quarta-feira, 29 de março de 2017

VIDENTE


Tudo claro como o raio
e simples como a serpente
evidente como a morte
que há na sorte da vidente.
A cruz à beira da estrada
porteira que não se move
o cantar das corredeiras
tão cansado me comove.

E meu corpo hirto na relva,
horto de eras ao relento
pensamentos nos abrigos
dos remoinhos do vento.
Cerca de arame farpado
e esse entulho no jardim
milho novo replantado
nas vertentes de alecrim.

Duas ovelhas no aprisco,
um cão magro na cadela
dois jacintos pendurados
nos dois lados da janela.
Tudo certo como a morte
esperando simplesmente
evidente quanto a sorte
desse escorte da vidente....

Afonso Estebanez

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