terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A MAGIA DA EXPRESSÃO LITERÁRIA
OFICINA – MÓDULO 06
DA ARTE DE ESCREVER SEM MEDO
*UMA VOLTA AO TEMA: POESIA & POEMA*


TENDO EM VISTA a constatação de algumas dificuldades ao entendimento razoável da relação ‘poema & poesia’, devemos rever o tema por mais uma vez, sem abusar dos recursos pedagógicos ou didáticos que o assunto, em tese, pode exigir.

DESTA FORMA, resolvemos adotar algumas orientações da insigne professora Sílvia Regina Pinto – já citada por nós em módulo anterior – graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1970), em Português Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1973), com mestrado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1995) e doutorado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2000). Desde 1978 é professora na área de Letras, com ênfase em Teoria da Literatura, atualmente dedicada a pesquisas relacionadas com Teoria da Literatura, Filosofia, Literatura e Ficção, em perspectivas contemporâneas. Orienta Silvia Regina (há grifos nossos):

‘NA EVOLUÇÃO da palavra até hoje, as conceituações mais estritas para POEMA nem sempre são muito precisas, e, em muitos casos, confundem-se com os conceitos para POESIA, embora, de modo geral, POEMA seja entendido como uma das expressões possíveis da POESIA. Destacamos algumas definições normalmente encontradas:

1. Obra literária em verso;
2. Composição poética de extensão variável;
3. Obra literária em prosa, em que há ficção e estilo poético;
4. As peças orquestrais de caráter descritivo: “poemas sinfônicos”;
5. Da arte de escrever em versos e cada um dos gêneros de composição poética de pouca extensão;
6. Maneira de fazer versos peculiar a um autor ou a um estilo;
7. Aquilo que desperta o sentimento estético do “belo”;

8. DIZ-SE DA ATIVIDADE LINGUÍSTICA QUE TEM UM OBJETIVO DE ARTE E PROCURA CRIAR COM A LINGUAGEM UM ESTADO PSÍQUICO DE EMOÇÃO ESTÉTICA POR MEIO DA APLICAÇÃO SISTEMÁTICA DE PROCESSOS ESTILÍSTICOS’.

DESTACAMOS a oitava opção, por entendermos ser esta a que mais se aproxima das orientações até este momento fornecidas aos interessados. ‘Segundo Octavio Paz – enfatiza – “POEMA” é uma palavra semanticamente instável, que se vincula, pela etimologia e por natureza, à “POESIA”: considera-se poema toda composição literária de índole poética, “um organismo verbal que contém, suscita ou segrega poesia”. Assumida ortodoxamente, a CONEXÃO ENTRE POEMA E POESIA implicaria um juízo de valor, ainda que de primeiro grau: todo poema encerraria poesia, e vice-versa, pois, sistematicamente, a poesia se coagularia em poema. Na verdade, a correlação apenas se observa como tendência historicamente verificável, pois “existem poemas sem poesia”, e a poesia pode surgir, por exemplo, no âmbito da estrutura formal de um romance ou de um conto, de modo que muitos autores consideram que um poema pode ser estruturado não apenas em versos, mas também em prosa’.

‘CONSIDERANDO de outra maneira, já em si poética, afirma o mesmo Octavio Paz: “[...] O POEMA É UM CARACOL ONDE RESSOA A MÚSICA DO MUNDO, E MÉTRICAS E RIMAS SÃO APENAS CORRESPONDÊNCIAS, ECOS, DA HARMONIA UNIVERSAL. Ensinamento, moral, exemplo, revelação, dança, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua dos escolhidos, palavra do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita, popular e minoritária, coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todas as faces, embora exista quem afirme que não tenha nenhuma: o poema é uma máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua grandeza de toda obra humana!”


‘PERGUNTANDO ao poema pelo ser da poesia, não confundimos arbitrariamente poesia e poema? Já Aristóteles dizia que “nada há de comum, exceto a métrica, entre Homero e Empédocles; e por isso com justiça se chama de poeta o primeiro e de filósofo o segundo”. E assim é: NEM TODO POEMA – ou, para sermos exatos, nem toda obra construída sob as leis da métrica – CONTÉM POESIA. Por outro lado, há poesia sem poemas, pois, paisagens, pessoas e fatos podem ser poéticos, portanto, podem ser poesia sem ser poema. Quando a poesia acontece como uma condensação do acaso ou quando é uma cristalização de poderes e circunstâncias alheios à vontade criadora do poeta, estamos diante do poético’.


‘MAS É PRINCIPALMENTE no poema que a poesia se recolhe e se revela mais plenamente. É lícito perguntar ao poema pelo ser da poesia, se deixamos de concebê-lo como uma forma capaz de se encher com qualquer conteúdo. O poema não é apenas uma forma literária, mas o lugar de encontro entre a poesia e o homem. O poema é um organismo verbal que contém, suscita ou emite poesia. Neste caso, forma e substância são a mesma coisa’.


‘ALGUMAS TEORIAS da literatura pretendem reduzir a gêneros a vertiginosa pluralidade do poema. Por sua própria natureza, a pretensão padece de uma dupla insuficiência: reduzindo-se a poesia a umas tantas formas – épicas, líricas, dramáticas – o que faremos, pergunta Octavio Paz, com os romances, os poemas em prosa e esses livros diferentes como, por exemplo, Os Cantos de Maldoror (de Lautréamont) ou Nadja (de Andre Breton)? Se aceitarmos todas as exceções e todas as formas intermediárias, a classificação se converterá num catálogo infinito. Todas as atividades verbais, para não abandonar o âmbito da linguagem, são susceptíveis de mudar de signo e se transformar em poemas: desde a interjeição até o discurso lógico. Por isso, as classificações de uma retórica mais tradicional e mais fechada podem acabar sendo muito limitadas’.


‘CADA POEMA é ESPECIAL, IRREDUTÍVEL e IRREPETÍVEL (INCOPIÁVEL e INIMITÁVEL). A única característica comum a todos os poemas consiste em serem obras, produtos humanos, como os quadros dos pintores e as cadeiras dos carpinteiros. No entanto, os poemas são obras de um feitio estranho: não há entre um e outro a relação de parentesco que, de modo tão palpável, se verifica com os instrumentos de trabalho. Técnica e criação, utensílio e poema são realidades distintas. CADA POEMA É UM OBJETO ÚNICO, criado por uma “técnica” que morre no instante mesmo da criação. AQUILO QUE SE PODE DENOMINAR “TÉCNICA POÉTICA” NÃO É TRANSMISSÍVEL PORQUE NÃO É FEITA DE RECEITAS OU FÓRMULAS, MAS DE INVENÇÕES COM A LINGUAGEM QUE SERVEM, PRINCIPALMENTE, PARA SEU CRIADOR’.


‘NA ATIVIDADE POÉTICA formal de construção de um poema, exploram-se as possibilidades da linguagem em geral e da língua específica, em particular: a) no material sonoro; b) nas palavras; c) nas associações de ideias; d) nas construções fraseológicas, utilizando-se o RITMO, a HARMONIA IMITATIVA, a RIMA, a ASSONÂNCIA, a ALITERAÇÃO, as FIGURAS DE PALAVRAS, as FIGURAS DE PENSAMENTO, as FIGURAS DE SINTAXE. Para Jean Cohen, de um modo geral, um poema é breve, limitado e obediente a certos requisitos formais, visto ser, precisamente, uma “TÉCNICA LINGUÍSTICA DE PRODUÇÃO DE UM TIPO DE CONSCIÊNCIA QUE O ESPETÁCULO DO MUNDO NÃO PRODUZ ORDINARIAMENTE”. Já Antonio Quilis, define o poema como um contexto linguístico no qual “a linguagem, tomada em seu conjunto de significante e significado como matéria artística, alcança nova dimensão formal, que, em virtude da intenção do poeta, se realiza potencializando os valores expressivos de linguagem por meio de um ritmo pleno”.


‘EM SENTIDO FORMAL, é costume CHAMAR-SE POEMA À FORMA DE EXPRESSÃO ordenada segundo certas REGRAS e dividida em UNIDADES RÍTMICAS. VERSO É A UNIDADE RÍTMICA EM CUJOS LIMITES SE ACHAM AS UNIDADES DE SENTIDO DE QUE SE COMPÕE O POEMA. O ritmo poético, que na essência não difere das outras modalidades de ritmo, geralmente se caracteriza pela repetição. O RITMO CONSISTE NA DIVISÃO PERCEPTÍVEL DO TEMPO E DO ESPAÇO EM INTERVALOS IGUAIS, OU, COM ALGUMA REGULARIDADE. Quando o poema se constitui de unidades rítmicas semelhantes, diz-se que a versificação é regular, e, quando isto não ocorre, a versificação é mais irregular ou livre, sendo bom lembrar que o ritmo poético utiliza recursos que nem sempre podem ser coincidentes de idioma para idioma. HÁ POEMAS QUE SE APRESENTAM COMO FORMA FIXA, isto é, submetida a regras pré-determinadas quanto à COMBINAÇÃO DOS VERSOS, DAS RIMAS, ou DAS ESTROFES. Como EXEMPLOS, podem ser mencionados o SONETO (que tem longa e profunda vitalidade em várias literaturas, inclusive na portuguesa e na brasileira), o RONDÓ, o RONDEL, a BALADA, o CANTO REAL, o VILANCETE, a VILANELA, a SEXTINA, o PANTUM, o HAICAI (ou haikai) e a QUADRA POPULAR’.


‘OS ESTILOS VÃO E VÊM. Os poemas permanecem e cada um deles constitui uma unidade autossuficiente, um exemplar isolado, que não se repetirá jamais. O poema é feito de palavras, seres equívocos que, sendo cor e som, também são significado. Esse tipo de organismo “anfíbio” começa na palavra, um ser significante, mas, no poema, a linguagem recupera sua originalidade primitiva, mutilada pela redução que lhe impõem a prosa e a fala cotidiana. O POEMA É ALGO QUE ESTÁ MAIS ALÉM DA LINGUAGEM. Entretanto, paradoxalmente, isso que está mais além da linguagem só pode ser conseguido através da própria linguagem. UM QUADRO SERÁ “POEMA”, NO SENTIDO MAIS AMPLO DO TERMO, SE FOR ALGO MAIS QUE LINGUAGEM PICTÓRICA. Nessa medida, ser um grande pintor também significa ser um grande “poeta”: ALGUÉM CAPAZ DE TRANSCENDER OS LIMITES DA LINGUAGEM EM QUE SE EXPRESSA’.


‘O POEMA é, então, uma tentativa de transcender o próprio idioma. A fala – a linguagem social – CONCENTRA-SE NO POEMA, ARTICULA-SE e LEVANTA-SE. O poema é essa linguagem “erguida”. Assim, podemos dizer que duas forças antagônicas habitam o poema, sendo uma de elevação ou desenraizamento, que arranca a palavra da linguagem; e outra de gravidade, que a faz voltar. O POEMA É UMA CRIAÇÃO ORIGINAL E ÚNICA, mas também É LEITURA E RECITAÇÃO: PARTICIPAÇÃO. O poeta o cria; alguém, ao lê-lo ou recitá-lo, o recria. Desta maneira, poeta e leitor acabam por ser dois momentos de uma mesma realidade’.


ASSIM, ‘O sentido principal do poema é o próprio poema: suas imagens não nos levam a outra coisa, como, geralmente, ocorre com a prosa, mas nos colocam diante de uma realidade concreta, porque suas referências são muito mais internas, isto é, encontram-se em si mesmas. O poema transcende a linguagem porque é linguagem – linguagem antes de ser submetida à “mutilação” da prosa ou da conversação – mas é também alguma coisa mais. E esse algo mais é inexplicável pela linguagem, embora só possa ser alcançado por ela. Embora nascido da palavra, o poema desemboca nesse algo que a ultrapassa’.


‘DIZ-SE, também, que o POEMA É LINGUAGEM EM TENSÃO: EM EXTREMO DE SER E EM SER ATÉ O EXTREMO. (...) O poema possui uma inegável UNIDADE DE TOM, RITMO e TEMPERATURA. É um TODO (...), uma OBRA. “E TODA OBRA É FRUTO DE UMA VONTADE QUE TRANSFORMA E SUBMETE A MATÉRIA BRUTA SEGUNDO SEUS DESÍGNIOS”. (...). Mas quem imprime sentido à marcha ziguezagueante de um poema? O ato de ESCREVER POEMAS se oferece a nossos olhos como um nó de forças antagônicas, no qual NOSSA VOZ E OUTRAS VOZES SE ENLAÇAM e se confundem. As fronteiras se extinguem e nosso discorrer se transforma insensivelmente em ALGO QUE NÃO PODEMOS DOMINAR TOTALMENTE. Nessa ambiguidade consistiria o MISTÉRIO do que se conhece como “INSPIRAÇÃO”.


‘PARA ALGUNS, o poema é a experiência do abandono; para outros, do rigor. Cada leitor procura algo no poema. E não é insólito que o encontre: de alguma forma já o trazia dentro de si. Graças ao poema podemos chegar à experiência poética. O POEMA É UMA POSSIBILIDADE ABERTA A TODOS OS HOMENS, qualquer que seja seu temperamento, seu ânimo ou sua disposição. No entanto, o poema não é senão isto: possibilidade, algo que só se anima ao contato de um leitor ou de um ouvinte. Há, assim, uma característica comum a todos os poemas, sem a qual nunca seriam POESIA: A PARTICIPAÇÃO. Cada vez que o leitor revive realmente o poema, atinge um ESTADO que podemos, na verdade, chamar de POÉTICO. O poema é, também, MEDIAÇÃO: graças a ele, o tempo original – “pai dos tempos” – materializa-se num momento. A sucessão se converte em presente puro, manancial que se alimenta a si próprio e transmuta o homem. A POESIA NÃO É NADA SENÃO TEMPO: IMPULSO RÍTMICO PERPETUAMENTE CRIADOR”.


‘AFIRMA, ainda, Octavio Paz: TRAGÉDIA, EPOPÉIA, CANÇÃO, o poema tende a repetir e recriar um instante, um fato ou conjunto de fatos que, de alguma maneira, se tornam arquetípicos. O tempo do poema é distinto do tempo cronológico. “O que passou, passou”, dizem. PARA O POETA O QUE PASSOU VOLTARÁ A SER, voltará A SE MATERIALIZAR. O poeta, disse o centauro Quíron a Fausto, “NÃO ESTÁ AMARRADO PELO TEMPO”. E este responde: “AQUILES ENCONTROU HELENA FORA DO TEMPO”. “Fora do tempo? Melhor, no tempo original”.


TEMPO e RITMO. ‘Paul Valéry, por exemplo, comparou a PROSA COM A MARCHA e a POESIA COM A DANÇA. Assim voltamos à ideia de ritmo, que não é outra coisa senão esta constante REPETIÇÃO e RECRIAÇÃO, como a maré que vai e que vem, que cai e se levanta. Diferentemente, então, do que acontece com a prosa, a unidade da frase, o que a constitui como tal e forma a linguagem, não é o sentido ou direção significativa, mas, principalmente, o que se caracteriza como ritmo. Neste caso, O RITMO NÃO É APENAS MEDIDA, mas, principalmente, VISÃO DO MUNDO e, assim, CALENDÁRIOS, MORAL, POLÍTICA, TÉCNICA, ARTES, FILOSOFIAS, tudo enfim que chamamos de CULTURA TEM SUAS RAÍZES NO RITMO’.

‘O RITMO não é apenas o elemento mais antigo e permanente da linguagem, como também não é difícil que seja anterior à própria fala. Em certo sentido, pode-se dizer que a linguagem nasce do ritmo ou, pelo menos, que TODO RITMO IMPLICA OU PREFIGURA UMA LINGUAGEM. Como então distinguir “prosa” e “poema”? Deste modo: O RITMO SE DÁ ESPONTANEAMENTE EM TODA FORMA VERBAL, MAS SÓ NO POEMA SE MANIFESTA PLENAMENTE. Sem ritmo não há poema; só com ritmo não há prosa. O ritmo é condição do poema, ao passo que não é essencial para a prosa. O poema apresenta-se como um círculo ou uma esfera – algo que se fecha sobre si mesmo, universo autossuficiente e no qual o fim é também um princípio que volta, se repete e se recria’.


‘CONFORME Alfredo Bosi, num poema primitivo ou arcaico, o ritmo procura retomar, concentrar e realçar os acentos da linguagem oral. No POEMA CLÁSSICO, o ritmo tende a demarcar, no interior de uma língua geral, uma área particular de regularidades, ou de continuidades. No POEMA MODERNO, o ritmo tende a abalar o cânon da uniformidade estrita, isto é, procura-se abolir o verso, determinando uma PROCURA e uma EXPLORAÇÃO, cada vez mais conscientes, das potências e virtualidades musicais da frase’.


‘É INTERESSANTE destacar, porém, que METRIFICAÇÃO E RITMO NÃO SÃO A MESMA COISA. O ritmo é inseparável da frase, não é composto só de palavras soltas e nem é só medida e quantidade silábica, acentos e pausas: é IMAGEM e SENTIDO. Ritmo, imagem e significado apresentam-se simultaneamente numa unidade indivisível e compacta: a frase poética, o verso. A metrificação, pelo contrário, é medida abstrata e independente da imagem. A DISTINÇÃO ENTRE METRO E RITMO PROÍBE CHAMAR POEMAS A UM GRANDE NÚMERO DE OBRAS CORRETAMENTE VERSIFICADAS QUE, POR PURA INÉRCIA, CONSTAM COMO TAIS NOS MANUAIS DE LITERATURA. Por outro lado, segundo Octavio Paz, obras como “Alice no País das Maravilhas” (de Lewis Carroll) ou “El jardín de los senderos que se bifurcam” (de Jorge Luis Borges), entre muitas outras, poderiam ser chamados de poemas. Nelas, a prosa acaba negando a si mesma. As frases não se sucedem obedecendo a uma ordem conceitual ou narrativa, mas são principalmente presididas pelas leis da imagem e do ritmo’. Ritmo seria, então, O SOPRO DA VIDA DE UMA OBRA!

CONCLUSÃO: como exemplos, poderíamos citar alguns pensamentos instigantes de Schlegel: “há tanta poesia, e, no entanto, NADA É MAIS RARO QUE UM POEMA. E isto inclui a enorme quantidade de esboços poéticos, escritos, estudos, fragmentos, tendências, ruínas e materiais”. Ou, também: “Assim como uma criança é na verdade alguém que se tornará adulto, UM POEMA É APENAS UM PRODUTO DA NATUREZA QUE SE TORNARÁ OBRA DE ARTE”. Ou, ainda: “Em todo bom poema é preciso que tudo seja INTENÇÃO e tudo seja INSTINTO. Por isso ele se torna ideal”. Ou, mais outra: “Anotações para um poema são como lições de anatomia sobre um assado”. Enquanto isso, R. Whately, afirma, no dicionário de Shipley, que: “qualquer composição em verso (e nenhuma que não o seja) é sempre chamada, seja boa ou má, de um Poema, POR TODOS QUE NÃO POSSUEM UMA HIPÓTESE ESPECÍFICA A SUSTENTAR”.



Afonso Estebanez
FOTO DE PERFIL


Quem me vê com a alma repousada
entre as cores manchadas desta foto 
não sabe que ela é resto de alvorada
desmaiada entre as barras do ignoto.

O que vê são as sombras do remoto
porvir de alguma aurora desenhada
na areia do crepúsculo onde aporto
a foto que o amor deixou marcada.

Foi-me o tempo e levou a mocidade
das minhas rosas só deixou saudade
só espinhos me restam de uma flor... 

Nem de sonho vivido já me lembro...
Só das saudosas tardes de setembro
como memórias póstumas do amor...

Afonso Estebanez
(Poema dedicado à Sara Alves
responsável por minha foto de perfil)
CHÁCARA DA SAUDADE


Do quanto quis ser feliz
fiz da vida uma quimera
e fui dela esse aprendiz
mais feliz da primavera.

E com saudade me diz
o quanto se desespera
cada pranto que desfiz
por encanto que fizera.

Todo amor aqui refaço
e dos mantras o riacho
faz minha vida singela.

Tal meu anjo jardineiro
extrai lírios do canteiro
de gerânios na janela...

Afonso Estebanez
(Soneto heróico dedicado a formosa
Glauciane Contte Stael – 20.11.2014)
CANTIGA EM FORMA 
DE SONETO PARA JACQUELINE


Há algo de você nas leves plumas
das aves que a visitam nas janelas
como algo que flutua nas espumas
do mar quando se deita sobre elas...

Algo de luz de ondinas luminosas
asas de malva e seda das libélulas...
Algo que sonha e fala como rosas
de algum pedaço da ternura delas..

Algo tão leve quanto inamovível
como aroma de brisa imperecível
que de tão breve ao imortal ajunta...

Profano como as almas das maçãs 
entre os úmidos lábios das manhãs
iluminadas que não morrem nunca...

Afonso Estebanez
(Poema dedicado a Jacqueline Barrozo Rosa)
UMA CANÇÃO PARA MATHËUS


Tu vens do amor divino que te espelha
num concerto de cânticos que acalma
meus inquietos crepúsculos de estrelas
que adormeceram na constelação
da alma...

Vens do anjo mensageiro que me avisa
– o senhor ancestral de meu segredo – 
que teu ser múltiplo me traz na brisa
o sangue em que percorres meu amor
sem medo...

Sabes de mim como do mar o vento
como sabe os destinos o horizonte
do barqueiro... De meu contentamento
de ser ilha onde sonha o meu infante
marinheiro...

Tu vens do lado claro de meu ser
como um sonho remido de criança...
Quantas e quantas eras me restei 
vivendo por viver no itinerário
da esperança...

Mas veio da canção que não se cala
na flauta o que não fala é o que me diz 
e o que me diz é feito do mais terno 
amor do jeito eterno do meu lado
mais feliz...

Afonso Estebanez 
(O neto que o amor me deu...)

ORAÇÃO JUNTO AO BERÇO



Meu filho!
O dia em que sentires que te existes
aí terás certeza de que te perdeste.
Os caminhos aqui já foram palmilhados.
O amor é a sombra fugitiva da esperança.
Nós somos teus parentes incomunicáveis
buscando a mesma paz que não se alcança.

A vida é que também não te pertences.
Chegaste um ajo a mais em órbita da aurora
no rumo de uma estrela à margem do infinito.
Um ser que se constrói de glórias fugidias
e se explica na mesma busca indefinida
da flor na rota do crepúsculo dos dias.

É isto que dei – fruto provado
já ferido de espada porque o dei sem ódio.
Andei pelos caminhos destas mãos abertas
expondo o coração à prova do teu pranto.
Depus na tua vinda o último momento
da vida que de mim morria nesse encontro.

Aí estão tuas colinas verdes
das esperanças que nutriste sem saber
e teus caminhos se anunciam sobre os mares
destas planícies que teu sangue já inundou.
Convive agora com teu sonho inexorável
porque chegaste, mas a vida não chegou...

E então, meu filho!
Atira os braços ao mistério
da retribuição do ser que se reparte
pelas águas dos campos e nuvens e ventos
isento como as aves dos desinteresses...
E estaremos tão juntos que nos confundimos
naquilo em que morri para que tu vivesses...

Afonso Estebanez
(Poema dedicado ao meu filho Alessandro de Castro Estebanez Stael.
Composto em 23 de julho de 1970 e publicado em “Livro de Viagem 
ou do Depoimento” – Livraria São José – 1971). 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

CANÇÃO JUNTO AO BERÇO


Johanna veio correndo
abrindo o corpo no vento
colher a rosa do amor
plantada à beira do tempo.

Johanna chegou na voz
da canção que não havia...
O mundo todo chorava
e só Johanna se ria.

E doce fazia o pranto
aquilo que ela cantava...
Se Deus ouvia seu canto,
seu anjo comemorava.

E tudo o que traduzia
sua canção tão serena
era a voz que não se ouvia
do seu lamento sem pena.

E pus seu sonho no vento
para ver aonde ele iria,
pensando que o vento fosse
sua triste cotovia...

Mas era uma ave tão leve
e sua canção tão suave
que até quase só me lembro
da canção e não da ave...

Johanna se deu à luz
do oriente à maresia
e a aurora de seu corpo
se deu ao corpo do dia.

Passageira do infinito
que os sonhos agasalharam,
Johanna matou a fome
dos sonhos que a devoraram.

Pôs seus desejos nos rios
nos campos tanta esperança
que sua alma vive em tudo
enquanto o corpo descansa.

Há tempos me vem dizendo
palavra que não se ouvia...
Calada falava mais
do que aos gritos me dizia...

Vim devolver-te o caminho
que não foi de sombras nem sol
nas praias das mãos sem pedras
banhadas em mel e sal.

Vim devolver-te a esperança
na pousada de meus braços
sem vigília e sem pernoite
sem descanso nem cansaço...

Vim devolver-te meu pão
meu trigo meu alimento
que meus moinhos parados
deixaram passar no vento...

Mares calmos de enseadas
de meu sangue navegante...
Devolver-te o que me resta
no infinito desse instante!

Afonso Estebanez
(Poema dedicado à minha filha
Johanna Estebanez Stael)
FILHO DO SER OU NÃO SER


Não importa de qual profundo lago
emergiu-te o destino rumo à aurora...
Importante é que tenhas ao teu lado
um anjo que sorri enquanto chora.

Sou teu vale de esperas e ternura
que te virá do mar ou do deserto.
Se te vier amarga, é com doçura.
Se te vier de longe é de tão perto.

Não importa desatem as amarras
desse barco aportado no meu peito...
O amor pode singrar águas esparsas
sem afastar-se nunca de seu leito.

Não importa se praias adormecem
e sonhos se desfazem quando venta... 
Importa é que os portos acontecem
pesar dos vãos açoites da tormenta.

Não importa as origens dos afetos
se a manhã e o crepúsculo se beijam
como as noites e os dias são trajetos
dos extremos da luz que se desejam.

Não importa a questão ser e não ser
quando o amor não precisa de razão...
Tu és meu filho! E basta-me saber
que meu cio há também no coração!

Afonso Estebanez

(Poema dedicado ao meu filho afetivo
Maykel Rodrigues Alves)
QUEM QUER QUE SEJA...



Quem quer que seja vem vindo 
mar adentro ao ventre afora...
Lua cheia num crepúsculo
navegando rumo à aurora...

Quem quer que seja vem vindo
como a flor recém-nascida
na parte reencontrada
de minha parte perdida.

Vem vindo do lado alegre
de meu lado descontente
vivendo do instante eterno
de viver eternamente...

Como canção pressentida
num leve roçar do vento
na superfície das águas
serenas do pensamento.

Qualquer semente cativa
na flor do ventre a pulsar...
Qualquer estrela cadente
nas águas fundas do mar...

Quem quer que seja vem vindo
dos meus instintos secretos
como um anjo reencontrado
no exílio de meus afetos...

Maior que o reino de mim
por quem sonhando me iludo
a mim pode vir sem nada
que em mim é dono de tudo...

Afonso Estebanez
(Poema dedicado ao meu filho Mark Estebanez Stael) 
PARÁBOLA DE AMOR


O que vou te confessar agora
nesta inconsútil parábola de amor
a ninguém jamais foi dito.
Nem eu sei
o que dizer daquilo que não tem memória.

É como o nascimento casual
de uma flor na relva do jardim
ou a canção inesperada de um pássaro
que canta por instinto.
Porque o destino do pássaro
é cantar,
assim como o destino da flor
e florescer...

E se o destino do que devo te dizer
é esse,
então o amor por si próprio se revelará
inexoravelmente
como o sol que entra de manhã
pela janela de minha casa.

Por isso,
peço que guardes minhas palavras
para toda a vida
como a única, 
última
e decisiva chave
do teu livre convencimento.

Porque amanhã,
se eu te disser a mesma coisa
já não seria a mesma coisa,
senão aquilo que te não disse
com as mesmas palavras
que teus ouvidos já ouviram
e teu coração já sentiu...
E é tudo o que sabes das águas de um regato
que não rolam mais por onde já passaram...

As aves que bailam pelo céu
nunca traçam a mesma trajetória,
ainda que prossigam em cumprir
seu destino de voar
como silfos desenhando no infinito
um aeromapa de rotas desconhecidas.

As palavras,
pastoras dos rebanhos de minhas emoções,
jamais conduzirão suas ovelhas pela mesma trilha
onde os lobos dos sentidos
tocaiam suas presas.

Assim como a canção mais leve
que há no mais breve instante em que o cristal
se quebra,
assim minhas palavras
são como as borboletas que morrem
após seu único,
último
e efêmero ato
de amor eterno!

Põe tua última atenção em mim.
Eu quero que me ouças assim como te falo
– de braços apertados ao redor desse meu próprio 
abraço, como quem vive da alegria reinventada de viver...
Ou de braços abertos para a noite iluminada
como a aurora que precede a convenção dos pássaros
antes de o dia amanhecer...

Repara bem no que agora vou dizer:
– Minha vida foi de inventar.
A única coisa que tenho reaprendido
é ficar ancorado ao redor de tua vida
como a ave marinha que não sabe de outra ilha.


A travessia para mim foi um naufrágio
de que não guardo mais qualquer recordação.
Estar aqui é só o que me basta,
como às eras dos penedos basta a brisa que as visita.
Minha esperança não tem nenhuma inquietação.
Meus sentidos não têm um só pressentimento.
Em silêncio me deito em teu regaço
e agonizo num êxtase sem sofrimento.

E assim vou construindo a eternidade deste instante
como o náufrago que reconstrói a sua nau
dos restos que ficaram dos momentos...

Despojo-te de tuas vestes
e faço disso um ritual de paz
e não um exorcismo de memórias e ressentimentos.
Eu faço como o sol que despe sua flor na relva
pela simples razão de que há nisso
o instinto de sublimação pelo milagre renovado.

Quantas e quantas vezes tens deixado 
que eu te crucifique no meu corpo
pelo simples mistério que há no amor
de imolar-se sem ter padecimento.
Quantas vezes velei para que tu dormisses
com o murmúrio do mar ao redor de sua ilha...
E era sempre meu anjo quem velava
os sonhos de nós dois enquanto tu dormias.

Jamais pedi que me dissesses o quanto te mereço
nem sei se o sol o exigiu da flor.
Emigra o pássaro e seu canto fica...
Se é passageiro vem do que padeço.
Mas se é eterno vem do nosso amor!

É por isso que peço que me escutes
pela última vez em tua vida...
– Das mais altas colinas de meu ser
das mais altas encostas já vencidas
declaro-te mulher,
rainha te consagro
e deusa te proclamo...

E meu grito ressoa nas montanhas:

– EU TE AMO!... 
– EU TE AMO!... 
– EU TE AMO!... 

Afonso Estebanez 

domingo, 4 de dezembro de 2016


A MAGIA DA EXPRESSÃO LITERÁRIA
OFICINA – MÓDULO 05
DA ARTE DE ESCREVER SEM MEDO 
*UMA VOLTA AOS MÓDULOS ANTERIORES*



NO ÚLTIMO módulo deixamos uma pequena abertura para lembrar que o “Manifesto Futurista” proposto por Oswald de Andrade durante a Semana de Arte Moderna de 1922, transformou-se num movimento visto depois com restrições pelas gerações denominadas ‘pós-modernistas’, já que o ‘futurismo’ do autor de ‘Poesia Pau Brasil’ implicava em injustificável desordem ortográfica no sistema linguístico nacional. Citamos, então, o notável poeta mineiro *Ângelo d’Ávila, tido como um dos adeptos do mencionado ‘movimento’ ainda não totalmente superado no Brasil, visto que Ângelo tem descartado as feições anarquistas daquele propósito, propondo outra vertente denominada ‘neofuturismo’, como forma de resgate das particularidades literárias aparentemente não descartáveis daquele ‘movimento’. 

DADA a repercussão positiva da lembrança, é imperioso voltar nossas atenções novamente para os módulos anteriores, ao propósito de que fiquem bem acentuados os fundamentos da ARTE DE ESCREVER SEM MEDO, a partir de uma ATITUDE DA ALMA HUMANA a completar-se o ciclo da TRANSITIVIDADE DO SER À MATERIALIDADE DO POEMA, seja através de uma atitude meramente artística, mística, filosófica, crítica ou científica. Todo ato humano é cometido com base num PROPÓSITO que o realiza. Viver é um propósito humano. Viver em estado de felicidade é o propósito ideal da humanidade.

“DEVE ser necessário um poderoso bloqueio mental para chegar alguém ao termo de uma vida mais ou menos longa sem ter aprendido algo de próprio da ciência e da arte de viver, e é de se imaginar quantos grãos de sabedoria da vida hão de se ter perdido, inaproveitáveis para a maioria, aproveitados exclusivamente por algumas criaturas às quais não terá sido dada ocasião em que pudessem fazer do que sabiam um legado útil a seus semelhantes. Quantas vezes nos ocorre, a este ou àquele PROPÓSITO, uma FRASE ou ATITUDE que guardamos de um nosso tio ou avô, como sinal de singular sabedoria em certas circunstâncias? – Ora, os filósofos e os poetas (um bom  filósofo não ser também poeta é tão difícil quanto um bom poeta não ser também filósofo) são como que bem avisados tios e avós de todos nós, felizmente dotados de uma sensibilidade e de uma inteligência mais apuradas, exercitadas além de tudo” (*Geir Campos, in prefácio de ‘Cartas a Um Jovem Poeta’, Rainer Maria Rilke, Tecnoprint Gráfica, Rio de Janeiro,1967).

“ATITUDE” é dinâmica do potencial de capacidade de lidar com a realidade dos mundos interior e exterior, diante dos FATOS, SITUAÇÕES, CIRCUNSTÂNCIAS, SERES e GENTE. É um procedimento humano que a um só tempo influencia e sofre influências de fatores internos e externos, alteração das bases emocionais, psicológicas e cognitivas, alcançando um estado de alma que, no caso da arte, concebe-lhe, cria-lhe e promove-lhe existência.

QUESTÕES fundamentais sobre a atitude humana e seu universo de variantes estão no lançamento da Editora LGE: Atitude - O QUE NINGUÉM PODE FAZER POR MIM, de Mônica Zarat Pedrosa Campetti e Geraldo Campetti Sobrinho. ‘A obra responde a dúvidas sobre temas instigantes do cotidiano: escolhas e suas conseqüências, gerenciamento do tempo, autoconhecimento, comportamento, motivação, desenvolvimento pessoal, capacitação profissional, autoaceitação, revisão de paradigmas, medos, relacionamento interpessoal, ansiedade’.

ATITUDE seria, em suma, o que ninguém pode fazer por nós, num processo gradativo de autoconquista, tornando conscientes HABILIDADES, POTENCIAIS, VIRTUDES e HÁBITOS. Quem quiser penetrar no mundo da arte de escrever sem medo, deve estar convidado por si mesmo a empreender essa jornada interior, desde que há sempre algo de novo para descobrir e aprender, tal como diz a famosa afirmação de Sócrates: ”Só sei que nada sei”. Esta é a fundamental verdade filosófica onde todos se devem apoiar. Mas um dos principais atributos da ATITUDE DA ALMA HUMANA é ser interrogante sobre FATOS, IDEIAS, COMETIMENTOS, SITUAÇÕES e COMPORTAMENTOS, principalmente os que dizem respeito a nós mesmos como produtos de nossos propósitos mais secretos. Nosso notável poeta e amigo *Jaak Bosmans nos lembra – com muita propriedade – o ensinamento de Immanuel Kant: "Avalia-se a inteligência de um indivíduo pela quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar".

A “ATITUDE MÍSTICA” DA ALMA HUMANA, segundo o poeta, filósofo e pensador *Carlos Bernardo González Pecotche: “Sendo a essência de um sentir espiritual, a mística manifesta-se livre e espontaneamente no íntimo de cada ser. O temperamento místico é inato na alma humana, e adquire seu sentido ideal quando expressa a aspiração de identificar-se com a alma universal. No próprio instante em que toma contato com a vida, ao nascer, o ser pronuncia sua primeira exclamação mística: é o grito incontido do primeiro triunfo sobre sua natureza. Repete-a pela última vez” (...) no momento da morte.

PECOTCHE explica que a atitude mística se desenvolve no homem segundo seus sentimentos. Quanto maior for a evolução, tanto mais íntima, delicada e sublime será a pureza de EXPRESSÃO NA ATITUDE CULTA. Ao SUBMERGIR-SE NAS PROFUNDIDADES DE SEU SER, para perscrutar os desígnios de sua vida, e emergir depois na superfície da consciência resplandecente de júbilo, o homem não pode se sentir nada menos do que maravilhado diante do supremo pensamento que animou sua existência.

“ESSA mesma sensação – elucida Pecotche – de encantamento e esplendor, ele a experimenta diante de tudo o que comove sua inteligência; do que transcende o vulgar e fácil; diante da inefável pureza do belo, do heróico e do grande, seja em gestos, em fatos ou façanhas, e, enfim, diante de tudo o que, de uma ou de outra maneira, o incline a RENDER UM CULTO E UMA ESTIMA QUE NÃO SE SENTE INSPIRADO A TRIBUTAR SENÃO AO QUE PROMOVE O PRONUNCIAMENTO DE SEU ESPÍRITO”.

ISSO não é outra coisa senão aquilo que deriva da mística em sua essência mais pura. NA ARTE DE ESCREVER, o soneto, o sonetilho, o rondó, o rondel, a balada, o canto real, o vilancete, a vilanela, a sextina, o pantum, a sextilha, o epigrama, o poemeto, a trova, o poemínimo, o haicai, a quadra popular, a poesia-síntese, o verso livre, o verso branco, o épico, o satírico, o sinfônico, o lírico, o dramático, o poema em prosa, o verso intermediário, o poemagético, o visual, o repente, o cordel, o lógico, o ficcional, enfim, seja o que for que tenha base no PROPÓSITO ARTÍSTICO CAPAZ DE MATERIALIZAR UMA ATITUDE DA ALMA, de natureza linguística ou metalinguística, são reações naturais da sensibilidade do espírito diante do que exalte a consideração humana, maravilhe a razão ou estimule fortemente a consciência, merecendo o conceito de ATITUDE MÍSTICA DA ALMA, simplesmente porque essas ATITUDES revelam a presença, no homem, de sentimentos e instintos que expressam ou tornam manifesto o mais puro e sublime de sua natureza. E do ponto de vista literário, pode-se afirmar que tais ATITUDES ASCENDEM AO DIVINO, UMA VEZ QUE ULTRAPASSAM O PLANO DAS MANIFESTAÇÕES HABITUAIS (Trechos absorvidos do livro ‘O Mecanismo da Vida Consciente’, p.111).

UM TEXTO do poeta e pensador Jaak Bosmans, proporcional aos elementos orientadores deste Módulo:
"SEM POEMAS SEM POESIAS"

Como é bom receber poemas e poesias!
Como seria bom!
Como seria bom se cada uma delas fossem reais!
Reais como sentimentos ocultos de quem nos envia.
Com o rosto descoberto, um sorriso aberto.
Talvez nem fosse necessário tanto poema e tanta poesia!
Apenas nos dizer palavras simples, sem simbologias gráficas ou sonoras.
Nos mostrar que valemos a pena, por ser mais que um simples amigo. 
Que somos a própria poesia e o próprio poema, um para o outro!
Jaak Bosmans” 

*José Oswald de Sousa de Andrade (São Paulo, 11 de janeiro de 1890 - São Paulo, 22 de outubro de 1954) foi um escritor, ensaísta e dramaturgo brasileiro. Era filho único de José Oswald Nogueira de Andrade e de Inês Henriqueta Inglês de Sousa Andrade. Seu nome pronuncia-se com acento na letra a (Oswáld). Foi um dos promotores da Semana de Arte Moderna que ocorreu 1922 em São Paulo, tornando-se um dos grandes nomes do modernismo literário brasileiro. Foi considerado pela crítica como o elemento mais rebelde do grupo.

*Ângelo d’Ávila, é mineiro de Araxá, MG, onde nasceu em 1924. É membro da  Associação Nacional dos Escritores de Brasília (ANE), do Sindicato dos Escritores de Brasília, e das seguintes entidades: Titular da cadeira XXXVI da Academia de Letras de Brasília (DF),  membro correspondentes das academias:  Petropolitana de Poesia Raul de Leoni (RJ), Internacional de Letras “3 Fronteiras” e Uruguaiana de Letras (RS), Pirenopolina de Letras e Música (GO) e Araxaense de Letras (MG); sócio do Clube de Poesia da Associação Uruguaianense de Escritores e Editores e do Clube Internacional da Boa Leitura (RS) e outras agremiações ligadas à cultura. 

*Geir Nuffer Campos, poeta, jornalista e ativista cultural de grande presença e influência na literatura brasileira. Nasceu em São José do Calçado (ES) em 1924. Foi piloto da marinha mercante e ex-combatente civil na Segunda Guerra Mundial. Formado em Direção Teatral (FEFIERJ-MEC, Rio), mestre e doutor em Comunicação Social pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com Thiago de Mello fundou a editora Hipocampo, marco nas artes gráficas do livro brasileiro. Obra extensa e de valor imorredouro.

*Arthur Jaak Wilfrid Bosmans (Jaak Bosmans). Nascido em Belo Horizonte, curso de cinema na Bélgica, Publicitário com várias premiações, cursou Belas Artes na Guignard, sete anos de estudo de música clássica [piano], escreve desde 1972, com um intervalo de mais de 30 anos parado, retornando em 2005. Ex-professor de cinema e literatura na Universidade e criador em 2002 do Poemagem, criador do curso de Cinema e literatura na sala de aula no curso de especialização com a Drª em literatura, Kenia de Almeida.

*Carlos Bernardo González Pecotche nasceu em Buenos Aires, Argentina, em 11 de Agosto de 1901. Baseado na hierarquia e herança de seu próprio espírito, González Pecotche reagiu muito cedo contra a rotina dos conhecimentos correntes e sistemas usados para formação do ser humano. Criou e desenvolveu a Logosofia, uma nova linha de conhecimentos transcendentes e essenciais para a vida dos seres humanos. Sua original concepção de vida humana, de Deus, do Universo e suas leis, o coloca à frente dos grandes precursores da humanidade. Em 1930, instituiu Fundação Logosófica com o objetivo de difundir a nova ciência que havia criado, hoje expandida a vários países através de centros culturais onde se estuda e pratica esta nova linha de conhecimentos. O pensamento do criador da Logosofia é absolutamente original, isto é, González Pecotche não bebeu em fonte alguma. 

Afonso Estebanez