sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

A MAGIA DA EXPRESSÃO LITERÁRIA
OFICINA – MODULAÇÃO INTERATIVA - 06
*A INICIAÇÃO DE MARY LOVELY*


Vemos que seu impulso poético inicial já emergiu. E emergiu exatamente de onde devem emergir as primeiras manifestações da alma na seara da poesia. Indague-se sempe: “Morreria, se não me fosse permitido escrever?”. Principalmente isto, diz Rainer Maria Rilke – já citado aqui – em ‘Cartas a um Jovem Poeta’. “Na hora mais tranquila da noite – continua o mais autorizado poeta da língua alemã do século XX – faça a si esta pergunta: ‘Sou de fato obrigado a escrever?’ (...). A sua existência, mesmo na hora mais indiferente e vazia, deve tornar-se sinal e testemunho de tal impulso. Aproxime-se, então, da natureza. Depois procure como se fosse o primeiro (ser) a dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite, de início, os temas demasiado comuns: são os mais difíceis. Nos assuntos em que tradições seguras, às vezes brilhantes, se mostram em grande número, o poeta só pode realizar obra pessoal na plena maturidade da sua força. Fuja dos grandes assuntos e aproveite aqueles que o dia-a-dia lhe oferece. Fale das suas tristezas e ou alegrias, dos seus desejos, dos pensamentos que o tocam da sua fé na beleza. Utilize, para se exprimir, os objetos que o rodeiam, as imagens dos seus sonhos, as suas lembranças. Se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador nada é pobre, não há lugares mesquinhos e indiferentes. Mesmo num cárcere cujas paredes abafassem todos os ruídos do universo, não lhe ficaria sempre a sua infância, essa preciosa, essa esplêndida riqueza, esse tesouro de recordações? Volte, para esta direção, o seu espírito. Procure fazer regressar à superfície as impressões submersas desse longínquo passado. A sua solidão povoar-se-á, tornando-se nas horas incertas do dia, uma espécie de moradia fechada aos sons exteriores”. Esta é a sua seara inicial ao plantio da boa semente da poesia!...

Afonso Estebanez 
PERFUME DE DAMA DAS CAMÉLIAS


Não há no coração suficiente espaço
à paixão cortesã no leito despertada
com o perfume extasiante do regaço 
da dama das camélias penitenciada.


É místico perfume de época passada
exalado do beijo indômito do abraço
que faz do eleito sua presa libertada
do desafeto hipócrita quiçá devasso.


Perfume isento de pretérito obscuro,
só pode ver como será o amor futuro
de uma cortesã tão bela como a flor.


A dama das camélias cria a ideologia
da amorização humana e essa magia 
da ideologia de dominação do amor.


Afonso Estebanez