A MAGIA DA EXPRESSÃO LITERÁRIA
OFICINA – MODULAÇÃO INTERATIVA - 06
*A INICIAÇÃO DE MARY LOVELY*
OFICINA – MODULAÇÃO INTERATIVA - 06
*A INICIAÇÃO DE MARY LOVELY*
Vemos que seu impulso poético inicial já
emergiu. E emergiu exatamente de onde devem emergir as primeiras manifestações
da alma na seara da poesia. Indague-se sempe: “Morreria, se não me fosse
permitido escrever?”. Principalmente isto, diz Rainer Maria Rilke – já citado
aqui – em ‘Cartas a um Jovem Poeta’. “Na hora mais tranquila da noite –
continua o mais autorizado poeta da língua alemã do século XX – faça a si esta
pergunta: ‘Sou de fato obrigado a escrever?’ (...). A sua existência, mesmo na
hora mais indiferente e vazia, deve tornar-se sinal e testemunho de tal
impulso. Aproxime-se, então, da natureza. Depois procure como se fosse o
primeiro (ser) a dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de
amor. Evite, de início, os temas demasiado comuns: são os mais difíceis. Nos
assuntos em que tradições seguras, às vezes brilhantes, se mostram em grande
número, o poeta só pode realizar obra pessoal na plena maturidade da sua força.
Fuja dos grandes assuntos e aproveite aqueles que o dia-a-dia lhe oferece. Fale
das suas tristezas e ou alegrias, dos seus desejos, dos pensamentos que o tocam
da sua fé na beleza. Utilize, para se exprimir, os objetos que o rodeiam, as
imagens dos seus sonhos, as suas lembranças. Se o cotidiano lhe parece pobre,
não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas
riquezas. Para o criador nada é pobre, não há lugares mesquinhos e
indiferentes. Mesmo num cárcere cujas paredes abafassem todos os ruídos do
universo, não lhe ficaria sempre a sua infância, essa preciosa, essa esplêndida
riqueza, esse tesouro de recordações? Volte, para esta direção, o seu espírito.
Procure fazer regressar à superfície as impressões submersas desse longínquo
passado. A sua solidão povoar-se-á, tornando-se nas horas incertas do dia, uma
espécie de moradia fechada aos sons exteriores”. Esta é a sua seara inicial ao
plantio da boa semente da poesia!...
Afonso Estebanez
Afonso Estebanez
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