sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

ENTRE UM SONHO E OUTRO...


ENTRE UM SONHO E OUTRO...

Devo empreender uma viagem...
Mas não quero Londres e muito menos a Paris revisitada.
Lá as gentes são todas iguais a mim. Sangue bom à flor da pele
igual à minha ruim. Conheço a guarda real o big-bem e o jardim.
Como se não houvesse periferia...
Como se houvesse algum jardim...

Devo empreender uma viagem...
Para um pouco mais além da minha praça tropical.
E, quem sabe, alcançar os meus sem-sonhos não vividos
que sempre estiveram na feira dos sábados de minhas mãos.
Como se houvesse sonhos...
Como se houvesse mãos...

Devo empreender uma viagem...
E comprar alguma gleba nos alvos prados das nuvens
construir com minhas mãos os meus sem-sonhos já vividos
entre pedras de granizo com penugens numa casa de algodão.
Como se houvesse sonhos...
Como se houvesse mãos...

Devo empreender uma viagem...
Para conversar com meus anjos já bem mais envelhecidos
sobre como é ficar ou então nunca ficar a um passo do paraíso.
Esse é um dos meus sem-sonhos refeitos com minhas mãos.
Como se houvesse sonhos...
Como se houvesse mãos...

Afonso Estebanez

CAMPO DE MEDITAÇÃO


CAMPO DE MEDITAÇÃO

As estradas que sempre iam,
continuam indo, a despeito de mim
que por hora estou voltando...

Mas quando não houver
mais estradas para quem vai,
suave será a carona dos riachos
que são estradas feitas de lágrimas
de saudade dos amores viajados.

Continuarão, como os dias e as noites,
na direção do reino do nunca mais...
E como as rosas num leito de orvalho,
é possível que eu me reencontre comigo
em qualquer curva do crepúsculo
para o vasto espanto das manhãs
que terei deixado para trás...

E não posso evitar que seja assim:
as estradas levando a memória
do quanto eu ando de rosas
nas veredas do meu jardim...


Afonso Estebanez