sábado, 29 de novembro de 2008

BURACO NEGRO


BURACO NEGRO

Ser meu amor e amante
ser volúpias de meu ser
ser o lado mais distante
de meus lados de viver.

Ser o morto ainda vivo
e estar vivo sem querer
o querer morrer cativo
sem ser preciso morrer.

Ser operários sem lida
os contrários do galope
no vão do meio da vida
ou na beirada da morte.

Buraco negro do amor
sem nenhum alvorecer
como a flor a flor a flor
de Hiroshima renascer.

Ser esse fundo do poço
um chão seco de jardim
até que o meu alvoroço
não suporte nem a mim...

A. Estebanez (Falado em 21/03/2008 no Calçadão de Ipanema
em encontro de escritores do grupo Alma de Poeta
do Rio de Janeiro)

BEM-AVENTURADO


BEM-AVENTURADO

Ah! bem-aventurado o amor mesmo finito.
Ah! bem-aventurado esse infinito instante
da eternidade efêmera desse inconstante
amor eterno entre os instantes do infinito...

Ah! bem-aventurado o desditoso amante.
Oh! bem-aventurado o coração proscrito
Ô! todo o amor cativo sem a paz do grito
que entoe no infinito seu amor constante...

Ah! bem-aventurado esse pastor de rios.
Ah! bem-aventurado o som dos calafrios
do amor baldio tantas noites indormidas...

Ah! bem-aventurado o pobre de ventura.
Porque ele alcançará no vale da ternura
o amor edênico das deusas pertencidas...

A. Estebanez

BELOS & FERAS


BELOS & FERAS

Fui presidir um ciclo de
debates sobre as causas
dessa violência urbana
friamente analisada sob
a ótica imparcial dos que
passaram os dois terços
da vida com o traseiro
colado nas mais baixas
almofadinhas dos hotéis
de luxo da mais alta
baixaria...

Cordialmente me deram
o apelido de ser humano!
Hahahahahahahahahaha...

Não foi pior do que dar
no cão danado um porre
de água de matar a sede
da hidrofobia como uma
alternativa dos patéticos
disfarces das panteras...

Se ao menos isso me faz
de lobisomens solidários
animais domésticos
em vez de feras...

A. Estebanez

CANTIGA PARA RITA MALUCA


CANTIGA PARA RITA MALUCA

Trazia uma flor na boca
um beijo amargo na mão
um anjo vesgo no corpo
no silêncio uma canção
como flauta ressurgida
da memória adormecida
nas masmorras da razão...

Calava, mas seus desejos
quando deuses rebelados
abriam seus lábios mudos
com segredos revelados
invadindo seus destinos
como barcos clandestinos
por mares não navegados...

Como escrava, era rainha.
Quando livre, era cativa...
De seu olhar despontava
a luz da aurora indecisa...
Sonho perdido nos passos
e nos braços sem abraços
uma esperança imprecisa....

E só amava em desvarios
sem prazer nem amargura
como quem amava além
da razão que há na loucura...
E vencia os seus mistérios
entregando seus impérios
por um resto de ternura!

A. Estebanez

CANTIGA INOCENTE


CANTIGA INOCENTE

Construo estradas na alma
onde os sonhos vão passar
e na espera passa a calma
para o amor poder sonhar.

De alguns fios de alvorada
as cordas de um bandolim
vêm tocando pela estrada
do amor cantado por mim.

Por aqui passa a saudade
da saudade que não sinto
do meu sonho de verdade
que vivo quando consinto.

Consinto que tu me vejas
chorando porque me vais
sem sair das profundezas
de meus encantos banais.

Encantos de ser um louco
ou o eterno entre mortais.
É tão pouco! se do pouco
teu amor não tenho mais!


Afonso Estebanez

COMO A ALMA


COMO A ALMA

Cai a chuva de alma leve
nas ribeiras de alma fria.
Cala a ave o canto breve
cala a flor e o fim do dia.

Tanto faz a chuva esteja
só na aragem do jardim.
Essa brisa que me beija
fica bem dentro de mim.

Cai a noite e seu trajeto
vira alfombra enluarada
como a mágica do afeto
nos olhos da namorada.

Cai a aurora e vai a lua
no meu sonho rotineiro
de ficar minh’alma nua
no calor do travesseiro.

Cai a chuva e cai a vida
onde cai tanta saudade.
E minh’alma anoitecida
é uma eterna claridade!

Afonso Estebanez

O CORAÇÃO DO POETA


O CORAÇÃO DO POETA

Não te preocupes
com o meu poeta.
Ele está a caminho
de um pouco mais além
da perplexidade
da manhã...

Não te avexes
da alma do poeta.
Ela está como a alvorada
gentilmente despertada
no coração vip
dos pássaros...

Nem desesperes
o coração do poeta
no meio da estrada.
Ele está só encostado
na metade do destino
que vai dar em ti...

Afonso Estebanez
(Out.30.2008)

CANTIGA PARA LUÍSA M. A.


CANTIGA PARA LUÍSA M. A.


Tu podes trazer saudades
das estrelas de onde vens
das rosas que só tu sabes
do universo de teus bens.

São rosas de nosso amor
desse amor que já o tens
e o perfume de uma flor
do berçário de teus bens.

Uma estrela mensageira
via-luz de onde provéns.
Uma aurora medianeira
como fonte de teus bens.

Fonte mística do ventre
cálido orvalho da brisa
e uma rosa para sempre
no amanhecer de Luísa.

Tu podes trazer saudade
da morada de onde vens
também toda a claridade
da alvorada de teus bens.

Afonso Estebanez

UM SONETO PARA AUGUSTO DOS ANJOS


UM SONETO
PARA AUGUSTO DOS ANJOS

Ser ou não ser é a questão da vida
que a espécie fratricida desvendou
gerando a flor do bem numa ferida
que a gênese do mal jamais curou.

Quanta pena de mim chora fingida
como se fosse pranto o que penou.
Mas é somente a dor compadecida
penando pela dor que não causou.

A luz que me acendia agora apaga
a mão que me feria inda me afaga
amor de bem-querer não é paixão.

Meu ser ainda é o lobo de meu ser
pela pátria não posso mais morrer
o amor, enterrem no meu coração.

A. Estebanez

poema em pedaços


poema em pedaços

todo dia é um dia santo
todo dia vem o pássaro
todo dia é meu encanto
todo dia é meu cansaço

todo início é de começo
todo início é de destino
todo início tem o termo
todo início tem espinho

todo resto é de epitáfio
todo resto foi de quem
todo resto é de pedaço
todo resto de ninguém

toda noite é coisa e tal
toda noite é vai e vem
toda noite com aurora
toda noite me faz bem

todo verso eu escrevia
tanto verso na calçada
a todos passei a limpo
na memória rasurada.

(mas esse ponto final
eu não havia previsto
como um vício natural
de todo verso maldito)

A. Estebanez
(Homenagem a Paulo Leminski)

BENDITA TODA (A) DOR


BENDITA TODA (A) DOR

Bendita a sensação
de estar ferido pela amargura letal
de uma paixão mal resolvida.
Porque o amor será fênix
renascida...

Maldita a sensação
de ser feliz pela doçura eventual
de uma paixão bem resolvida...
Porque o amor será causa
da ferida...

Bem-aventurada toda (a) insanidade
e toda (a) ferida que se cura pela dor
porque dela será toda (a) eternidade
que se gloria da reparação do amor...

A. Estebanez