quarta-feira, 21 de abril de 2010

SONETO DA INFIDELIDADE

Em nada ao meu amor serei atento,
antes, só por descaso e desencanto
que mesmo seja meu o teu encanto
dele me desencante o pensamento.

Não viverei por ele um só momento
e de tristeza hei de calar meu canto
e cantar de alegria com meu pranto
o seu prazer ou descontentamento.

Tomara esse feliz de quem não ama
talvez a vida, sonho de quem morre
assim mais cedo um dia me procure

e dele eu fale que sequer foi chama
e não sendo infinito a quem socorre
não me seja infinito ainda que dure.

Afonso Estebanez
(Réplica ao ‘Soneto da Fidelidade’
De Vinicius de Moraes)

FEITIÇO

Eu via uma vela preta
acesa na noite escura
e a sua luz imperfeita
desfeita pela ternura.

As estrelas escreviam
na folha de luz do céu
os poetas confundiam
os mistérios do papel.

O meu olhar inocente
refletido em teu olhar
foi o lumiar da mente
que fez a vela apagar.

Enfim a lua enfunada
no céu feito claridade
parecia minha amada
vestida de divindade.

Afonso Estebanez