A MAGIA DA
EXPRESSÃO LITERÁRIA
OFICINA –
MÓDULO 08
DA ARTE DE
ESCREVER COM ESTILO
*UM ATRIBUTO
DA INDIVIDUALIDADE HUMANA*
“O MITO DA CAVERNA”. Todos conhecemos a parábola “O Mito
da Caverna”, também chamada de “Alegoria da Caverna”, escrita por Platão (428-347), encontradiça na obra intitulada “A
República” (Livro VII), de
autoria do filósofo grego. Trata-se da exemplificação de como podemos nos
libertar da condição de escuridão que nos aprisiona ao nos impedir de alcançar
a luz da verdade. Pode ser uma exemplificação de COMO PODEMOS SUPERAR O MEDO DE
ESCREVER, cujo destino é o alcance da libertação ATRAVÉS DA ATITUDE DA ALMA
HUMANA.
Segundo relato de
Platão, havia uma caverna separada do mundo exterior por um muro enorme, mas
que continha uma pequena passagem que permitia a entrada da luz exterior. Seres
humanos viviam ali como prisioneiros desde o nascimento, geração após geração,
acorrentados e forçados a enxergar apenas a parede do fundo da caverna, sem que
jamais tivessem visto o mundo exterior NEM A LUZ DO SOL. Uma réstia da luz
externa, que passava pelo orifício do muro, iluminava o espaço habitado pelos
prisioneiros, fazendo com que as coisas que se passavam no mundo exterior fossem
projetadas como sombras na parede. Os habitantes da caverna JULGAVAM QUE AS
SOMBRAS FOSSEM A MAIS PURA VERDADE. Certo dia, um dos prisioneiros resolveu
empreender fuga da caverna, fabricando um instrumento com o qual quebrou os
grilhões e escalou o muro, numa ATITUDE pessoal de muita coragem. Saiu da
caverna e, no primeiro instante, ficou totalmente cego pela luminosidade da luz
do sol, com a qual seus olhos não estavam acostumados, mas pouco a pouco se
habituaram à luz, através da qual começaram a VER O MUNDO como ele era. O
prisioneiro ficou ESPANTADO e, ao mesmo tempo, CHOCADO de ver as PRÓPRIAS
COISAS, descobrindo que em sua prisão via apenas SOMBRAS e REFLEXOS. Desejou ficar
longe da caverna, mas resolveu voltar para LIBERTAR os outros, avisando-lhes
sobre o verdadeiro mundo. E, mesmo assim, foi desacreditado pelos demais que,
incrédulos, preferiram manter suas idéias anteriores.
CONCLUI-SE QUE: é muito
mais cômodo para nós apenas receber e aceitar tudo o que nos é mostrado como se
fosse realmente verdade. Com isso, passamos a ter ideias errôneas e a formar
opiniões distorcidas ou equivocadas sobre a maioria das coisas e fatos que
cercam nossas vidas, sem que percebamos que estamos sendo manipulados para
enxergar um mundo diferente do real. Ao aceitarmos essa condição, perdemos a
oportunidade de conhecer a LIBERDADE, e o único jeito de alcançá-la é buscando a
VERDADE dentro de nós mesmos, através de uma MANIFESTAÇÃO DE VONTADE COMPATÍVEL
COM A ATITUDE DA ALMA HUMANA, uma atitude que nos liberte das influências que
aceitamos sofrer, assim como o prisioneiro das trevas do mito de Platão: sendo
capazes de acreditar que muitas vezes esse livramento está dentro de nós
mesmos.
Assim, a “ARTE DE ESCREVER COM ESTILO” seria um
atributo da individualidade humana, uma regra geral de libertação de uma visão
estética da vida, segundo o processo natural do conhecimento humano. Mas a
“ARTE DE ESCREVER COM ESTILO PESSOAL PRÓPRIO”, isto é – definitivamente – uma
regra individual de libertação de uma visão estética da vida, através da
expressão linguística peculiar a cada um. Neste contexto, a “POESIA” que existe
dentro de cada um de nós se manifesta apenas como reflexo interior da luz, tal como
no ‘mito platônico da caverna’. Mas se a poesia se liberta através da “ATITUDE”
do poeta, assume a forma de “POEMA” e reassume a sua condição de expressão da
verdade objetiva do mundo exterior. Seja como for, todo autor traz na escrita
um “ESTILO”. Pode não ser definido ‘tão logo’ como ‘estilo pessoal próprio’, posto
que é uma ‘experiência de libertação’ da individualidade. Mas é um ‘estilo’, um
‘produto da verdade’ do ponto de vista da materialidade da obra.
Neste passo, não há obra de arte desprovida de estilo.
Conseqüentemente, todo poema tem um estilo. Quanto à sua identificação,
espécie, qualificação ou quantificação no mundo artístico, não é matéria de que
nos ocuparemos. De tais particularidades, ocupa-se a estilística. Infinito é o
número dos autores que, no curso da história da cultura humana, entregaram-se aos
estudos sistemáticos e analíticos de questão tão controvertida, a envolver
retórica, poética, arte, ciência, literatura, epistemologia, justiça, virtude,
política, educação, filosofia e militarismo, desde a Academia de Atenas (388 a.
C.) com Platão, Sócrates e Aristóteles, até os dias de hoje, época em que a visão dominante de “ESTILO”, na
linguística do séc. XX, pode ser descrita, segundo Birch (1998, p. 995), como
“[...] a soma das características linguísticas que distinguem um texto de outro. E o que identifica a ‘ESTILÍSTICA’ como
disciplina preocupada com a teoria e análise do estilo são motivações teóricas
e metodológicas diferentes, que determinam quais características linguísticas
em um determinado texto são adequadas para análise e quais não são. É uma
estilística preocupada com a variação no uso da linguagem, ou seja, com a
escolha analítica de seus termos (…)”.
Hoje, portanto, o
termo ‘ESTILO’ passou a evocar, não mais o instrumento de ferro pontudo nas
mãos de um velho sábio grego ou romano – o estilete – com que escrevia ele em
tábuas enceradas. Estilo, na era moderna, passou a evocar o PRÓPRIO ESCRITO.
Tem sentido figurado ou metafórico. De PRODUTO, passou a CONCEPÇÃO, a uma
FEIÇÃO ESPECIAL. E apresenta-se nos mais diversificados usos: ‘estilo
arquitetônico’, ‘estilo oratório’, ‘dança estilizada’, ‘dançarino sem estilo’, ‘estilo
livre’, ‘estilo acadêmico’, ‘estilo apocalíptico’, ‘estilo asiático’, ‘estilo
de jogo’, ‘estilo de borda’, ‘estilo de linha’, ‘estilo de tipos’, ‘estilo
didático’, ‘estilo epistolar’, ‘estilo familiar’, ‘estilo clássico’, ‘estilo
forense’, ‘estilo nobre’, ‘estilo vulgar’, ‘estilo ‘rebuscado’, ‘estilo
rococó’, ‘estilo vicioso’, ‘estilo temperado’. Mas também é “ESTILO LITERÁRIO”:
CARÁTER de uma produção artística de certa época ou certo povo, uma MANEIRA
ESPECIAL de exprimir os pensamentos, falando ou escrevendo, uma HABILIDADE
DISTINTA de compor, de pintar ou de esculpir de cada um.
Cada autor, por isso
mesmo, ESTETA ou NÃO, impõe, no conteúdo de sua obra, algo de si próprio. Essa
MANEIRA PESSOAL de expressão perceptiva ou imaginativa do autor é o ESTILO. É o
que permite seja a obra sentida mais sensual, mais plástica, mais romântica,
mais lírica, mais espiritualista. Não deve o estilo, entretanto, ser
inteiramente livre, a ponto de submeter a obra artística a uma conceituação
crítica que a classifique como produto de mera leviandade literária ou de
anarquia linguística. De um modo ou de
outro, o estilo está condicionado a determinados fatores, para que seja
inteligível e passe à posteridade mediante a aprovação do leitor e o
reconhecimento público.
Portanto, na composição
de um texto com propósito literário, devem ser observadas, em nome da arte de
escrever, as QUALIDADES DE ESTILO, consubstanciadas – segundo orientação do já
citado professor José Oiticica in Manual de Estilo – na ‘CORREÇÃO’, ‘CONCISÃO’,
‘CLAREZA’, ‘HARMONIA’, ‘ORIGINALIDADE’ e ‘VIGOR’ da linguagem literária – o que
envolve precedentes estilísticos artisticamente privilegiados como: FORMA (materialidade
de expressão), TEMA (motivo e núcleo ideativo) e RITMO (metrificação, cadência
e musicalidade). Entre outros, estes assuntos serão objeto de nossos próximos
módulos.
Sobre a matéria em destaque neste módulo (08),
porém, queremos destacar aqui a observação abalizada do notável escritor e
artista visual catarinense *Tchello d'Barros, que advertiu durante entrevista
concedida no XVI Congresso Brasileiro de Poesia, realizado em 2008 no palco
cultural de Bento Gonçalves/RS: “Alguns teóricos são radicais ao dizer que
não existe poema sem o chamado ritmo. Seria o ritmo a base fundamental do
poema. A metrificação é uma decorrência do ritmo. Aliás alguns defendem que
deve haver algum tipo de métrica mesmo em versos livres. Já outros, dizem
que o tema é a coisa mais importante a se considerar num texto que se
pretende ser um poema. *James Joyce privilegiou o estilo e a linguagem.
*Jorge Luis Borges apostava nas metáforas. Alguns puristas defendem a
forma - as formas fixas - como base segura para se escrever um poema. Penso
que estes são alguns dos elementos com os quais o poeta deve lidar. O
mais importante talvez seja a possibilidade de alguém conseguir no meio
disso tudo encontrar sua voz pessoal, seu estilo único (...)”, numa
“escrita peculiar e autoral” (asteriscos nossos).
*Tchello d'Barros
(Brunópolis/SC, 1967) é escritor, artista visual e viajante. Residiu em 12
cidades, sendo 15 anos em Blumenau/SC, onde iniciou a carreira artística.
Percorreu 20 países em constantes pesquisas na área cultural e desde 2004 está
radicado em Maceió/AL, onde produz obras em desenho, pintura, infogravura,
fotografia, instalação e poesia visual. Publica textos regularmente em jornais,
revistas, sites e eventualmente ministra palestras, oficinas literárias e cursos
de desenho.
*James Augustine Aloysius Joyce (Dublin, 2 de
Fevereiro de 1882 — Zurique, Suíça, 13 de
Janeiro de 1941) foi um escritor irlandês expatriado. É amplamente considerado um dos autores de maior relevância do século XX. Suas obras mais
conhecidas são o volume de contos Dublinenses (1914) e os romances Retrato do Artista Quando Jovem (1916), Ulisses (1922) e Finnegans
Wake (1939) - o que se poderia considerar um "cânone joyceano".
*Jorge
Luis Borges Acevedo (Buenos
Aires, 24 de
Agosto de 1899 — Genebra, 14 de
Junho de 1986) foi um escritor, poeta, tradutor, crítico e ensaísta argentino mundialmente conhecido por seus contos e histórias curtas. Ele nasceu, depois de morrer, porque ele viu, que seu
sonho era próspero. E nunca mais voltou.
Afonso Estebanez
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