quarta-feira, 14 de maio de 2014

AMOR AO VINHO DE ROSAS

AMOR AO VINHO DE ROSAS

Esta noite
tu me permitirás ajardinar teu corpo
nos mais esconsos roseirais de amor
em bosques sublimados no conforto
de aviar espinhos sem ferir-te a flor...

Esta noite
procriarei em teus fecundos ninhos
de aves marinhas de plantão no céu...
Ah, rosa ausente dos cruéis espinhos!
Vinho de rosas com sabor de mel...

Esta noite
tomar-te-ei o amor que me suaviza
a alma sem nenhum ressentimento...
Verei teu corpo com o olhar da brisa
e o tocarei só com as mãos do vento...

Mas esta noite
quero-te o gozo múltiplo e esvaído
como as últimas lágrimas sem dor...
Só a dor de um calvário consumido
no inexorável instante desse amor!

Afonso Estebanez

MEUS ANJOS FALAM

MEUS ANJOS FALAM

Quando meu anjo te fala
teu anjo fica em silencio.
Quando meu anjo se cala
teu anjo fala o que penso.

Quando teu anjo me fala
meu anjo fica em silencio.
Quando teu anjo se cala
meu anjo fala o que penso.

Tudo o que teu anjo fala
meu anjo fala em silêncio.
Cada anjo então se cala
para falar o que penso.

Tudo o que meu anjo fala
teu anjo fala em silêncio.
O anjo que então se cala
é o que fala o que penso.

Anjos são dois dialetos
de uma única linguagem
quando falam dos afetos
no silêncio da mensagem.

Eles são esses dois lados
das canções e seu cantor
que juntos falam calados:
Como te amo, meu amor!...

Afonso Estebanez

ANJO MEU

ANJO MEU

Nem alegre nem tristonho
nem chegada nem partida
anjo meu leva meu sonho
mas me deixa minha vida.

Anjo chora quando canta
anjo canta quando chora
anjo meu me desencanta
se me fica ou vai embora.

Algumas vezes me acena
como se estivesse vindo...
Mas é um anjo com pena
da pena de estar partindo.

Quase nunca compreendo
anjo quase compreendido
Mas às vezes não entendo
porque anjo anda perdido...

Afonso Estebanez


ONDE VIVEM AS CANTIGAS

ONDE VIVEM AS CANTIGAS

Preciso de que me fales
onde guardas o silêncio
o mistério guarda onde
os segredos do relento
e na brisa destes vales
preciso de que me fales
das horas de desalento

e que luz veio do olhar
onde vive o teu silêncio
no segredo da alvorada
da brisa solta no vento
é preciso que me digas
onde vivem as cantigas
já perdidas pelo tempo

será no choro dos rios
nas flautas anoitecidas
nas ameias das garoas
na saudade da partida
é preciso que aconteça
e o amor ainda mereça
retornar à minha vida.

Afonso Estebanez


ONIRIANDANTE

ONIRIANDANTE

Meu sonho de jardineiro
caminha à noite sozinho
pois estrelas podem ser
galáxia de rosas brancas
espalhadas no caminho.

Vejo nuvens navegantes
colho em rendas do luar
ando em águas infinitas
como se o lúmen da lua
fosse o caminho do mar.

É assim que teu menino
morre de tanto sonhar!
Como poeta viandante:
vivendo de tanto sonho
nunca mais vai acordar...

Afonso Estebanez