alma não é sapato cego
nas pedras de tropeço desta vida.

Se tiveres que te perder de amor
a alma certamente o há de saber
como sente o perfume a sua flor
que por isso não pode se perder.

Se tu voltares lívida de mágoas,
nossas almas encontrarás assim:
imagens refletidas sob as águas
do lago mais sereno do jardim...

Afonso Estebanez

ROMARIA DE ESPERANÇA

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

ROMARIA DE ESPERANÇA

ROMARIA DE ESPERANÇA

ROMARIA DE ESPERANÇA

Sonhos são pássaros que emigram
entre mitos de esperas e liberdade
numa romaria infinita ao encontro
marcado da memória despertada...
... para o cumprimento do instinto
de não necessitar nunca de nada...

Eles dormem acordados como faroleiros
que sabem pela velha cartilha das estrelas
a hora de desancorar do céu seu novo dia
já despertado na restinga da alvorada.

Sonhos às vezes são notícias postadas pela brisa
que desperta com as mãos aquecidas de ternura.
Às vezes são regatos chorando sem sofrimento,
pois não há dor quando a espera sempre alcança.

Mas há sensações de eternidade onde nenhuma
pétala desfolha de sua flor sem que o consinta
o vento passageiro dos arrulhos da esperança.

Não há presságios nem maus pressentimentos
onde os sonhos são pássaros
que emigram na lembrança...

Afonso Estebanez

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

GRAÇA DESMEDIDA

GRAÇA DESMEDIDA

GRAÇA DESMEDIDA

Contemplo o meu jardim
como se fosse pela última vez...
E me comove o instinto daquela
pequenina flor se abrindo para o céu
como um pedacinho de arco-íris
bebendo no ribeiro da alvorada
a primeira gota de orvalho
da manhã sobre a ravina
derramada.

Procuro entender a minha vida
segundo aquela demonstração
de milagre pelo poder da graça
sobre a simplicidade às vezes
não percebida.

O relógio não faz tempo
mas o tempo se eterniza
nesse milagre de amor:
pode a flor passar no vento
mas fica o aroma da brisa
e o encanto de uma flor.

Desistir de mim – repenso –
por causa de um desamor,
se a pequena flor do campo
Deus jamais abandonou?
Então me visto de encanto
com o manto daquela flor...


Dueto de Sueli Amália (Poetisa das Marés)
& Afonso Estebanez.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

SUMIDOURO DE LEMBRANÇAS

SUMIDOURO DE LEMBRANÇAS

SUMIDOURO DE LEMBRANÇAS

Eu sempre quis deixar-te uma mensagem
como a da brisa enquanto abraça o vento
ou como uma canção que vem da aragem
de tanto amor que envio em pensamento.

Eis que a vida nem sempre é uma viagem
por onde em tudo há mais contentamento
do que em viver lembranças da passagem
de um breve amor vivido além do tempo.

E eu sempre quis dizer-te que de alianças
o amor é o fruto além de algum momento
que se exauriu em mim como esperanças

exaustas de um silêncio em que lamento:
– Ai, de meus sumidouros de lembranças
onde lembrar é pior que o esquecimento!

Afonso Estebanez

sábado, 14 de fevereiro de 2009

EM TEMPO DE LÓTUS, LÍRIOS E ACÁCIAS...

EM TEMPO DE LÓTUS, LÍRIOS E ACÁCIAS...

EM TEMPO DE LÓTUS, LÍRIOS E ACÁCIAS...

Jamais perder o momento
de encontrar na boca
um sorriso...

Jamais perder a esperança
de encontrar na curva
um caminho...

Jamais perder a certeza
de encontrar no muro
uma porta...

O lótus pode ser
o momento de glória
da lama...

O lírio pode ser
o encontro da paz
na esperança...

A acácia pode ser
a certeza da vida
na morte...

Afonso Estebanez

COUNTRY EXPRESS

COUNTRY EXPRESS

COUNTRY EXPRESS

COUNTRY EXPRESS

Ninguém contava que daquela aurora boreal
de luzes coloridas fosse surgir aquele bando
de cowboys alucinantes num torvelinho de
flashes deflagrados entre nuvens enluaradas.

Foi trepidante cavalgada de órgãos bachianos
– velozes diligências perseguidas nas pradarias
da cantata & fuga da classic-country-music.

Como se o Steve Yolen tivesse conhecido
a Dolly Parton com um banjo enterrado
no fundo do coração e começado aquela festa
improvisada de I believe in Santa Claus.

My heroes have always been cowboys:
como anjos do prodigioso equívoco do sonho,
a country bland não havia sido programada
para vibrar aos nossos pés de caipiras ritmados.

E aconteceu aquele duelling dos sentidos,
como um milagre que contagia pela evidência
da felicidade benvindamente inesperada.
Quem não viu, não precisa acreditar...
Festa encerrada!

Só o coração de um cowboy é um saloon vazio
quando a saudade dói como canção calada...

Afonso Estebanez

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Le MEESTRIA Leonor de Proença (Cantiga de Amigo)

MEESTRIA A LEONORA DE PROENÇA (Cantiga de Amigo)

MEESTRIA A LEONORA DE PROENÇA
(Cantiga de Amigo)


Um dia brisa no campo
um dia a asa no vento
enviei meu pensamento
ferido de desencanto...

Leonora, Leonora,
ess’amor assi non fora
qu’outro bem me fora tanto?

Uma vez brisa soprada
uma vez asa partida
minha ilusão tam velida
voará desencontrada...

Leonora, min tormenta!
Non torn’ess’amor qu’eu senta
em coita tam desamada...

Leonora, eu cuidaria
desse amor com tal desvelo
qu’outro bem pra merecê-lo
de ser mor que o meu teria.

Mays se vós visseis, Senhor,
com tal coita mia dor,
dess’amor vos morreria...

Quanto mais a dor doesse
mais esse amor veveria...

A. Estebanez
(Do livro Antologia Poética do
Grupo Salina de Niterói – 1969)

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

REENCONTRO COM O POEMA

REENCONTRO COM O POEMA

REENCONTRO COM O POEMA

Minha vida vazia de memória talvez
não possa provar que já fui pastor de rios,
sentinela de colinas, mirante das fortalezas
nas ameias das neblinas...

Nem que é por mim que à noite os ventos
vêm chorar sobre as ruínas...

Mas a escassa memória
numa simples foto antiga que o tempo
virou do avesso casualmente revelado,
garante o prenúncio de um recomeço
capaz de trazer de volta o sonho à mente
de que é possível às águas de um riacho
refazer seu curso de volta aos cantares
primitivos da nascente...

... se for por causa do amor
esse meu "pão nosso" de cada dia
que mata a fome de minha flor
e me deixa em estado de pânico
infinito de alegria...

Afonso Estebanez

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

CANÇÃO BALDIA

CANÇÃO BALDIA

CANÇÃO BALDIA

Às vezes tenho saudade
da saudade que não tive
de morar com liberdade
onde livre nunca estive.

Às vezes tanta saudade
não é tanta por um triz:
pois que a tal felicidade
só me quis quase feliz.

Fui quase feliz em tudo
fui e sou sem vanidade
do que serei sobretudo
a despeito da saudade.

Partir foi quase preciso
sumindo na eternidade
não me fora teu sorriso
enganar essa saudade...

Afonso Estebanez
(Poema dedicado à notável poetisa
carioca Soninha Porto – 08/02/09)

domingo, 8 de fevereiro de 2009

VERSOS TRISTES

VERSOS TRISTES

VERSOS TRISTES

E eu faço versos como quem consente
com a tristeza que os meus versos têm
sem que perceba que ela está presente
até no instante em que a alegria vem...

Eu faço versos como quem pressente
o instante alegre que não me convém,
eis que a alegria é o jeito descontente
de um jeito triste que me faz tão bem.

Quantas vezes com tanta intensidade
sinto-me um triste-alegre de saudade
e nem ao menos posso compreender:

o quanto esta tristeza é companheira,
pois antes de morrer ela é a primeira
a não deixar que eu morra sem viver.


Afonso Estebanez

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

SONHOS DE PRIMAVERA

SONHOS DE PRIMAVERA

SONHOS DE PRIMAVERA

É preciso romper o véu das mutações
e relembrar o número de quantas eras
levam os sonhos entre fios de ilusões
e desencantos numa teia de quimeras.

Necessário é tirar as meras intenções
de todo amor já saturado das esperas.
Amor é um plural de fases e estações
e nele não há singular de primaveras.

Amar é celebrar o instinto atemporal
como o vinho supera a taça de cristal
sob os sentidos infinitos dos amantes.

Se nada nesta vida dura para sempre,
melhor é repetir finita e eternamente
as utopias mais eternas dos instantes.

Afonso Estebanez

QUINTA ROSA DE SAROM

QUINTA ROSA DE SAROM

QUINTA ROSA DE SAROM

Não procurem a rosa pelo céu noturno
onde a luz das estrelas mais brilhantes
é mera imagem no horizonte taciturno
da miragem mais ilusória dos amantes.

As rosas são onipresentes no diuturno
exercício de amar no fio dos instantes.
As rosas nunca têm o espírito soturno
desses invernos já remotos e distantes.

No coração deserto as rosas não estão
e nem dos cânticos das filhas de Sião,
até o santuário edênico do Hermom...

E nem nas tendas amorosas da ilusão.
Mas é nas fendas do sagrado coração
que todo amor é uma Rosa de Sarom!

Afonso Estebanez