sábado, 1 de março de 2014

CÚMPLICES DA PAZ

CÚMPLICES DA PAZ

Feliz eu de ter parado
aquele último canhão...
O amor me ia do lado
e duas rosas na mão...

Feliz do amor que me trouxe
dos escombros da guerrilha...
Converteu-me o sal em doce
e meu charco em maravilha...

Feliz do quanto os espinhos
que extraíram de minh’alma
remarcaram meus caminhos
com sangue tinto de calma...

Feliz que enxergo de costas
para ver quem fui de agora...
E meus olhos têm respostas
como cúmplices da aurora...

Feliz eu de ter amado
se por tanto fui capaz
meu amor seja legado
ao sangue de sua paz...

Afonso Estebanez
(A Che Guevara – in memoriam)

CANTIGA EM FORMA DE SONETO PARA JACQUELINE

CANTIGA EM FORMA
DE SONETO PARA JACQUELINE

Há algo de você nas leves plumas
das aves que a visitam nas janelas
como algo que flutua nas espumas
do mar quando se deita sobre elas...

Algo de luz de ondinas luminosas
asas de malva e seda das libélulas...
Algo que sonha e fala como rosas
de algum pedaço da ternura delas..

Algo tão leve quanto inamovível
como aroma de brisa imperecível
que de tão breve ao imortal ajunta...

Profano como as almas das maçãs
entre os úmidos lábios das manhãs
iluminadas que não morrem nunca...

Afonso Estebanez


AMOR DE CORPO INTEIRO

AMOR DE CORPO INTEIRO

Desejo teu amor de corpo inteiro
o amor da lua cheia sobre o mar
de alfazemas no cio campineiro
da sementeira
prenhe do luar...

Navegar é o ofício do barqueiro
dos mares do desejo de te amar
conhecer os segredos do roteiro
por onde o amor
precisa navegar...

Aceito o amor servil do cativeiro
das virgens medievais para adorar
nas alcovas profanas do mosteiro
ao sacro ritual
sobre um altar...

Professo o amor fiel do romanceiro
que em teu ventre me faça cavalgar
tal como um confidente cavaleiro
cavalga estrelas
para te encontrar...

Por teu amor meu anjo mensageiro
vem de um tempo remoto te buscar
e proclamar meu lado companheiro
de te fazer amor
para sonhar...

Quero fazer amor de corpo inteiro
exaurir-me em teus braços e pensar
que ainda sou teu último e primeiro
amor que padeceu
para te amar...

Afonso Estebanez
(Poema dedicado a Maria da Guia Correia Lima),
de inspiração nos princípios da cultura cigana,
ao lume da fidelidade, do amor e da liberdade)



AMOR POR EVIDÊNCIA

AMOR POR EVIDÊNCIA


Haverei de encontrar por onde for
teus beijos numa ânfora de vinho!
E me haverás o colo enquanto flor
rendida num canteiro de carinho...


Amarei com ternura o teu jeitinho
de matar-se de amor só por amor
de meu corpo deitado no caminho
de teu corpo num pânico sem dor.


Serei o sonho desse amor remido
no destino de um pássaro banido
num cântico de gozo sem motivo.


E é tudo que suplica o meu amor:
que me tenhas no colo como flor
e desse amor seja teu ser cativo!


Afonso Estebanez

AMOR DE CARNAVAL

AMOR DE CARNAVAL

Se de fato tu queres me encontrar
apesar de me teres transformado
na tua multidão, tu deves procurar
no alvoroço do baile triunfal
de teu tumultuado coração...

Eu sou aquele que tu vês se levantando
daquela sombra que virou teu chão.
Repara como eu engoli meu sim
para não ter que devolver teu não...

Se de fato tu queres me encontrar,
eu sou aquele que já foi embora
com uma flor na mão...

Afonso Estebanez