sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

PENITÊNCIA...


Flor desbotada do manto
rosa morta sobre a mesa
desalinho em cada canto
da casa que me despeja.

O! jardim em desencanto
ah, os pés de framboesa
os lírios secos no campo
as quimeras sem beleza.

Não tolero mais encanto
que me conte de tristeza
e hei olvidar esse pranto
e doer com mais leveza.

Mas amor! eu amo tanto
que a paixão afim viceja
na tristeza do quebranto 
que atirei na correnteza.

E o rio levou meu canto
com tamanha singeleza
que já ritmo do espanto
me fiz som da natureza.

Afonso Estebanez
LUDMILA



Por mais que pareça tão leve 
lembrança de um breve momento
é mais do que um pássaro almado
num sonho sem paz nem tormento...

É como se dentro de mim
assim como flauta no vento
uma voz que não sei bem onde
vivesse cantando tão perto
de uma dor que estava tão longe...

No peito já bronze fundido
antigo intocado na noite
perdida no rumo da aragem
como sons de cordas caladas
de alguma canção em viagem...

Na tênue plumagem da lua
seminua sobre a campina,
uma voz que não sei bem onde
talvez no rumor da neblina...
Uma dor que estava tão longe
na brisa que tange a cantiga...

Abriga minh’alma e acalanta
sem mágoa a esperança perdida!
E é tudo o que resta – uma sombra
de mim do outro lado da vida...

Afonso Estebanez
(Poema dedicado à minha filha do outro lado da vida)