A MAGIA DA
EXPRESSÃO LITERÁRIA
OFICINA –
MODULAÇÃO INTERATIVA – 11
* UM
PINGO DE “OS SERTÕES” *
UM PINGO DE “OS SERTÕES” – Mais do que
um meticuloso resumo de autoria da notável professora, poetisa e escritora
cantagalense Ruth Farah Nacif Lutterback, Um Pingo de “Os Sertões” supera a
expectativa autoral de que o conteúdo desta obra significasse apenas mais uma
vertente didática na introdução ao estudo de “Os Sertões” – essa inestimável
herança cultural que o cantagalense *Euclydes Rodrigues Pimenta da Cunha legou à
humanidade. Não se trata apenas de um “pingo” literário nos mares estagnados da
literatura do pré-modernismo brasileiro. Porém, em se tratando de Euclides da
Cunha, a iniciativa da professora Ruth Farah se transforma em
‘atitude-denúncia’ dotada de eficácia bastante a aumentar o volume do oceano
cultural que banha os espaços continentais alcançados pela obra do autor de “Os
Sertões”.
Estão aqui preservados a ordem do itinerário – A Terra,
O Homem e A Luta – e a denúncia social, política, jornalística e antropológica
dos contrastes culturais entre os dois “brasis” cruelmente revelados: o do
sertão e o do litoral. Ruth Farah lança luzes sobre a crítica ao nacionalismo
exacerbado da população litorânea que, cega para a realidade da sociedade
mestiça produzida pelo deserto, agiu com ferocidade criminosa contra a própria
raça: a autora chama a atenção sobre o grande tema de “Os Sertões” e sobre o
tom crítico com que se analisa o que séculos de atraso e miséria são capazes de
produzir em regiões geográfica e temporalmente separadas do resto do país –
lideranças fanáticas, delírios coletivos e inconformismos sociais.
A intenção de Ruth Farah até poderia ter sido a de
trazer a lume – numa síntese possível e fiel aos aplausos dos estudiosos – o
somatório dos três elementos fundamentais da tragédia nacional que, jornalisticamente
relatada por Euclides da Cunha nas páginas de “Os Sertões”, ainda hoje haveria
de levar a consciência da sociedade brasileira ao patíbulo do tribunal de
julgamento da História, por crime coletivo contra a humanidade. Aos nossos
olhos, Ruth Farah o conseguiu ao expor, com transparência e evidente
conhecimento de causa, os fatos, os importantes questionamentos e as grandes
formulações sociológicas, antropológicas, históricas e políticas, para que
compreendamos, com espírito mais crítico, o país de antes e de depois da
República, segundo os embriões sócio-políticos revelados por Euclides através
do processo de DENÚNCIA contra a realidade brasileira, então ainda deitada no
berço esplêndido do romantismo decadente.
Da síntese da autora extrai-se ainda o que a partir de
1902 (publicação de “Os Sertões”) tornar-se-ia evidente na literatura
brasileira, como os traços e condições reais do sertanejo, o ‘jagunço’, o
‘cangaceiro’, a ‘sub-raça’ do nordeste brasileiro: o herói determinista que
resiste à tragédia de seu destino fatalista e irreversível.
É inevitável a constatação de que “Os Sertões” é uma
das obras-primas da literatura brasileira. Como repórter de O Estado de São
Paulo, Euclides da Cunha testemunhou a Campanha de Canudos, uma luta sangrenta
contra os fanáticos que, chefiados por Antônio Conselheiro, ‘ameaçavam’ a
segurança das povoações vizinhas. Mas em “Os Sertões”, admiráveis foram os
estudos da terra e do homem do sertão nordestino, de suas ATITUDES na
demonstração da capacidade de resistência.
A exposição de Ruth Farah deixa claro que “Os Sertões”
foram uma obra que até hoje incomoda. Provoca e instiga. Estimula a pesquisa, a
investigação da verdade, as reações contra o conformismo, as idéias de
renovação de valores, os questionamentos político-sociais e a busca de
soluções.
Estamos, assim, diante de um Euclides da Cunha cienticifista,
historicista e naturalista – de um lado – que rompeu com o imperialismo
literário da época – de outro lado – e, em suma, deu início a uma análise
científica sem precedentes em benefício dos aspectos mais importantes da
sociedade brasileira. Nossos
incondicionais aplausos...
Afonso
Estebanez
Cônsul
de Poetas del Mundo para Cantagalo/RJ
*RUTH FARAH NACIF
LUTTERBACK (1932-2017), mais conhecida apenas como Ruth Farah, escritora, trovadora
emérita, professora e incentivadora da cultura regional, nasceu no município de
Cantagalo-RJ em 11 de abril de 1932. Seus três amores culturais: Cantagalo,
Educação e Euclides da Cunha. Já participou do Colóquio Internacional “Caminhos
da Memória” e recebeu convite da UNESCO pela sua opinião sobre a Paz Mundial
expressa em versos. Seu nome muito festejado se encontra em várias Antologias
Literárias, entre as quais a “Devemos Ver com os Olhos Livres”, com destaque
para “Um Pingo de os Sertões”, ressaltando a memória literária legada por
Euclides da Cunha, obra lançada em 2009, com apresentação de capa pelo poeta e
escritor cantagalense Afonso Estebanez
Stael, Cônsul de Poetas del Mundo em Cantagalo. Ruth Farah foi Delegada da UBT
(União Brasileira de Trovadores) em Cantagalo. Faleceu em 21 de fevereiro de
2017 e continua sendo celebrada em todos os movimentos culturais promovidos na
cidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário