domingo, 14 de dezembro de 2008

ENTRE PARÊNTESES


ENTRE PARÊNTESES

Minha vida não é tua
nem é minha tua vida...
Somos partes
fragmentadas
de uma ânfora
partida.

Não são tuas minhas liras
nem tuas liras são minhas...
Ocultamos
a alma nua
na paráfrase
das linhas.

Tuas mágoas não são minhas
minhas mágoas não são tuas...
Somos os lados
dessas calçadas
desencontradas
das ruas.

Por mim não te desesperas
nem por ti eu me desatino...
Somos apenas
os parênteses
de uma linha
do destino.

Afonso Estebanez

ENSINA-ME JESUS (Canção de Louvor)


ENSINA-ME JESUS
(Canção de Louvor)

Oh, Jesus vem estes laços
de meus braços desatar...
Dos Teus passos me aproxima
e me ensina a caminhar...

Eu preciso de Teus lábios
como os sábios pra falar...
Com parábolas me anima
e me ensina a Te louvar...

Oh, Jesus, tira as algemas
das penas do meu pecar...
Dá-me Tua voz divina
e me ensina a Te adorar!

Afonso Estebanez

ENIGMA DE ME VOLTAR


ENIGMA DE ME VOLTAR

Talvez eu volte corrimão de rios tortos
por onde vem beber a lua amedrontada...
Espírito cantor dos pássaros já mortos
sob os destroços de uma flor inacabada...

Caravelas de nuvens como pressupostos
do transporte por céu da luz embriagada...
Quiçá refaça-me de restos recompostos
com os pedaços de minha alma fatigada...

Talvez eu venha como o ser e a solução
como ave presa na lembrança da canção
ou como flores despojadas num jardim...

Talvez eu volte com um coração enfermo
e tente a morte retirar-me de mim mesmo
mas só eu mesmo posso me tirar de mim...

Afonso Estebanez

DOCEMENTE AMARGO


DOCEMENTE AMARGO

Teu amor é como a pluma
de uma luz na madrugada
não ama aurora nenhuma
que não a luz da alvorada...

Meu amor foi uma escuna
sem partida nem chegada
na noite escura da bruma
de uma dor não dissipada...

Teu amor é como os rios
conduzindo meus navios
que se perderam do mar...

E o amor doeu-me tanto
como dói só por encanto
pelo encanto de te amar...

Afonso Estebanez

DEVANEIOS DA INSÔNIA


DEVANEIOS DA INSÔNIA

O que faz eterno o instante
em que você ressurge da noite
coroada a face de sorrisos
é o que me diz o amanhecer
dos lírios de como já nasci
de braços abertos.

Já falei a você das folhas que caíram
e do sofrimento levado pelo outono
deixado em cada sombra de seu rosto.

Já mostrei como do fruto renovado
o renascimento da vida é infinito
como o cio das cigarras é o destino
que se cumpre no silêncio da resina.

Você consome o canto e os sonhos
e os mistérios a esmo desvendados
e deixa esse sinal de impenetrável
ausência nas minhas mãos vazias...

Mas onde houver a paz dos rios
tangidos pelos caminhos bebidos
de minha boca, eu irei beirando
as margens inventariadas no rol
dos padecimentos...

Só me resta esperar que esta noite
você volte a embalar com beijos
meu sono perdido...

Afonso Estebanez

CUPIO DISSOLVI


CUPIO DISSOLVI

È più necessario che nella carne resti:
o amor ardente sob a cinza do desejo
à alma cúmplice no céu inda me reste
a vida eterna do milagre de teu beijo.

È più necessario che nella carne resti:
o amor a termo revivido num lampejo
a alma rediviva e a graça que reveste
o dom da luz original que em ti revejo.

Amor é agonia em transe e dadivoso
estado primitivo em cânticos de gozo
a fonte de poder do amor da criação.

Amor é dom insuperável que só ama
e cria-te mulher e deusa te proclama
esse cupio dissolvi da imortal paixão...

Afonso Estebanez

CORAÇÃO DE NAMORADO


CORAÇÃO DE NAMORADO

Não sei de quantos corações me veio feito
meu coração diverso intensamente amado
ou de quantas guitarras de vibrar no peito
veio-me feito o coração de um namorado!

Não sei de quantos beijos pode ser refeito
um beijo que restou presente do passado.
Ou com quantos abraços restaurar o jeito
de o coração fingir que estava enamorado.

Deixe um pedaço de um poema na janela
diz que a última rosa sobre a mesa é dela
e deixe-a acreditar no que o amor lhe diz...

Põe teus lençóis de estrelas nos telhados
estilhaços de luz no chão dos namorados
se é falta de razão que deixa o amor feliz...

Afonso Estebanez