domingo, 1 de dezembro de 2013
‘Rosas de Delos’ por quê?
‘Rosas de Delos’ por quê?
Relatam os historiadores,
dicionaristas e estudiosos eruditos
do mundo inteiro que a pequena ilha
de Delos (do grego Δήλος, Dilos), situada
aproximadamente no centro do grupo de ilhas
do Mar Egeu conhecido como Arquipélago das Cíclades,
era considerada berço de Apolo (do gredo Ἀπόλλων) e de Ártemis
(do grego Άρτεμις), deuses da antiguidade clássica. Era o santuário mais importante do período Pan-Helênico –
entre os anos 900 a. C. e 100 d. C. – registrado
na memória dos povos como um centro jônico
exuberante e florescente, chegando a ser
destacado, inclusive nos dias de hoje,
como um lugar sagrado, tratado pelos
visitantes com as reverências próprias
de um ambiente religioso, místico e
misterioso, cuja história, descrita
com tintas de amor e devoção,
está intimamente ligada às
relações de Apolo –
o deus do sol
– com Ártemis – entidade mitológica relaciona aos poderes influentes da luz da lua e responsável pela atividade
da caça, representada por uma imagem lunar
arisca e selvagem, constantemente seguida
de perto por feras e animais indomados,
especialmente por cães ou leões.
Daí a ala dos leões postados
na entrada da Ilha
de Delos.
A sagrada Ilha de Delos,
que os milhares de curiosos
do mundo inteiro procuram para
conhecer – com os olhos superficiais
da matéria – aquilo que só os olhos da alma
atenta podem enxergar, é uma ilha surpreendentemente
pequena, rochosa, granítica, desértica e banhada de luz do amanhecer ao anoitecer, pois ali nenhuma montanha ou vegetação produz sombras que possam abrigar
qualquer desejo de permanência no local.
Já em meados do século VI a. C., os
atenienses tomaram posse de
Delos e das ilhas vizinhas.
Foram ordenados
a remover todos
os corpos enterrados
na ilha e enterrá-los na ilha
vizinha. Desde então não foi mais
permitido morrer ou nascer na ilha, por
considerarem isso uma profanação a um lugar
sagrado. Sendo assim, as mulheres grávidas perto de
dar à luz e os enfermos graves eram habitualmente levados
para as ilhas próximas. Nos casos em que não era
possível evitar esses acontecimentos, todos os
habitantes eram obrigados a sair por vários
anos, de modo que a ilha fosse purificada
e possibilitasse o retorno
dos exilados.
Em 1873
arqueólogos franceses
começaram as escavações que desenterraram
um amplo setor onde um dia existiu uma cidade completa, elegante, rica e influente. As ruínas revelaram, esparramadas por toda a ilha, pequenos templos dóricos e jônicos, portos,mercados, ginásios, teatro, praças e imponentes residências edificadas pela cultura greco-romana, comprovando estar ali, em ruínas, uma civilização com um passado glorioso e florescente. E foram
justamente a prosperidade da ilha e as relações
comerciais com o Império Romano a causa
principal de sua destruição. Delos foi
atacada, saqueada e profanada
duas vezes: em 88 a. C. pelos
inimigos de Roma, e mais
tarde, em 69 a. C., pelos
piratas aliados aos inimigos da Grécia. A partir de então, a ilha
foi sendo abandonada gradualmente, vendo seu declínio
chegar melancolicamente
antes do tempo.
Hoje em dia,
as ruínas de Delos, de Delfos
e Olimpia são uma das mais importantes
heranças arqueológicas do mundo grego. Delos é
um verdadeiro museu arqueológico ao ar livre, com muito
para ver, pensar, inspirar e comover. E desde o século XVII da nossa era um número cada vez
mais crescente de pessoas
visita a Ilha de Delos, atraídas pelo seu venturoso
passado, agora convivendo com os fantasmas
dos escombros. Com algumas construções
antigas restauradas, Delos foi declarada
Patrimônio Mundial da Humanidade
pela Unesco em 1990.
A despeito de tudo,
a Ilha de Delos – hoje completamente desabitada – é um santuário natural onde se respira historia, mitologia, ciência, arte e cultura por todos os cantos desse templo de meditação.
Assim, por volta de 2008, comecei a meditar sobre
a possibilidade de empreender uma viagem
imaginária a ser feita de muito mais
do que de simples cartões postais,
imagens ou fotografias de Delos,
antes feita de lembranças de
jardins com rosas
ressuscitadas
dos escombros, de encontros repentinos de veredas florescentes,
vielas iluminadas pela luz azul abundante do céu mediterrâneo, secretos recantos embriagados de aromas inalados
por deuses transeuntes e canteiros suspensos
povoados de sensações de um passado que
jamais se esvai da alma de um poeta, uma
viagem a ser feita com a intenção de
transportar um pouquinho da Ilha
de Delos para a minha realidade
cotidiana – uma realidade feita
de sonhos possíveis no sonho
possível da realidade de
cada um de nós.
E foi pensando na ‘verdade’
das entidades mitológicas encarnadas
pelas musas a quem atribuo, como na Grécia Antiga,
a capacidade de inspirar a criação artística ou científica, que me
desembaracei de todos os preconceitos criados pela timidez
da mente e dei vazão à obra de construir as minhas
‘Rosas de Delos’, dispondo de meu coração como
local de cultivo e preservação da arte e da
ciência de promover o renascimento
de rosas de entre as ruínas
de jardins abandonados
em algum lugar remoto
da História...
Afonso Estebanez Stael
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